Capítulo 14

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HARRY

Confesso que minha pesquisa sobre Louis Tomlinson foi além dos dados básicos, como idade e local de nascimento. Posso ter vasculhado cada foto em que já foi marcado. Ou não.

E a estrela do show de Louis é Eleanor Calder. Uma garota que, faz muito tempo, está grudada nele em praticamente todas as fotos. Só que, alguns meses atrás, bum! As fotos do casal pararam. E agora no perfil da tal da Eleanor aparece um outro cara, bonitinho e descolado, o que me faz acreditar que não é muito provável que Louis e sua antiga namoradinha se reconciliem.

Eu não deveria me importar. Eu não me importo. A vida amorosa de Louis Tomlinson não tem nada a ver comigo, mas o timing é curioso. Ele larga a faculdade alguns meses depois de uma reviravolta na vida romântica? Foge pro Maine? Imagino que as duas coisas estejam ligadas.

A expressão de choque em seu rosto demonstra que o surpreendi com minhas informações dignas de um stalker. Mas não é a surpresa estampada em seu rosto que me intriga. É o lampejo de culpa.

Interessante.

—Como sabe sobre Eleanor? - ele pergunta.

Não foi difícil. Só tive que dar uma stalkeada.

Coço a perna distraído, enquanto o avalio. Na verdade, não está doendo tanto quanto eu esperava, mas o fato de um exercício tão simples ser tão difícil é uma lembrança terrível de como minha perna está fraca.

Não. De como eu deixei que ficasse assim.

Por mais que me odeie, odeio Louis mais ainda por ter me forçado a isso. Não só por causa da dor na perna, mas por constatar sua fraqueza. Se continuar assim, os próximos três meses vão me destruir. E, caso isso aconteça, vou destruí-lo também. Minha perna é meu ponto fraco, e estou apostando que Eleanor Calder é o dele.

—As configurações de privacidade das suas redes sociais são meio descuidadas - finalmente respondo.

—Não tenho nada a esconder. 

 Ele levanta um pouco o queixo.

—Ótimo. Então não vai ter problema nenhum em me contar sobre sua namorada.

—Ex-namorada - Louis me corrige, automaticamente.

—Ah - digo, embora já tivesse deduzido isso. —Vai, conta.

—Acabei de contar. Você me perguntou quem é Eleanor Calder, e eu respondi. É minha ex. Prometi a verdade, não um histórico completo da minha vida amorosa.

Massageio a perna de forma exagerada, como se dissesse "você me deve isso". Ele aperta os lábios por um segundo, o que o deixa com a aparência de ser um pouco fresco, mas ainda muito lindo.

—Então - me apresso, sentindo uma abertura. —Ela é toda a sua vida amorosa?

Louis faz menção de se virar, mas seus olhos pousam na minha perna e ele suspira. 

—Eleanor e eu crescemos juntos. Começamos a sair antes mesmo de saber o que significava namorar. Nossas famílias são amigas.

—Prometidos um ao outro ainda na barriga da mamãe?

—Mais ou menos isso - ele murmura.

—E o que aconteceu? Vocês dois pareciam um casalzinho de sessão da tarde.

Louis faz uma careta e cobre as mãos com as mangas compridas da blusa, de um jeito protetor e infantil.

—Terminamos. Acontece.

—Claro, mas se vocês estavam namorando desde cedo, precisa ter havido uma boa razão. A menos que só tenham se cansado um do outro.

Sei que não foi isso. Ele não ficaria tão tenso se eles tivessem apenas decidido seguir caminhos separados.

Seus olhos se estreitam. 

—Por que está tão interessado?

—Por que está na defensiva? - contra-ataco.

Mas, de fato, por que estou tão interessado? Digo a mim mesmo que é porque quero descobrir o que o tira do sério, para que a gente fique em pé de igualdade. E que não tem nada a ver com a estranha onda de ciúmes que senti quando vi os braços dele ao redor da cintura dela, ou a maneira como Louis sorria feliz e despreocupado como eu nunca o vi sorrir.

—Só estou garantindo que cumpra sua parte do acordo - observo, tentando apelar para seu senso de justiça. —Não quero que se sinta culpado por ter feito um pobre aleijado ficar com a perna dolorida a troco de nada.

—Você sabe que sua perna só vai melhorar fazendo exercício - ele retruca.

—Eu sei - concordo. —Assim como você vai se sentir melhor se falar com alguém sobre o assunto.

—O que isso quer dizer?

Dou de ombros e jogo as pernas para o lado para me levantar. Até agora, estivemos no mesmo nível, já que estou sentado e ele, de pé. Mas eu me levanto, tomando o cuidado de colocar o peso na perna boa. Mesmo com a ligeira inclinação para a direita, ainda fico bem mais alto que ele.

—Vou facilitar para você - opino. —Não precisa me contar o drama todo. Só quero saber: quem levou o pé na bunda?

É uma pergunta indelicada, mas já faz alguns anos que sou um cara bem rude.

Seus olhos parecem se perder por um tempo, mas quando volta a me encarar está calmo e inabalável. Bom garoto.

—Foi ela quem decidiu terminar - Louis revela, em tom baixo.

Pelo jeito que fala, sei que é só a pontinha do iceberg. Uma delas talvez eu já saiba, seria seu interesse por homens. Que ficava nítido pelo jeito que ele me olhava. Mas, tem muito mais nessa história por aí. Só que pra conseguir mais informações, preciso dar algo em troca, e não estou a fim de fazer polichinelos ou posar para fotos glamorosas das minhas cicatrizes, então não me aprofundo mais. Ainda.

—Tá bom - digo simplesmente. Aponto com a cabeça na direção das esteiras. —Agora vamos ver se você me ouviu.

—Quê? - ele pergunta, confuso com a mudança de assunto.

—As dicas de respiração que eu falei - respondo. —Vamos ver você em ação.

Ele inclina a cabeça um pouquinho, como se estranhasse a facilidade com que escapou da conversa desagradável, dá de ombros e vai para a esteira.

—Tá, eu mudei de ideia. Quero falar sobre o elefante na sala - Louis diz, levando a mão aos quadris.

Minha nossa. De onde surgiu esse tesão de ver esse garoto usando roupa de academia?

—Que elefante? - pergunto.

—Ah, eu não sei. Que tal o fato de que na noite passada você enfiou a língua na minha garganta e suas mãos no meu short?

O calor sobe pelo meu corpo, e eu foco toda a minha energia mental na dor na minha perna para a cena não se repetir de novo.

—Não vamos falar sobre isso - murmuro.

—Você é péssimo nisso, sabia? - ele diz, aumentando a velocidade da esteira. —Não é de estranhar que esteja solteiro. Quer dizer...

Abro a boca pra comentar que ele ficou claramente satisfeito com tudo o que fiz, e que, caso tivesse esquecido, eu ficaria feliz em fazer outra demonstração. Noto, logo em seguida, Louis tentando esconder um sorriso. Está me fazendo de bobo. Estreito os olhos antes de eu mesmo ajustar a velocidade da esteira.

Em poucos segundos, ele está correndo em uma velocidade que é impossível falar. Focar na sua corrida também me impede de fazer o que realmente quero, que é tirá-lo da esteira e me aproveitar dele antes que consiga sequer pensar em reclamar. Mas esse pensamento é logo substituído por um ainda mais perigoso. Da próxima vez que nossas bocas se encontrarem, quero que ele tome a iniciativa.

Quero Louis. Só que, mais do que isso, quero que ele me queira.

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Em Pedaços ( Larry Stylinson)Onde histórias criam vida. Descubra agora