XIII - Naya

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Apenas observo.

O Heitor ainda se finge de bom pai, é um amor que até me impressionaria se eu não conhecesse o quanto ele não presta.

A Adriana e o pai dele estão numa felicidade que dá até enjoo de ver. Falsos. A Lorena realmente se adaptou bem mais rápido do que eu pensei e queria a essa casa e a essa nova família, ela adora a Helô e infelizmente, gosta do Heitor também.

— Ah, Naya, morar aqui não parece tão ruim assim?

— Quer trocar de lugar comigo?

A Julia achava que a minha situação era simples.

— O Heitor é um gato.

Às vezes eu perdia a paciência com a minha irmã.

— Tem certeza que não quer ficar no meu lugar?

Perguntei outra vez pra ver se ela se tocava que eu não estava achando graça.

— Até queria, mas aquele homem só tem olhos pra você. — sorriu — Ele te enganou só pra casar com você, se isso não é amor, eu não sei.

— Deve ser muito amor mesmo.

— A senhora não vai com o papai? — a Helô sentou ao meu lado.

Fiz uma expressão confusa.

— Hoje ele vai ao abrigo.

O Heitor aparecia na sala e a Helô correu para os braços dele.

— Vou ao abrigo. — ele deixou um beijo na testa da Helô e ela saiu sorrindo.

— Abrigo? — fiquei mais espantada ainda.

— Sim, Naya. Há alguns anos venho fazendo esse trabalho voluntário com pessoas em situação de vulnerabilidade.

— Desde quando você sabe o que é ter um coração bom e ajudar o próximo?

— Desde que parei de olhar só para o meu umbigo.

Bati palmas.

— Esse é o novo Heitor, né?! — tive que rir. Ele acha que me engana, enganou a Naya idiota do passado. A que está aqui hoje não.

— Você pode rir e não acreditar, só o tempo pode nos ajudar, Naya.

— Não acredito em nada que você fale ou faça.

— Preciso ir. Não volto muito tarde, provavelmente as crianças já estarão dormindo. Se você não se importar de cuidar delas sozinha até lá.

— Vai, Heitor. Some daqui.

Bastou ele sair pela porta que a curiosidade tomou conta de mim.

— Você é responsável pelas meninas. — apontei para a Julia.

— Como assim?

— Vou ver uma coisa.

— Naya?

— Preciso ver com os meus olhos mais essa mentira dele.

— Está certo, mas eu quero saber de tudo quando você voltar.

Seguir o Heitor não foi tão difícil assim. Na minha cabeça só passava o que ele falava há oito anos. Ele fingia ir ao médico e se encontrava com uma mulher, hoje não duvido que esteja se repetindo a mesma história.

Odeio mentiras e o Heitor parece se alimentar disso pra viver nas armações dele.

Quando ele parou num café comecei a sorrir.

SE ALIANDO AO AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora