IX - HEITOR

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8 anos depois


— Papai, acorda. — ouvi a voz da minha filha.

— Helô, deixa o papai dormir só mais um pouco.

Ela pulava na cama.

— Não, acorda papai. Daqui a pouco o vovô e a vovó vão chegar.

Se jogou em cima de mim.

— Filha!

— Levanta, papai! — gritou no meu ouvido. Sentei na cama desnorteado, eu fiquei surdo.

— Vai pra o banho.

Ela sorriu e foi se arrumar. Levantei e fiquei pronto para esperar o meu pai e a Adriana chegarem. A minha vida tinha mudado muito desde que a minha filha tinha chegado há seis anos.

Foi tudo muito triste, eu estava voltando do trabalho e o Elder dirigia, chovia muito e era tarde da noite, por volta das dez, paramos num sinal e uma mulher bateu na janela do meu carro, nós dois nos assustamos, ela pedia socorro.

Saímos do carro e ela estava grávida. Agarrou no meu terno e pediu para ajudá-la. Ela estava grávida e entrava em trabalho de parto. Não sabia o nome dela, soube apenas mais tarde, o nome era Rita, estava em situação de rua e devido a muitos problemas de saúde e falta de acompanhamento médico, não fez o pré-natal e nem se cuidou, veio a falecer no parto.

Não consegui deixar aquele bebê para ser entregue a casa de acolhimento. Pensei em mim e minha infância, mesmo com todo o conforto não tinha um pai nem uma mãe, e as nossas histórias eram parecidas, as nossas mães morreram no parto. Mesmo não conhecendo aquela mulher, me senti na responsabilidade de cuidar daquela criança e foi a melhor decisão que tomei em minha vida.

Eu mudei, virei outra pessoa. Eu tinha que ser um bom homem para ser um bom pai, eu criaria e educaria a Helô, dei esse nome em homenagem a minha mãe.

Quando a Helô estava prestes a fazer dois anos, fui atrás do meu pai e pedi perdão por tudo, até a Adriana que era odiosa gostava da minha filha. Estávamos a quatro anos convivendo bem, sempre nos víamos, a Helô ama os avós.

O João Emanuel cresceu e formou a família dele, hoje está casado com a Beth e têm dois filhos, nós ainda temos alguma coisa tensa entre a gente, ele disse que me perdoou, mas eu sinto que ele não me diz tudo. Enfim, estamos dando um passo de cada vez.

Não consegui encontrar a Naya mais, queria pedir perdão a ela também por tudo que a fiz sofrer, o meu pai disse que ela mudou para morar com a irmã e que a deixasse viver. Foi o que fiz, mas se eu a visse um dia, pediria o perdão dela.

Quanto a Cíntia, não tivemos chance, ela disse que suportava ser chamada de Naya, mas criar o filho de uma indigente era demais. Ela era muito preconceituosa, terminei com ela, não tinha chances de abandonar uma criança por causa do preconceito dela.

Quando tocou a Helô correu pra atender.

— Vovó. — se jogou nos braços da Adriana.

— Oi, meu amor. A vovó morreu de saudades de você também.

— Pai. — nos abraçamos rapidamente, esse ainda era um gesto novo para nós dois.

A Helô abraçou o meu pai e a Adriana beijou o meu rosto.

— Como vai, Heitor?

— Bem e você?

— Bem também. E o café dessa casa está pronto? Porque eu vou fazer aquele bolinho de chuva que a minha filha adora.

SE ALIANDO AO AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora