XXII - Naya

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— De tudo o que aconteceu pensei que finalmente teríamos paz. — a Adriana pediu que fôssemos a sua casa para conversar depois que o Heitor e as crianças não foram a festa dela.

— E eu? Vivo a minha vida e sempre os problemas chegam mesmo sem eu ter nada a ver com eles.

— Pensei que as coisas se ajeitariam agora que você está com o Heitor.

— Adriana, o problema não sou eu. Para de tirar a responsabilidade das costas do seu filho e jogar sobre os outros de coisas que são única e exclusivamente culpa dele.

— A Naya tem razão. O João Emanuel é assim por culpa de vocês. Ou devo dizer, você, Adriana.

— Eles estão certos. Criamos um menino mimado que nunca cresceu. Hoje o João Emanuel é um homem adulto e continua o mesmo irresponsável de sempre. Só que agora é pior porque ele tem filhos e um casamento.

— Não aceito ter errado tanto assim com ele.

— O seu orgulho e soberba não servem de nada.

Toquei o ombro do Heitor pra que ele ficasse calado, falar tudo isso seria pior. A cara da Adriana estava péssima.

— Como vocês ainda aceitam essa mulher aqui depois de tudo? — a Beth abriu a porta de uma vez.

— Beth, tenha calma. Estamos tentando resolver e entender o que aconteceu.

— O que aconteceu, Daren, é que vocês adoram essa vagabunda. Se esquecem quem ela é.

— Você é totalmente desequilibrada. — a Beth já tinha perdido a razão há muito tempo.

— Não me chama de louca. Agora além de traída, vocês ficam rindo de mim pelas minhas costas.

— Meu Deus! Ninguém se importa com você e as suas paranóias. Deixa de loucura. Ouve a razão, veja que não quero destruir nada, não quero o seu marido, só quero que me deixe em paz.

— Como é falsa.

— Você me cerca, me constrange no meu trabalho. Isso passou dos limites, Beth.

— Não sou idiota. Sei que você não é nada disso que fala.

— Chega. Vou trabalhar. Não dá pra conversar com você.

Perdi a paciência.

— Naya, ainda não terminamos.
— Outro dia, Daren. Hoje é impossível.

— Pode fugir, vagabunda. Você ainda vai ter o que merece.

— Fica longe dela. — o Heitor falou.

— Você não me coloca medo.

— Pois, então, tenha de mim. Estou perdendo a paciência com você. — falei. Essa mulher não tinha noção nenhuma.

— O que você vai fazer?

Ela me empurrou e o Heitor me segurou. Quase caí de salto no chão.

— Estou bem. Obrigada. — falei pra ele e já virei dando outro empurrão nela. Vi surpresa, ela não esperava.

— Moças, não briguem.

— A única que gosta disso é essa baixa. — apontei pra Beth.

— Ainda vamos acertar as nossas contas, Naya.

Sai da casa da Adriana e o Heitor me seguia. Não dava mais pra ficar lá ouvindo as sandices da Beth ou até mesmo ser agredida fisicamente por ela.

Essa mulher já me causou tantos transtornos e pelo visto irá para apenas quando o marido dela aparecer e falar a verdade.

Fui ao trabalho que seria melhor. Como precisava adiantar o escritório do Heitor, fui para lá com ele.

A Júlia não queria mais o projeto e dizia estar ocupada com outras coisas. Tudo sobrou pra mim.

Durante a tarde o Heitor surgiu algumas vezes perguntando se eu estava bem.

O Heitor me surpreendia.

Continuei o meu trabalho e pra compensar, fiquei até um pouco depois que todos foram embora. Ele estava lá também.

O Heitor não só falava que mudou, ele fazia o mais importante, ele mostrava.

Não adianta as palavras serem vazias, precisam ser preenchidas com as ações e isso ele fazia todos os dias.

As vezes não acreditava.

— Naya?

O Heitor apareceu mais uma vez e tentei não sorrir.

— Sim?

— O João Emanuel voltou. Que dizer, acho que nunca saiu da cidade.

Esse idiota passou dez dias longe deixando o inferno na minha vida.

— Onde ele está?

— Você precisa ver com os seus próprios olhos.

— Me leva até lá. Seja onde for.

O Heitor me parou segurando as minhas mãos.

— Você só não pode matá-lo.

Ele tinha um sorriso na boca.

— Me prometa.

— Prometo. Apesar da minha vontade ser de arrancar o cabelo dele.

— Naya, por favor. — o Heitor ria.

— Vamos logo.

Quando o Heitor abriu a porta pra mim, tentei passar, mas ele me empurrou.

Vi sangue saindo do seu braço.

A Beth estava com uma faca nas mãos.

— Heitor?

Corri até ele.

— Tá tudo bem.

— O seu braço. — o sangue descia pela mão dele.

— Você queria me matar. — joguei a minha bolsa na Beth.

— Nunca quis machucar o Heitor. Era você.

Notei que a Beth ainda iria me ferir, quando ela veio em minha direção, pude apenas morder o braço dela e a faca caiu no chão. Dei um tapa na cara dela.

Agarrei o cabelo dela e a joguei no chão.

— Olha o que você fez? Você podia ter matado ele. Matado duas pessoas. Você não tem noção? O que passou pela sua cabeça?

Ela saiu correndo.

— Heitor.

Tentei tocar em seu braço, mas ele reclamou de dor.

— Vou te levar ao hospital. Você vai ficar bem.

Me senti tão culpada, mesmo sem ter culpa. O Heitor se sacrificou por mim, podia ter morrido e agora me deixar sozinha.

Você está sozinha. Esse casamento não existe.

Mesmo que a minha consciência dissesse isso, ainda tinha uma briga dentro de mim dizendo que não era nada disso.

— Onde ele está?

O Daren estava péssimo.

— Lá dentro passando por uma pequena cirurgia.

— É pior do que você contou.

— Ainda não sabem a gravidade do ferimento. Ninguém falou nada ainda.

O Daren saiu para falar com alguém e a Adriana sentou ao meu lado.

— Muitas coisas ruins aconteceram nesses últimos anos nessa família.

— Foi culpa da Beth. Ela queria me ferir. Se não fosse o Heitor...
— Seria o João Emanuel. Você já causou muito nessa família.

— O que você quer dizer com isso?

— Considere ir embora. Nos deixar em paz. O Heitor era feliz sem você aparecer, o João Emanuel estava bem com a família que formou. Foi só você aparecer que tudo virou de cabeça pra baixo e a minha família se transformou nesse inferno.

— Não tenho culpa. Não faça isso comigo.

— Você tem culpa sim. Olha o Heitor? Ele podia estar morto.

— Foi a Beth.

— Mas isso só aconteceu por você estar mais uma vez envolvida entre os irmãos.

— Eu não tenho nada com o João Emanuel. Já falei mil vezes.

— Hoje é um lembrete da desgraça que você pode causar. Te peço por tudo que se afaste do Heitor. Deixa ele em paz, o Heitor é um novo homem hoje, mas você vai destruir o que ele lutou tanto pra se tornar.

— Não posso.

— Você prefere que uma tragédia maior aconteça? É bom que saiba viver com essa culpa. Estou livre por ter feito tudo o que pude.

Chorei porque mais uma vez tudo sobrava pra mim.

O Heitor não merecia nada disso, a Adriana tinha razão. Tudo deveria mesmo ser culpa minha.




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