Capítulo 19

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LOUIS

Beijei Harry. Beijei Harry, beijei Harry, beijei Harry.

Não foi a primeira vez, claro. Mas foi diferente agora. Nas outras duas vezes, ele só tinha me beijado com o intuito de me afastar.

Agora foi mais delicado. Mais quente. E infinitamente mais perigoso.

A pior parte nem é que eu beijei o cara de quem estou cuidando, e sim que quero beijá-lo de novo. E de novo...

Estou deitado na cama, tentando me convencer de que a razão pela qual deixei que isso acontecesse foi para compensar o mal que o babaca do bar causou. Queria mostrar a Harry que ele não é um monstro. Que ele não é motivo de piada. Queria que soubesse que é desejável, mesmo com as cicatrizes. E o mais importante queria saber sua historia. O porque daqueles insultos. Queria mostrar-lhe que eu me importo.

Mas estaria me enganando.

Não pensei em nada disso quando estávamos os dois cara a cara diante da lareira. Não pensei nos problemas dele, ou nos meus, ou em qualquer outra coisa além do fato de que eu o queria.

E ainda quero.

Levo as mãos aos olhos e suspiro quando o maior dos eufemismos passa pela minha cabeça: Essa não é a situação ideal. Não sei quando pego no sono, mas ao ouvir o despertador às cinco, sinto o baque mais forte do que nos outros dias. Desligo o alarme e me forço a jogar as pernas para a lateral da cama para não voltar a dormir. Quase não percebo que meus olhos estão pesados pela falta de sono, porque não consigo parar de pensar no fato de que Harry está dormindo pouco adiante no corredor, sem usar nada além de cueca, e a ideia me deixa completamente desperto.

Acendo a luz e vou até a cômoda em que fica minha roupa de ginástica. É quando uma caixa perto da porta chama minha atenção.

Uma caixa de sapatos.

Só tem mais uma pessoa na casa, o que significa que só esse alguém poderia ter deixado essa caixa na porta. Penso em Harry entrando no meu quarto, com seu abdome musculoso e seus braços fortes.

Se controla.

Pego a caixa. Uma sacudida rápida confirma: sapatos. Mas não algo sexy ou extravagante. Tênis de corrida. Brancos e sem graça.

Tem um post-it neles, com um recado escrito numa caligrafia masculina descuidada: Como você se recusa a seguir meu conselho, fiz o meu melhor para achar um tênis adequado à sua pisada. 

Por acaso é ridículo que eu me sinta todo derretido só porque um cara me comprou os sapatos mais feios do mundo? É. Eu sei que é.

Mas isso não tira o sorriso bobo do meu rosto. Ao olhar o relógio, percebo que vou me atrasar pra nossa corrida. Ele não vai ligar, porque estou sempre atrasado. Mesmo assim, me visto depressa.  Então, coloco o tênis, que é do tamanho certo. O cara deve ter pesquisado.

No pé, o tênis novo parece igual ao antigo, que pelo menos era bonito. Talvez eu só sinta a diferença depois de alguns quilômetros. Harry está sempre tagarelando sobre a importância de se prevenir contra contusões, e os calçados corretos aparentemente impedem a dor na canela, fraturas por estresses e essa bobageira toda.

Como eu sabia, Harry já está me esperando. Com as costas viradas pra mim, olha a água na penumbra antes do amanhecer. Usa uma camiseta azul-marinho de manga comprida e calça. Parece um ex-fuzileiro naval de vinte e tantos anos que está em forma, prestes a correr a qualquer momento.

A não ser pela bengala. Ainda não estou convencido de que precisa dessa bengala. Uma coisa é certa: não é um cara que vai sair correndo por aí.

Em Pedaços ( Larry Stylinson)Onde histórias criam vida. Descubra agora