Capítulo 15

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LOUIS

—Sabia que Andrew Jackson tinha mais de um metro e oitenta e pouco mais de sessenta quilos?- pergunto, sentando sobre os pés e me virando na direção da lareira.

—Sabia. 

Olho para Harry.

—Como poderia saber?

—Já li essa biografia -  ele diz, sem levantar os olhos do próprio livro, que me parece ser um volume enorme sobre filosofia.

—Sério?

—Não. Eu menti.

—Sério?

Isso faz com que levante o rosto, com os olhos cinza cheios de exasperação. 

—Está tentando me deixar louco?

Abro um sorriso bobo pra ele em um gesto de afirmação.

—Mas, sério, você leu esse livro ou não?

—Li, no ano passado. É bom. Você também vai achar se ler de verdade em vez de ficar puxando assunto a cada dois minutos.

É um bom ponto, e em teoria quero terminar o livro. Ler em frente à lareira no fim da tarde tem sido minha parte favorita do dia.

O único problema é que isso não se deve à leitura propriamente dita. São nessas horas de silêncio ininterrupto, mergulhado na leitura, que Harry abandona sua expressão assombrada. E, pra mim, isso é muito melhor do que qualquer livro.

É verdade que minhas interrupções para conversar meio que acabam com isso. Juro que tento deixá-lo em paz. Só que eu subestimei o efeito que a solidão teria em mim. Estava com tanta pressa de escapar do mundo que nem parei para pensar que muitas vezes a fuga anda de mãos dadas com a solidão.

Não estou totalmente sozinho. Tomo café com Lindy quase toda manhã, e vi Mick algumas vezes. Até tentei fazer amizade com as moças que vêm limpar a casa às quartas, e elas são bem falantes.

Mas minha verdadeira companhia é Harry. Já faz duas semanas que estou aqui, e, embora ele passe boa parte do tempo me evitando, eu o vejo pelo menos todas as manhãs para correr e fazer exercícios na academia, e toda tarde para ler na biblioteca. É isso que eu deveria estar fazendo mesmo. Sou pago para fazer companhia a ele, afinal de contas. A parte assustadora é que eu acho que ia procurá-lo mesmo que os cheques não caíssem. Acho que gosto dele. Como pessoa.

Não tenho certeza de que ele sente o mesmo, mas a cada dia que passa, fica um pouco mais fácil convencê-lo a conversar, então gosto de pensar que estamos progredindo, pelo menos no campo da amizade. E no outro campo... bom, ele não encostou mais em mim.

Nem uma única vez. Não desde aquela noite.

Digo a mim mesmo que isso é bom.

—Posso perguntar uma coisa?

Ele grunhe.

—Por que seu pai acha que você precisa de um cuidador? Quer dizer, você deixa bem claro que não precisa de ninguém aqui.

Espero que ele negue essa impressão, mas ele não faz isso.

—Falei no primeiro dia por que meu pai fica mandando vocês pra cá - ele diz, irritado.

—Por causa do negócio do suicídio? -  pergunto, incrédulo. —Olha, não quero ser leviano com um assunto sério, mas, do jeito que você é, não me parece ser alguém que desistiu da vida. Talvez de uma vida normal e sociável, mas não da vida em si.

Ele encara as chamas na lareira, e eu estudo a linha tensa da sua mandíbula. Ele sempre se senta com o lado "bom" virado pra mim, e seu perfil é lindo de morrer.

Em Pedaços ( Larry Stylinson)Onde histórias criam vida. Descubra agora