II - NAYA

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Será que era sempre assim acordar ao lado dele? 

Os olhos do Heitor transmitiam mais vida do que qualquer outra coisa que já vi nessa vida. Apesar da cara amarrada e o humor difícil, que sei que era por tudo que passava, quem o olhasse viria um homem que gritava vida por dentro. Acho que nem ele sabia disso.

— Como está se sentindo?

— Estou bem, só com um pouco de dor nas costas.

Ponderei sobre levá-lo ao médico.

— É comum sentir dor ainda, pelo menos, no meu caso.

— Vamos tomar um banho. — ele sorriu — Você vai tomar café da manhã e depois toma o seu remédio.

Ia saindo do quarto.

— Eu já volto.

Na minha cabeça só passava o quanto essa família é complicada. O Daren não parece com alguém que sabe o que faz, o acho bem perdido sobre os filhos. É muita bajulação no João Emanuel e o Heitor é deixado de lado.

Ajudei o Heitor a sentar na cadeira e chegar ao banheiro. Essa parte foi a mais complicada para ele. Percebi quando ficou tenso.

Isso era tão difícil, queria ajudar e ao mesmo tempo sem ser invasiva.

— Te espero ali fora. Chame quando terminar.

Esperei uns quinze minutos e já abriria a porta quando ouvi o chuveiro aberto. Bati e entrei, o banheiro era amplo, eu mandei instalar barras de ferro para dar a ele mais segurança no banho. Ele já estava lá embaixo.

— Não me chamou.

— Já me sinto humilhado o suficiente. — jogou a cabeça pra trás e molhou o cabelo, peguei o shampoo ao lado.

— Não sinta isso, você passa por um momento difícil.

— Olha pra mim, Naya. Me sinto incompleto. Não sirvo nem pra mim.

Bateu nas pernas. Eu queria chorar, mas me controlei e lavei o cabelo dele. Me molhei toda, a camisola grudou no meu corpo.

— Oi. — ouvimos uma voz vinda do quarto.

— Estamos aqui. — gritei do banheiro. Um homem vestido de branco apareceu.

— Eu sou o Fábio, sou o enfermeiro contratado.

— Prazer, eu sou a Naya e esse é o Heitor.

— Prazer em conhecê-los também.

Senti seu olhar demorado no meu corpo, pediria que esperasse lá fora na sala.

— Pode nos deixar a sós? — ouvi a voz do Heitor.

— Sim, estarei no quarto para ajudá-lo.

— Não, nos espere na sala. — o Heitor falou firme. O enfermeiro balançou a cabeça e saiu do banheiro, ouvimos a porta do quarto bater.

— Nunca mais faça isso.

Fiquei confusa.

— Não me ajude mais, a forma que ele te olhou foi ruim. Se ele te agarrasse, eu não poderia te defender. Sou um inválido, Naya.

— Eu posso ficar como eu quiser na minha casa.

— E você está certa. Você pode ficar como quiser, até nua. Mas se ele quisesse algo com você, eu não seria capaz de te proteger. Ele te olhou com desejo, parecia que te devoraria.

SE ALIANDO AO AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora