Capítulo 28

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HARRY

De todas as merdas que fiz na vida, e foram muitas, essa é a pior. Não sei o que achei que fosse acontecer. Que todos sentaríamos à mesa de jantar e eu ia me divertir com o melodrama se desenrolando à minha frente? Que Louis de repente ia se abrir, me contar todos os seus segredos e explicar o que exatamente a levou a aceitar um emprego de babá no Maine?

Seria de se imaginar que aprendi minha lição quanto a respeitar a privacidade de Lou depois de mandar a mensagem para Michael, mas sou um cretino. Fiquei ouvindo. A merda toda.

Louis traiu a garota perfeita com Michael. E ela teve um aborto. Eu forcei os dois a ficar cara a cara. Achei que eu fosse um babaca, mas essa palavra nem começa a descrever o que eu sou. Quando percebi o tamanho da desculpa que eu teria que pedir, Michael já tinha se mandado e Louis estava trancado no quarto.

Já passaram duas horas. Sei disso porque estou sentado do outro lado da porta há cento e vinte minutos. E ele está chorando durante todo esse tempo. Não de forma delicada. Estou falando de soluços de partir o coração. Fecho os olhos e apoio a cabeça na porta. O covarde em mim quer ir pro meu quarto, ligar pro meu pai e dizer que afaste Louis de mim, de modo que não possa prejudicá-lo mais.

Mas cansei de ser covarde. Preciso encará-lo.

Devagar, deliberadamente, levanto. Ergo a mão e bato na porta de leve, mas o choro não se interrompe. Bato mais forte. Dessa vez há uma pausa. Um pequeno soluço. Mas ele não abre a porta.

—Louis. - Minha voz sai rouca. —Posso entrar?

Estou preparado pra todas as respostas possíveis. Silêncio. Cai fora. Odeio você. Sai. Mas não para a porta se abrindo. E certamente não estou preparado para a dor que surge no meu peito quando a vejo. Mal noto os olhos inchados, o nariz vermelho e o cabelo emaranhado, pois concentro toda minha atenção na dor incomensurável estampada em seu rosto.

Faço a única coisa em que consigo pensar. Abraço Louis.

E ele deixa.

Fui eu quem causou essa dor avassaladora, e ele permite que eu o abrace. E é a coisa mais gostosa do mundo. Eu o conduzo mais para dentro do quarto só para que possa fechar a porta, então o trago para perto de mim. Louis enterra o rosto no meu ombro e chora. Não sei como ainda pode ter tantas lágrimas. Passo a mão em suas costas e em seus ombros do jeito mais tranquilizador que consigo. Então, enfio o rosto em seu cabelo macio. 

—Desculpa - sussurro, com os lábios em sua pele. —De verdade.

O desespero passa a um chiado, que passa a soluços fracos, que passam a uma respiração entrecortada. E então, finalmente, finalmente, Louis fica em silêncio, e se afasta de leve para me olhar. Fico tenso, pronto para as palavras que sei que mereço. Mas ele não me ataca, não me xinga. Não me diz em todos os detalhes que mereço a pior das mortes. (Mas eu mereço. Sei que mereço.)

Em vez disso, faz a última coisa que eu esperaria. Fala comigo. Descansa a cabeça na minha clavícula e só fala.

—Eu não queria, sabe? - Sua voz sai áspera por causa do choro. —Me perguntei um milhão de vezes se uma partezinha de mim sabia o que Michael ia me dizer... o que ia fazer... quando fui lá aquele dia. Mas, depois de tanto pensar, eu não iria se soubesse. Não teria me colocado por vontade própria nessa situação e magoado Eleanor. Se você tivesse visto o rosto dela...ele armou toda a situação. É claro, que não estava certo os encontros as escondidas, mas não precisava ser daquele jeito.

Louis estremece ao soltar o ar. Eu o puxo para mais perto, passando a mão em suas costas. Quero dizer que, em perspectiva, não é nada. Que ele vai superar, que Eleanor já superou. Mas sei que, para ele, é importante. Por isso, deixo que continue.

Em Pedaços ( Larry Stylinson)Onde histórias criam vida. Descubra agora