Atualmente, 21 de fevereiro
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Não consigo dormir. Na cama, observo a lua e seu brilho pela janela e penso. Nos dois toques.
Um da garota por quem acredito estar apaixonado. Outro pelo garoto que eu nunca nem mesmo imaginei.
E não me arrependo de nenhum dos dois. A cama tem cheiro de poeira.
O que é que está acontecendo na minha cabeça?
Nunca em mundos distantes eu imaginaria beijando Michael. Se bem que…
Eu pensava gostar de Jolie. Não, eu gosto dela. Eu juro que gosto. Mas, aparentemente, também gosto dele.
Quero fugir dessa sensação. Essa sensação de confusão, de prazer e frustração.
Por que ele tinha que me beijar?
Será que todo beijo é assim?
Guardo na memória cenas e linhas de como os beijos se parecem. Metáforas. "Arde como o fogo que cresce em mim." "Sinto-me flutuar." "Parece como o choque de mil planetas."
Nunca acreditei em tais clichês. Até agora. Senti um jardim crescer em mim. Foi assustador.
Quero voltar para aquela grama.
Quando a lua vai perdendo seu brilho e o dia começa a clarear, eu cochilo. Acordo com o céu azul e algumas nuvens acima de mim. Continuo deitado por alguns minutos, quando o pensamento da madrugada anterior faz subir um frio em minha barriga e acabo levantando.
Respiro fundo e sei que preciso tomar um banho.
Por sorte, encontro dois baldes ao lado do poço. O dia venta e está claro. Levanto o pescoço de olhos fechados e sinto o dia me atingir. A sensação é a mesma do dia em que derrubei um prédio e desapareci da realidade. Eu gostaria de desaparecer agora.
Penso em fazer uma fogueira para esquentar a água, mas não é uma boa ideia à luz do dia. Vou tomar um banho de água gelada.
Com roupas dobradas nos braços, uma toalha e uma bucha que encontrei no banheiro, cruzo o jato, algumas árvores e algumas pedras. Quando me certifico de que estou sozinho, faço os preparativos.
Primeiro, tiro os sapatos e os deixo à luz do sol. Depois, molho a bucha e tiro algumas partes da roupa, jogando água em mim. A água parece fria como gelo e a sensação não é boa. Depois de me esfregar um pouco, uso o resto da água para me encharcar e definitivamente me matar de frio. Me enxugo rápido e volto a me vestir, agora com roupas limpas. Uma camisa com vários desenhos, um calção cinza, uma cueca vermelha. Fora o frio, me sinto revigorado. A água escorre e some por entre a grama.
Volto com as roupas velhas, o balde e a bucha. Coloco as roupas em uma pedra ali perto e uso mais água para as lavar. Não sei se servirá de muito sem um sabão. Mesmo assim, as esfrego. A esponja é grande e dura. As roupas ficam mais escuras, e as coloco para secar junto com os sapatos.
Limpo e melhor, volto para o jato, que continua vazio e silencioso.
Vou até o banheiro. Quando entro, a porta range.
Me encontro em um pequeno branco - me lembrando o esconderijo. Uma privada e um cesto cheio de roupas. Logo à minha esquerda, um espelho e uma pia, com um suporte para escovas de dente repousada em sua beirada.
Olho no espelho e me encaro. Faz um tempo que não faço isso.
Olhando agora, eu vejo muito mais do que eu era. Vejo um garoto comum, com uma aparência parecida à pessoa que morava no esconderijo mas, agora, não a mesma. Meu rosto tem marcas de expressão que contornam meus ossos, como sempre tive, que ainda consideraria uma de minhas características sutis, se elas não parecessem tão mais cansadas. Meus olhos, o direito, castanho-claro, o esquerdo, verde, carregam uma expressão triste e violenta. As marcas em volta de minha boca carregam um ar de tristeza, eu não sorrio. Me sinto triste, corrupto e só. Não me sinto mais como eu era - alegre, divertido e simplesmente inconsequente. Agora estou mais ágil, atento e inseguro, mas também triste, com raiva e confuso. Perdi todas as minhas virtudes. Não sei mais quem sou.
Depois de escovar os dentes, lavar meu rosto e me aliviar, saio do banheiro sem encarar o desconhecido que me observa de volta.
Apesar de tudo, me permito descansar.
Gosto do dia que se passa. Fico a maior parte do tempo sentado em algum lugar. Com uma caneta e um papel na mão, faço desenhos de várias coisas que vejo. As árvores, algumas nuvens, algumas plantas. Quando vejo Michael se sentar na grama, desenho algumas borboletas.
Ele se sentou ao meu lado sem proferir uma palavra sobre o ocorrido da madrugada. Sei que de certa forma, eu também não deveria comentar sobre. Mas foi tão… tão…
Conversamos algumas vezes no dia de hoje. Nada fica diferente entre nós, com exceção nas vezes que penso no que aconteceu. Não conversamos sobre. Quando me sento com ele perto de algumas pedras, num momento rápido, ele me olha nos olhos e faz silêncio. Sou pego hipnotizado, como uma medusa. Ali eu percebo que há muito tempo seu olhar me prendia. Como não notei antes?
Respiro fundo e desvio o olhar.
Há muito tempo venho sentindo isso. Eu só não reconheci o que era. Não reconheci porque é diferente com Jolie. Eu sabia o que sentia por ela. Acredito que ela também saiba. Com Michael isso nunca aconteceu. Sequer vi a ideia passar por aqui. Numa madrugada, porém, tudo muda.
Tento entender onde isso se encaixa em mim. Eu deveria ter apenas um espaço cabível em mim. Quando olho para o jato, quero correr até Jolie. Quando olho para Michael, quero ficar aqui, com ele.
Isso não deveria acontecer.
É só nisso que penso no dia que se passa. E nos seguintes. Em momentos rápidos, me encontro sozinho com um deles, e depois com o outro. Eu deveria estar descansando a cabeça dos dias anteriores, mas não consigo.
Armazeno as sensações de estar com Jolie e de estar com Michael. Elas são completamente diferentes, mas não se anulam. Uma não é maior que a outra, ou melhor que a outra. Quando olho para um, é com ele que quero estar, mas quando olho para outra…
Não consigo me livrar disso. E é isso que me leva a evitar momentos a sós com qualquer um deles. E isso dura vários dias. É assustador.
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Rural
Teen Fiction"Então eu também me viro e deixo ela para trás. Deixo as lembranças. Deixo minha irmã, deixo meu marido, deixo toda a minha vida. Deixo tudo. Bem, quase tudo. Porque o que sobrou ainda estou prestes a perder. Meu filho." Depois de ter sua vida e fam...