Esclarecimentos (Part.02)

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— Oi amor. — Juliette falou, me abraçando por trás. — Quer conversar?

Vagarosamente a puxei para minha frente e segurei seu rosto com minhas mãos, fitando aqueles olhos castanhos, a minha imensidão onde eu tanto me perdia, como me reencontrava diversas vezes. Eu apenas balancei a cabeça em negação para a sua pergunta anterior e uni nossos corpos em um abraço, onde não era eu quem abraçava, mas ela que me abraçava. E ali eu chorei, chorei em silêncio, chorei em seus braços. 

— Acho melhor entrarmos, daqui a instantes, nós voltaremos. — Falei me desvencilhando dos seus braços.

Ela nada respondeu, apenas limpou minhas lágrimas e deixou um beijo em minha testa. A Ju sabia que não precisava das palavras dela naquele momento, apenas sua presença. E é verdade, o que eu menos queria agora era a ausência de quem eu amo.

Nós adentramos novamente na sala em que seríamos interrogados e eu me sentei no meu lugar, observando as interações humanas que me rondavam, enquanto eu permanecia quieta. Imediatamente a Srta. Magalhães e os demais voltaram, assumindo suas cadeiras presenciais.

— Todos sentem-se organizadamente, por favor. Para darmos continuidade ao nosso interrogatório sobre o caso do Sr. Evandro Andrade. — O Sr. Augusto proferiu em um ar solene. — Peço que a Sra. Maria Andrade e a Srta. Carla Andrade se retirem, para que voltem aos seus respectivos hotéis que foram encaminhadas. 

As duas saíram, despedindo-se da minha pessoa, mesmo de longe. Eu apenas assenti com a cabeça e recebi do Sr. André uma caneta e um bloco de notas. Estava chegando a hora de demonstrar o meu plano diante a todos.

— Srta. Juliette Freire, conte-nos o que aconteceu um dia antes da Srta. Sarah Andrade desaparecer. — A Srta. Magalhães tomou a fala. 

— Antes da Srta. Sarah Andrade desaparecer, fui eu quem desapareci. — Ela soltou um sorriso sem humor — O meu pai me sequestrou, me deixando em uma espécie de buraco cavado profundamente na floresta de Hoffen.

— E por que o seu pai sequestraria você?

Juliette parecia pensar em que resposta daria, isso com certeza, remetia ao seu passado que nem ela teve a oportunidade de nos contar.

— Quando eu tinha dez anos de idade, ocorreu um acidente. Eu era muito próxima a minha mãe e quando foi numa quarta feira, sem querer eu esbarrei nela e a mesma caiu de modo violento no chão e fraturou o crânio, vindo a óbito. — Ela respirou fundo, para poder continuar — Meu pai chegou e eu tentei explicar o que aconteceu e ele não quis acreditar, dizendo que a culpa era totalmente minha. Nisto, começaram as ameaças e os maus tratos. Eu fugi com treze anos para  a cidade de João Pessoa, na Paraíba, onde eu fui cuidada por uma senhora que me colocou em uma escola, me deu um lar e um trabalho. Depois, eu percebi que alguém estava me seguindo diariamente e era justamente ele. Em uma noite, saí discretamente, peguei um avião e vim morar em Hoffen.

A sala caiu em um profundo silêncio, tanto pelas lágrimas contínuas de Juliette, quanto pelo êxtase que a sua história causou em nós.

— Ele queria acabar com a minha vida, imitando um caso antigo que a própria Srta. Sarah descobriu. 

— Como e por quê a Senhorita Sarah Andrade descobriu? — Thiago interviu.

— Porque algumas semanas atrás ficamos encarregadas de um caso, em que denominamos como O Horripilante Caso da Fábrica de Doces. Onde um homem estava pendurado e havia duas crianças no local, rodeadas de doces, em uma fábrica de doces. — Ela riu ironicamente — Depois, outro caso da mesma índole. Os pais mortos e duas crianças em uma cisterna. A Srta. Sarah Andrade me comunicou logo quando se lembrou que o tinha lido em algum lugar e realmente estava certa. Depois, houve uma pausa de uma semana, nada tinha acontecido. 

— E você já tinha noção de que se tratava do seu próprio pai? — A Srta. Magalhães fitou Juliette.

— Sim, eu tinha noção de que poderia ser ele. Mas ao mesmo tempo não, porque como trabalhamos nessa área, nem sempre podemos interligar os casos com nossas vidas pessoais.

— Hum. E como foi o dia do seu desaparecimento?

— Eu tinha acabado de chegar em casa e o vi, bem a minha frente, ele com certeza me deu uma pancada e eu desmaiei. Acordei no lugar onde descrevi anteriormente, na floresta, sozinha.

— Sr. Gilberto Nogueira, você poderia dizer se teve participação direta ou indireta com a Senhorita Sarah Andrade nas buscas em relação a Senhorita Juliette Freire? — Sr. André proferiu calmamente.

— É, bom, então. — Ele gesticulava nervoso. — É que assim...

— Uma água para o Sr. Gilberto, por gentileza. — A Srta. Magalhães pediu ao segurança ao lado.

Soltei uma risada nasal e com um movimento suave nos lábios, pedi que ele ficasse calmo e falasse somente a verdade. 

— Bem, Sra. Magalhães, ou Srta. Me perdoe. — Ele gaguejava — Eu tive participação direta, mas assim, muito direta, direta mesmo. 

Ninguém se segurou na sala e caímos na risada. Tinha como odiar o Gil? Não tinha.

— Conte-nos como.

— Eu quem estava responsável pelas análises laboratoriais naquele dia e foi justamente eu que descobriu a identidade do nosso serial killer. Imediatamente chamei a bicha, ou quero dizer, a Srta. Sarah Andrade e o Sr. Higor para contar.

— Prossiga. — A Srta. Magalhães tinha um sorriso divertido nos lábios.

— Bem, a Srta. Sarah já tinha ligado os fatos da cachorrada toda e nós fomos atrás da Juliette no apartamento dela, a mesma não se encontrava lá. Um temporal devastador caía naquele dia e nós estávamos no carro da Sarah, tentando pensar em algo que nos levasse a Juliette. Foi quando a mesma pisou fundo, igual a saga de Velozes e Furiosos, conhece?

— Eu conheço. — O Sr. André falou animado — Inclusive, sempre quis tentar imitar o Vin Diesel. 

Meu Deus, o que é que essa sala virou?! Era isso que eu me perguntava cada minuto que Gilberto abria a boca.

— Pois é bicha, é por ai que a história vai. Nisto, ela se recordou do incidente da Floresta anos atrás. E fomos vasculhar tudo embaixo de um temporal, a noite. Até que a encontramos amordaçada e desmaiada. No início, eu constatei a morte da Juliette. Mas após a Sarah tentar de todas as formas, ela voltou a vida.

— Uma experiência da "quase morte", não é mesmo? — A Srta. Magalhães falou, fitando Juliette, que estava com o rosto corado de vergonha.

— E depois o que ocorreu? 

— Depois que deixamos a Juliette na ambulância, fomos procurar a Sarah e ela havia sumido.

E agora sim, entraríamos no meu mais precioso plano já criado.
Enquanto eles esclareciam detalhes passados, eu anotava e desenhava tudo o que eu precisava para esclarecer a mente de todos ao meu redor. Eu não precisava fazer isso, não queria ter que expor meus métodos, mas eles queriam se degustar da minha mente brilhante.

E algumas vezes, eu me dou o certo prazer de aumentar o meu ego. 

O Recomeço | SarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora