Atualmente, 16 de fevereiro*--*--*--*--*--*--*--*
Presenciei explosões demais por uma vida só. Espero que elas acabem.
Algo me puxa para trás. É um empurrão tão forte que sinto como se fossem puxões. Milhares deles pelas minhas costas, me lançando direto ao chão. O som também não é muito agradável. Ocupa cada centímetro de espaço, reverberando e fazendo tudo tremer.
Sinto minhas costas doerem ainda mais. Meu antebraço esquerdo cai em alguma pedra e me vem uma dor aguda. Meus ouvidos zunem e eu sinto o vento batendo em minha pele, fraco, bagunçando meus fios de cabelo e balançando minhas roupas. Uma luz quase me cega.
O céu está enevoado e cinza.
Me rastejo, desesperado. Eu disse para eles descerem. Eu mandei.
Por que eles não desceram?
Não sei para onde ir. Balanço a cabeça. E de novo. E de novo. Não. Não pode ser.
Me encolho ao lado da linha com as mãos na cabeça e sinto pequenos resquícios da explosão caindo em partes aleatórias do corpo. Ouço barulhos fortes de metal batendo contra o chão. Quero me levantar e sair correndo, mas não quero viver sozinho.
Por favor, não.
Preciso olhar.
O trem tombou para a esquerda do meio até os últimos vagões, parado, e os vagões da frente sumiram.
Estou desesperado. Engasgo.
Os de trás estão intactos.
Meus pés latejam, do meio até os dedos, e minhas costas doem por completo, da espinha até os músculos. Minha respiração está pesada, e eu sei que qualquer movimento pode resultar numa dor maior.
Resolvo me sentar e quase grito. Eu, com certeza, bati o meio das costas em algum lugar. Fico ali, sentado, respirando ofegante, até ver os dois colocarem a cabeça para fora da abertura do último vagão, assustados.
Não preciso mais fugir sozinho. Acho que quero chorar.
Sibilo algo como “graças a Deus” e me levanto. Meus pés e minhas costas doem. Diminuo a velocidade.
Até três minutos atrás, as vidas deles estavam em jogo. Quase as deixei escapar pelas minhas mãos.
Está tudo bem, por agora.
A expressão deles apresenta susto, pavor e um pouco de dúvida. Dou um abraço demorado em cada um, me apoiando em seus ombros para reduzir um pouco o peso sobre minha coluna. Ela dói.
O contato entre nossos corpos é bom.
Uma mistura de alívio e raiva passa por meu corpo de forma estranha. Esse momento poderia não acontecer se o pior tivesse acontecido. E eles não desceram do trem.
- Eu disse a vocês para descerem!
Michael olha de volta para o trem.
- Me sinto melhor em saber que você também não subiu… - E dá um longo suspiro. - Meu Deus, que susto… Estava pensando sobre como você subiria, e… - Ele engole em seco. - Enfim… como você sabia que o trem ia explodir?
- Não importa - respondo. - Precisamos sair daqui, e logo.
Ele assente. Olho para além dele. Jolie ainda encara os trilhos.
- Estamos aqui agora, não estamos? - Michael diz, calmo, levando sua mão até o ombro dela. Jolie recupera sua atenção e nos olha.
- Sim, estamos… - Arruma alguns fios de cabelo.
Aos poucos, me acalmo. Minha respiração mantém um ritmo mais lento.
- Certo. Agora vamos sair daqui. Me conta o que aconteceu - ele diz.
- Mas para onde vamos?
Ele faz uma pausa e olha em volta.
- Podemos achar algum lugar, um campo de grama pequena ou sei lá no meio da floresta, pra passarmos a noite, depois pegamos o próximo trem para a cidade. - Ele hesita e olha para trás de mim, em direção à floresta. Ela tem gramas altas e árvores de altura média com folhagem densa. A mesma floresta que vi no trem hoje de manhã. Suponho que ela se estenda até bem mais longe do que aqui.
- O que farão com esse trem? - Aponto para o trem que está falecido à direita.
- Eu sei lá. Eles têm de resolver isso. Dependem dos transportes. Isso não é problema nosso. - Balança a cabeça. Ele soa indiferente.
- Bom, então vamos - digo, por fim. Preciso abandonar este cenário de caos.
Mais uma tentativa de me matar. Sinto um calafrio. Quase como se alguém estivesse nos observando.

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Rural
أدب المراهقين"Então eu também me viro e deixo ela para trás. Deixo as lembranças. Deixo minha irmã, deixo meu marido, deixo toda a minha vida. Deixo tudo. Bem, quase tudo. Porque o que sobrou ainda estou prestes a perder. Meu filho." Depois de ter sua vida e fam...