III - HEITOR

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Fiquei puto da vida com aquele enfermeiro, assim que a Naya foi para o quarto se trocar, movimento a droga dessa cadeira até a sala, onde aquele infeliz estava.

— Você está demitido. — só queria esse homem bem longe daqui.

— Como?

Era burro, teria que repetir. Odeio gente burra ou que se faz. Odeio desenhar as coisas.

— Você ouviu muito bem.

— Posso saber o motivo da minha demissão relâmpago?

Odiei esse sujeito desde que o vi naquele quarto.

Se fossem outros tempos eu teria partido a cara desse idiota. Mas a minha realidade hoje era essa. Preso numa cadeira sem poder fazer nada.

— Não gostei do jeito que você olhou pra ela.

— Foi normal. — bufou — Foi natural. Relaxa, nem achei a sua mulher tão gostosa assim. Tem os seios muito pequenos.

Ouvir isso foi tão absurdo que seria capaz de matar agora. Eu queria me levantar do inferno dessa cadeira e partir pra cima dele.

— Nunca mais fale assim dela. Você deveria ter respeito pelas mulheres.

Esse sujeitinho asqueroso não sabia o quanto eu poderia ser vingativo. E eu era.

— Ué, eu respeito e gosto muito. — disse malicioso.

— Vou quebrar a sua cara.

Tentei levantar da droga da cadeira, mas o meu corpo não reagiu. Essas malditas pernas não me servem pra nada.

Ele começou a rir de mim.

Odiava os olhares de pena que venho recebendo nessa casa. Mas odeio muito mais o sarcasmo desse sujeitinho.

— O que foi? Não consegue levantar?

A fúria tomou conta de mim.

— Não agora. Mas quando eu saí dessa merda, vou partir a sua cara. Você está demitido, sai daqui agora.

— Estou nem aí.

Virou as costas e saiu batendo a porta. Ouvi a voz da Naya atrás de mim, tentei me controlar pra ela não notar nada de errado.

— E sai assim é? No meio do serviço? — ela não precisava saber do teor da conversa — Irresponsável.

Ela estava um pouco alterada.

— Ele foi demitido. — falei apenas isso e tentei manobrar a cadeira para a cozinha.

— Por que você demitiu o homem?

— Não gostei dele.

Que mania de querer saber tudo. Eu estava tentando protegê-la de alguma forma.

— Mas ele chegou agora. Como você pode dizer uma coisa assim?

— E não gostei do mesmo jeito. O doente sou eu, então eu escolho quem vai cuidar de mim.

Quero pelo menos poder decidir coisas básicas, já que todos me tratam com pena e como o inválido coitadinho. O inútil que é incapaz de cuidar de si e tomar qualquer decisão.

— Está certo. Eu vou ligar pra agência e pedir outros currículos e você vai entrevistá-los dessa vez.

Dei de ombros. Eu não me importava com isso. Tomamos o nosso café em silêncio, eu gostava assim. Acho que é porque sempre fui solitário, nunca tive com quem conversar muito em casa e no trabalho, eu tinha funcionários para desempenhar as suas funções da melhor maneira possível. As mulheres que eu dormia nunca permiti que ficassem para o café, seria um inferno depois para tirá-las da minha vida. Eu gosto de ser solitário.

— Trouxe uns currículos pra você ver.

A Naya tinha me levado para a varanda da casa que tinha uma vista bonita para o jardim e uma floresta.

Sentou ao meu lado e colocou o celular em minhas mãos, estava aberto no e-mail dela. Fui lendo com atenção.

Descartei uns dez com cara de idiota ou sem o pingo de respeito. Sei que poderia julgar errado, mas não queria nenhum engraçadinho andando pela casa e assediando a Naya.

— Escolhi esses. — mostrei a ela uns quatro currículos.

— Tudo bem, vou ligar pra agência e marcar.

Entreguei o celular e ela ligou para a agência.

— Amanhã à tarde você os entrevistará.

— Obrigado.

Segui para o quarto. Mas podia ouvir os seus passos atrás de mim.

— Heitor, vamos ao cinema amanhã?

A Naya estava parada a porta.

Será que ela não parecia ver a minha condição agora? Tenho a impressão que ela finge que não. Mas mente muito bem essa mulher.

Olhei pra ela e pensei o quanto ela deve fingir e engolir tantas coisas. Principalmente do meu querido irmão.

Ela continuava insistindo.

Eu só queria me esconder do mundo e voltar bom.

— Você já reparou como eu estou?

— Sim. Lindo, forte e vivo. O mais importante de tudo... Vivo.

— Muito engraçada, mas não quero ir.

— Faremos um cinema aqui então, vou chamar uns amigos e lotar o seu quarto. Se você não vai ao cinema, o cinema vem até você.

Só ela estava animada. Entendi o jogo dela.

— Não vou, Naya. Não tenho vontade e não me chantageei com isso. Eu só quero um tempo pra mim.

Vi lágrimas em seus olhos.

— Desculpa.

Saiu do quarto.

Não vi a Naya mais no final da noite e nem no jantar, mas eu sentia que ela estava em casa, só me evitava na própria casa dela.

Senti mal, eu nem percebi que a tratei com grosseira. Ela veio me ajudar a tomar um banho e deitar na cama. Não falou nada, parecia magoada.

Ela arrumou a minha cabeça nos travesseiros e se preparou para sair.

Antes que eu pudesse pensar melhor e assimilar a besteira que estava prestes a fazer, segurei a sua mão.

— Não vai dormi aqui?

Nem eu me entendia. Era uma amizade estranha que começava a nutrir por essa mulher.

Era assim que começava a vê-la. A Naya era a única a pessoa que me dava suporte hoje. Posso dizer que estamos nos tornando amigos.

Eu não odiá-la já é um bom começo pra isso.

Nunca me importei em saber da vida do João Emanuel. Na verdade, sempre detestei tudo que o Daren tem. Incluindo esse moleque mimado que nunca virou homem e a intragável da Adriana.

— Não, vou dar o espaço que você quer.

— Desculpa, Naya. — dessa vez não me doeu pedir desculpas.

— Boa noite, Heitor.

Saiu do quarto. Não vou mentir, fiquei decepcionado. Tentei dormir, mas não conseguia. Senti um peso na cama e um corpo quente próximo ao meu, abri os olhos e era ela. 

SE ALIANDO AO AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora