Capítulo 3

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LOUIS

O voo de Nova York até Portland, no Maine, é mais curto do que eu gostaria. Esperava que, no momento em que saísse do avião, já estivesse com os pensamentos em ordem. Que já teria me preparado para o modo "eu consigo!".

A realidade é muito mais próxima de um enjoo profundo, mas é tarde para voltar atrás.

O último e-mail de Desmond Styles informava que eu devia procurar por alguém segurando um papel com meu nome. Simples assim. Eu cresci na terra dos motoristas particulares. Em outras palavras, sou capaz de encontrar meu nome em meio ao mar de motoristas esperando na saída da esteira de bagagens.

Enquanto me desloco pelo aeroporto, procuro me colocar no estado mental adequado. Dessa vez, não vai ser um motorista particular. Vai ser um pescador de uma cidade pequena, usando camisa de flanela. Só que estou errado. Tem apenas duas pessoas segurando placas com nomes no desembarque e, como prometido, uma delas tem meu nome. Mas o homem em questão não é um pai preocupado e durão que se isolou para cuidar de seu filho ferido. O que vejo é alguém de uniforme preto, usando inclusive um quepe de chofer.

Talvez eu não esteja tão longe de casa, afinal de contas.

Fico surpreso com o tratamento refinado. Para a sorte dele, sou fluente em riqueza.

—Sr.Tomlinson. - ele diz quando me aproximo, assentindo.

—Trouxe mais malas?

—Só isso -  digo, apontando para minha malinha de bordo. —O resto vai direto para os Styles.

—Muito bem. - Ele pega a minha bagagem. —Vamos?

Tranquilizado pela familiaridade de toda essa rotina, eu o sigo pelo pequeno aeroporto. Eu não sabia qual era a vestimenta apropriada para um cuidador na Nova Inglaterra, então optei por calças pretas justas e uma malha azul. Ao ver o sedã de luxo, no entanto, fico feliz por não ter vindo de calça jeans. E pensar que eu estava preocupado em sujar minha malha numa caminhonete suja. O máximo com que tenho que me preocupar nesse carro é se devo ligar ou não o ar-condicionado.

O motorista coloca a bagagem no porta-malas e abre a porta traseira para mim, para depois se acomodar atrás do volante. Acho um pouco estranho o tratamento, já que sou um funcionário agora, mas não vou reclamar.

Os olhos dele encontram os meus pelo retrovisor. 

—Mick.

—Louis. - me apresento, abrindo um sorriso que espero que indique que ele pode relaxar. Talvez esse cara possa responder algumas dúvidas sobre quem são os Styles e o que exatamente esperam de mim.

—Eu sei - ele diz, simpático. Pelo menos não é de todo formal.

—E você... É motorista particular dos Styles? Foi contratado só para me impressionar na chegada?

Mick continua a me olhar pelo espelhinho e levanta as sobrancelhas quando percebe que não vou terminar a pergunta.

—Você é daqui? -  pergunto, perdendo a coragem.

—Nascido e criado no Maine - ele responde, depois de uma pausa para verificar os retrovisores e sair.

—Portland? - pergunto. É a única cidade que eu conheço. Além de Bar Harbor, onde vou ficar os próximos três meses, sobre a qual não sei nada. Na verdade, só se eu passar no teste dos Styles e eles pedirem para estender minha estadia. Mas se chegar a esse ponto, espero já saber o que quero fazer da minha vida. E espero já me sentir menos anormal.

—Skowhegan - Mick retruca.

Aceno a cabeça como se eu soubesse onde fica esse lugar. Mick parece ser um homem de poucas palavras, mas pelo menos responde minhas perguntas.

Em Pedaços ( Larry Stylinson)Onde histórias criam vida. Descubra agora