XVI - Naya

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Ignorei o Heitor depois do papel ridículo que ele fez outro dia com o Andrei.

Achei ainda mais ridículo ele vir com aquela conversa de que queria uma chance.

Mas infelizmente tive que aceitar a proposta do Daren de redecorar a empresa dele. Só fui mesmo por consideração, se fosse apenas o Heitor, eu não só teria recusado, como também, pediria a Julia para ir.

— Obrigado por aceitar.

— Posso começar agora se quiser.

Já estava aqui mesmo, preferi adiantar o que podia pra cruzar ainda menos com o Heitor.

— Claro, fica a vontade. Vou te deixar com a Paula. Estará em boas mãos.

— Por aqui, por favor.

Ela me mostrou algumas salas e comecei a fazer as minhas anotações.

— Naya? — o João Emanuel me abraçou.

— Oi.

— Pode deixar que eu continuo daqui, Paula.

Não sei se era uma boa ideia.

— Você não tem trabalho?

Ele sorriu.

— Pode esperar. Tudo por uma velha amiga.

Passou o braço pelo meu ombro e seguimos por um corredor. Lógico que ele tinha interesse, isso não era por amizade.

— Você pode começar por aqui. É o meu lugar preferido, depois da minha sala, claro. — era uma sala grande de convivência. Tinha alguns jogos.

— Continua o mesmo interesseiro de sempre.

— Algumas coisas se a gente mudar estraga. — segurou o meu queixo sorrindo.

— Pra quê mudar, afinal, não é?!

Ele continuou me dizendo o que esperava que eu fizesse pra deixar o lugar mais confortável.

— Aqui, pode deixar maior. Talvez outro sofá.

Me levou até um outro ponto da sala.

— Pode jogar fora esse quadro é horroroso.

Segurei o riso. O João Emanuel continua igualzinho achando que o mundo gira em torno das vontades dele e somente isso.

— O que vocês fazem aqui sozinhos?

— Olá, querida. — o João Emanuel beijou o rosto da Beth.

Ela tinha uma cara nada boa e sendo bem sincera, ela nunca me tratou muito bem nas raras vezes que nos encontramos por acaso na casa da Adriana.

— Oi, Beth. Como vai?

Fiz questão de ser educada pra ela ver o quanto foi ridícula.

— Desculpa, Naya. Eu cheguei assim do nada e vi vocês dois aqui sozinhos. Já pensei... Nem sei o que eu pensei.

— Você é muito desequilibrada.

— Eu não fiz nada. — ela tentou se defender — Ela é a sua ex-noiva e vocês tiveram uma história, agora ela voltou para o Heitor.

— Você está sendo ridícula. — precisei falar.

— Pelo menos não passei nas mãos dos dois irmãos.

— Tem razão e só me trouxeram infelicidade e tristeza. Mas não precisa achar que vou ficar com o seu marido, ele não prestava quando era meu noivo, hoje tenho quase certeza que não serve pra muita coisa. Pelo jeito não deve ter mudado nada.

— Naya, por favor, eu ainda estou aqui. Te peço desculpas por isso.

— Você se preocupa com ela. E eu? Chego aqui e encontro vocês juntos e você não se importa comigo?

— Não me importo. Você é uma louca. A Naya está trabalhando e você chegou sendo grosseira e nos ofendendo. Some e me deixa em paz, Beth.

— Isso é culpa sua. — a Beth falou irritada.

— Não me envolva entre vocês. Você bem conhece o seu marido. Vai brigar com ele. Me respeita.

O João Emanuel saiu enfurecido e ela atrás gritando pelos corredores. Senti vergonha dessa situação.

— Eles são assim, não se preocupa. — a moça que o Daren tinha deixado para me deixar havia voltado.

— É uma situação chata.

— Concordo, a dona Beth sempre aparece pra espionar o marido e fazer barraco. A senhora não é a primeira e com certeza não será a última.

Respirei fundo e continuamos o trabalho. Precisava me concentrar, eu era profissional e não deixaria que isso afetasse o meu desempenho, poderia falar que não ficaria mais e ir embora, mas não farei.

O João Emanuel que se resolva com a esposa dele e de preferência fiquem bem longe de mim.

— Tudo bem?

Agora era o Heitor.

— Com licença. — a moça saiu.

— Sim. Eu preciso trabalhar e vou adorar se você e o seu irmão não ficarem por aqui.

— Ei, calma. Só vim saber se precisa de alguma coisa.

— Preciso de respeito pra fazer o meu trabalho.

— A Beth não virá mais aqui.

— O caso não é esse, Heitor. Eu só não aguento mais essa história, volta e meia alguém ainda me ofende com o passado.

— Não podemos mudar o passado.

— Eu sei. Mas isso é cruel. A culpa que jogam sobre mim nunca foi a que deram ao seu irmão. Simplesmente apagaram tudo o que ele fez e eu sou a única culpada. A nossa relação teve muitos erros, o João Emanuel sempre me traiu e todos esqueceram, mas sobre mim não.

— Você tem toda razão. São pesos e medidas diferentes.

— E a Beth fez isso agora. Colocou o marido dela de santo e eu mais uma vez entre você e o seu irmão.

— Mas a gente sabe a verdade. Não dê tanta importância a Beth, ela sempre foi obcecada por ele.

— Só quero viver em paz.

— Não fica assim. — o Heitor me abraçou.

No começo fiquei sem ação, fui pega de surpresa.

— Estou, Heitor. Não precisava disso. — o afastei.

— Você já está bem mesmo.

— Amanhã eu volto ou outro dia. Preciso sair daqui.

— Não precisa fugir.

— Se enxerga.

O Heitor sorria.

As coisas eram estranhas e antes que piorassem, fui embora.

Bem melhor manter esse homem longe de mim. Não que eu quisesse alguma coisa com ele, mas o Heitor hoje não merecia nem a minha amizade pelas filhas que nós temos.

Pra que sejamos no mínimo amigos, ele vai precisar provar muito que mudou, coisa que eu duvido.

Para todos os efeitos será ele no canto dele e eu no meu.

Quando cheguei em casa a Adriana ainda nos convidou para ir até a casa deles. Só que o clima da tarde foi tão chato que preferi não ir. Ela gostava de ter todos em casa e os netos também.

Mas hoje não iria. A Beth estaria lá e não queria me aborrecer ainda mais com o que ela poderia falar na frente das crianças.

Isso é um assunto dela com o João Emanuel e acima de qualquer coisa no passado ela deve respeitar as pessoas, já que não tem respeito por si e ficar calada.

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