Capítulo 25

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LOUIS

Tá, vou dizer logo: a reação de Harry foi totalmente desproporcional.

Sim, posso ter passado um pouco dos limites pesquisando sobre ele. Se me arrependo? Com certeza .Mas ele está agindo como se eu tivesse vasculhado as gavetas dele no meio da noite. Não estamos falando de um diário —como se ele fosse manter um diário... Mas deveria ter. Talvez, assim, encarasse alguns de seus problemas e não agisse o tempo todo como se tivesse uma bengala enfiada no traseiro. A notícia que eu li era uma informação pública. E não foi como se eu a tivesse desenterrado— só precisei de doze segundos no Google. O que realmente me irrita é que, se eu não fosse tão burro, já teria pesquisado o nome dele antes de vir pro Maine, antes de aceitar esse emprego. Se o tivesse feito, talvez soubesse que Harry Styles tinha mais ou menos a minha idade. Teria visto sua foto e descoberto que havia sido dolorosamente lindo no passado. É claro que nada disso teria me preparado para o fato desse cara de vinte e quatro anos me atrair loucamente. Nenhum número de artigos genéricos teria me preparado para essa atração intensa e automática a ele. 

Mas eu saberia que seus ferimentos não eram apenas resultado de um ataque com explosivos improvisados ou uma emboscada. Se tivesse pesquisado, saberia pelo que passou. Tortura. Queria ter sabido antes. Não, queria que ele tivesse me contado. É claro que não dei chance a ele para fazer isso, mas como daria? Tá, talvez ele tenha o direito de estar bravo. Mas não sei como pudemos passar de dormir abraçadinhos para querer matar um ao outro na cozinha por causa de algo que não é tão importante no plano maior das coisas. 

Podemos superar isso. Só que Harry nem está falando comigo. Jogo a massa de pão no balcão e apoio as mãos no granito. Tento recuperar o fôlego e controlar meus pensamentos. Tem farinha em toda parte, mas nem ligo. 

—Você tem que literalmente botar a mão na massa, né?- Lindy diz, entrando na cozinha.  Volto a trabalhar a massa com indiferença, enquanto Lindy esvazia a bandeja com os restos do almoço de Harry.Dou uma olhada. Ele mal tocou o macarrão. Não está comendo. Só sei disso porque fico de olho em quanta comida Lindy joga fora, não porque comemos juntos. 

Mal o vi desde o confronto. Harry se esforçou para isso. Lindy não me perguntou o que aconteceu entre a gente — denovo —, nem reclama por ter de levar todas as refeições para ele quando sou paga para fazê-lo. Tentei explicar, mas ela só me deu um tapinha no ombro e disse que tem espaço de sobra na casinha, se precisar. Se continuar assim, vou mesmo precisar. Ouvir Harry gritar todas as noites e não ir até ele está me matando. Tentei uma vez, mas a porta estava trancada. Lindy e Mick devem estar se perguntando o que ainda estou fazendo aqui. Um cuidador que não tem nenhum contato coma pessoa de quem deveria estar cuidando? É uma questão de tempo até o pai de Harry aparecer para me demitir. Mas isso não vai acontecer, vai? Porque, nesse caso, Harry não poderia continuar com sua vida patética, se escondendo do mundo sem fazer nenhum tipo de contribuição à sociedade.

E daí se Harry está tão concentrado em se manter afastado do mundo que fez um trato inacreditavelmente infantil com seu pai? Eu não me importo. Só que isso não é verdade. Me importo tanto que parece me consumir fisicamente. É a primeira coisa em que penso pela manhã, quando vou correr sozinho. É no que penso enquanto tomo café sozinho, e quando almoço sozinho. É no que penso toda vez que pego minha velha biografia de Andrew Jackson e vou para a biblioteca, esperançoso de que dessa vez a porta não vai estar trancada. 

Ele se fechou por completo, e parte de mim deseja que me mandasse embora de uma vez para encerrar logo essa agonia. Está cada vez mais claro que Harry Styles não vai ter a absolvição pela qual eu estava esperando. Cheguei aqui esperando redescobrir minha humanidade — lembrar a mim mesmo de que ainda sou uma boa pessoa e posso me redimir pelo fato de ter feito tão mal para minha namorada. 

Em Pedaços ( Larry Stylinson)Onde histórias criam vida. Descubra agora