29- Uma mulher (não) luta

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-Nia... quero dizer , Gardenia... seu chá.- Valentim chega com uma criada junto dele com duas xícaras e um bule de porcelana em um carrinho e este provavelmente era o nosso chá.-Ah por favor , peçam para que na frente desta janela grande tragam uma mesa com duas cadeiras. - O príncipe pede gentilmente a criada e ela acena com a cabeça para o príncipe indicando que entendeu.

-Não precisa disso.- eu digo sentada na enorme cama que era minha agora

-Então devemos nos sentar na mesma cama ?- ele me pergunta e eu penso

-Aqui tem bastante espaço.- digo olhando a cama

-Isto é sério ? - ele diz rindo.- Saiba que este ato é inapropriado senhorita

-Por que seria inapropriado?- eu decido testa-lo , vamos ver que tipo de homem ele é

-Você ainda contínua tão ingênua, como pode confiar em um homem ao seu lado em sua cama ?

-Mas, você é esse tipo de homem em que não posso confiar?

-Não me conhece Gardenia, bom, eu não faria nada com você de qualquer modo , isto é certo , mas qualquer um poderia tentar algo.- ele me diz como um sermão

-Tudo bem então ... mas não é inapropriado você estar aqui em meu quarto também ?- eu o peguei de surpresa já que ele não tem uma resposta

O silêncio foi quebrado com duas criada, uma chegando com duas cadeiras, e outra toalhas que provavelmente seria colocadas na mesa , e tinha morangos em um bandeja que estava na outra mão, e alguém me impressionou vindo junto.

-Valentim..- ele acena com a cabeça para o príncipe e para mim ele solta um sorriso

-Gardenia certo ? - ele me pergunta , e então percebo que ele vinha com uma mesa redonda e pequena e enquanto aguardava minha resposta ,ele coloca a mesa em frente a grande janela e volta a olhar para mim

-Isso , Gardenia... você é o Dar..lan..?- digo com receio já que eu não tinha habilidades para guardar nomes facilmente

-Isso.- ele diz e sorri.- Bom aproveitem o chá, e senhoritas estarei voltando ao meu serviço.- ele diz e da uma piscadinha para as duas que logo sorriem timidamente

-Obrigada Darlan , sempre nosso moço gentil.- as criadas diziam , elas eram jovens e com certeza Darlan era famoso por aqui entre as garotas, eu ouvia falarem dele , mas antes disso tudo acontecer eu nunca tinha visto ele.

Darlan sai do quarto e logo as criadas saem também dando risadinhas

-Na verdade , eu não acho apropriado você estar aqui , vão criar fofocas entre eu e você.- digo me sentando na mesa e colocando chá na minha xícara e na de Valentim

-Eu sei , mas precisamos conversar.- ele diz se sentando e eu suspiro e tomo o chá.- Sua cabeça está cheia mas eu queria te ajudar com isso tudo

-Agradeço a preocupação mas eu vou resolver minhas emoções.- eu digo calmamente enquanto ele toma o chá

-Não precisa fazer isso, sabe, somos uma família agora.- sei que ele está querendo ser fofo mas não sei se posso ver ele de uma hora para outra como família

-Certo, mas sabe que não somos uma família , sei que vocês estão felizes por finalmente me encontrar mas tudo o que tínhamos construído não temos mais , não tenho lembranças daqui, não muitas... perdi minhas memórias e eu queria recuperar mais delas, mas agora não sinto vontade de relembrar , não faz diferença.

-Isso vindo de você é muita grosseria , embora eu te entenda, que tal começarmos do zero.- ele diz e bebe o chá , claramente ele está chateado

-Mas para você não vai ser do zero , você se lembra claramente de mim. - eu digo e depois tomo mais chá, por um momento bebemos nossos chás em silêncio

-Tenho lembranças da antiga Gardenia , ela mudou e eu preciso conhecer quem ela é agora.- ele diz e eu me surpreendo com esse posicionamento dele

-Muito bem , então , vamos fazer isso , nos conhecer melhor e já que não tenho opção entre ficar ou sair deste castelo vou trabalhar para me encaixar aqui dentro.- eu digo e ele sorri , parece que ele ficou mais alegre com isso

-Fico feliz que quer tentar isso.- ele diz sorrindo

Ao terminarmos o chá ficamos nos encarando por um momento , não sabíamos o que fazer agora

-É estranho tudo isso agora, pensei que ao te encontrar teria algo entre nós , mas estamos distantes

-Concordo, achei que seria algo mais aconchegante encontrar uma família e minha real história.- eu digo em resposta

- Na verdade de aconchegante não tem nada neste castelo, posso afirmar que você terá hoje como um dia de luto , mas amanhã terá que enfrentar desafios como aulas de etiqueta , e como se portar ,se vestir , falar , e se quiser , pode redecorar este quarto e escolher suas roupas.- ele diz e pelo modo em que ele falou deve ser bem chato tudo isso

-Não me trate diferente agora, me trate como a Gardenia criada, sabe , parece forçado, tivemos vários momentos ruins...

-Eu na verdade estava frustrado por você se parecer tanto com aquela criança que eu cresci e que de repente foi arrancada de mim, sinto muito.- ele me corta , e pela voz e expressão dele, ele tinha se arrependido de ter feito aquilo

-Não tenho palavras para você no momento, ficará frustrado ainda mais ao me conhecer de verdade, não tenho jeito para isso , nem educação, tenho pouca noção de leitura, minha personalidade está mudando e isto é claro , este castelo fecha meu coração em todos os sentidos

-Não será fácil para você , mas uma princesa não precisa aprender a ler , ela só precisa ser perfeita em seus modos.- ele diz como se fosse óbvio

-Meu pai era soldado certo.- eu o pergunto

-Um comandante renomado , o melhor de todos até agora.- ele diz com orgulho

-Além de eu querer aprender a ler e escrever quero aprender a lutar.- eu digo e ele fica em silêncio , em poucos segundos ele começa a gargalhar.- Qual é a graça ?- eu o pergunto sem nenhuma expressão

-Mulheres não lutam.- ele diz rindo.- Você está achando que pode mesmo dar conta ? ler eu até entendo, mas lutar

-Se não me levar a sério eu irei diretamente falar com seus pais, não ria de mim , eu consigo , e eu quero

-Mas para que querer saber tanto ? Uma mulher não precisa disso de acordo com a sociedade.- ele diz me irritando

-Saia do meu quarto , como você disse , hoje é meu dia de luto e amanhã eu irei tratar isso com o rei e a rainha.-me digo levantando e colocando o bule de chá e as duas xícaras vazias no carrinho onde eles vieram , e Valentim só observa.- Não me ouviu príncipe , saia- eu digo apontando para a porta

-Pensei que a gente poderia começar do zero.- ele diz se levantando

-Quando me tratar com mais respeito e com seriedade podemos começar algo.- eu digo empurrando o carrinho até a porta

-Desculpe mas nem tudo que quer pode fazer, não seja assim, eu quero te ajudar.- ele diz indo ao meu lado na porta

-Não está ajudando agora , me deixe sozinha por hoje.- eu o empurro levemente para fora junto do carrinho e fecho a porta

Eu achei que iriamos poder ser amigos , mas ele não me levou a sério , eu quero aprender a lutar , porque eu quero me vingar de quem tirou a vida de Dora e proteger a vida de minha irmã, e também se meu pai era comandante por que a filha não pode ser? e se minha mãe sabia ler e escrever sendo uma dama de companhia , por que eu não poderia aprender sendo uma princesa ? se for para eu ficar aqui presa neste castelo , eu quero me ocupar e aprender o que eu quiser , e isto não me importa se para isso eu terei que aguentar homens e mulheres falando mal sobre minhas atitudes.

CONTINUAR...

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