Capítulo 33

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LOUIS

Sabe aquele momento na relação em que tudo vai muito, muito bem, e você começa a pensar que nada pode dar errado, o que é um perigo, porque meio que garante que algo vai dar super errado, em pouquíssimo tempo? Pois é.

Mas...

Estou com dores na canela. Nem sabia que era possível, mas vamos apenas dizer que o trote de até cinco quilômetros dos últimos meses são uma espécie de aquecimento para Harry. A perna dele ainda não está em seu melhor. Ela continua incomodando quando pisa errado, então precisamos fazer um intervalo (ah, que pena!), mas, na maior parte do tempo, o cara é uma máquina. 

Corremos juntos quase todos os dias, desde aquela manhã em que me comprovou que ele podia correr. Embora eu ame cada segundo, não consigo mais seguir seu ritmo. É um jogo totalmente diferente, em que o novato se mata para acompanhar o quarterback e lenda do treinamento Harry Styles, que considera um trajeto de oito quilômetros "uma corridinha". Dizer que ele recuperou o tesão é pouco.

—Anda, Tomlinson! - Harry grita da frente da casa, com as mãos nos quadris, observando enquanto me arrasto até ele.

—Acho que quebrei a canela - digo, arfando.

Pelo menos ele se esforça para parecer compreensivo. 

—Dor na canela é horrível. Vamos pôr gelo e tirar um dia ou dois de folga.

Fico pasmo. 

—Com um ou dois dias espero que esteja falando de pelo menos uma semana. Minhas pernas estão destruídas.

Harry dá um tapinha na minha bunda quando passo pela porta.

—Você está bem. Eu sei disso porque tive as pernas de fato destruídas.

—Por quanto tempo vai usar essa desculpa, hein? - digo.

—Meio que pra sempre - ele retruca, com um sorriso.

Três meses atrás, eu apostaria minha bolsa Gucci preferida que de jeito nenhum Harry Styles brincaria a respeito de seus ferimentos. Não que seja assunto para piada. De jeito nenhum. Aquilo por que ele passou, por que todos os soldados passam, merece todo o respeito.

Mas talvez brincar com isso signifique que um dia a expressão assombrada que ainda surge em seu rosto pode sumir com o passar do tempo.

—Quer ver um filme? - pergunto, me apoiando no balcão da cozinha, enquanto ele pega dois pacotes de ervilhas congeladas e coloca sem cerimônia nas minhas canelas. —Tem um cinema por aqui, aliás?

—Claro. Fica entre o restaurante três estrelas Michelin e o shopping com lojas de marca. Nunca viu?

Faço uma careta. 

—Então, não?

Ele descasca uma banana e me entrega metade. 

—Na verdade, acho que tem um cineminha no centro. Ou pelo menos tinha.

—Eba! Quer ir?

Ele dá uma mordida na banana com seus dentes perfeitamente brancos. 

—Não.

Franzo a testa, ainda que já estivesse esperando isso. Ele nunca quer ir a lugar nenhum que não seja o Frenchy's. Por mais que diga a mim mesmo que não tem importância, que é só porque não tem muita coisa acontecendo em Bar Harbor, em algum lugar no fundo da minha mente morro de medo de que seja muito mais do que isso.

—O que tá rolando, Styles? Acho que até entendo por que não ficou animado com a sugestão de ir a Portland, mas você se recusa a experimentar qualquer restaurante, não quer visitar a Kali quando o namorado dela está lá, não topou passar o feriado de Ação de Graças com a minha família, não corre durante o dia porque tem gente demais, e agora nem concorda em ir ver um filme comigo?

Em Pedaços ( Larry Stylinson)Onde histórias criam vida. Descubra agora