— Oi amor. — Juliette falou, me abraçando por trás. — Quer conversar?
Vagarosamente a puxei para minha frente e segurei seu rosto com minhas mãos, fitando aqueles olhos castanhos, a minha imensidão onde eu tanto me perdia, como me reencontrava diversas vezes. Eu apenas balancei a cabeça em negação para a sua pergunta anterior e uni nossos corpos em um abraço, onde não era eu quem abraçava, mas ela que me abraçava. E ali eu chorei, chorei em silêncio, chorei em seus braços.
— Acho melhor entrarmos, daqui a instantes, nós voltaremos. — Falei me desvencilhando dos seus braços.
Ela nada respondeu, apenas limpou minhas lágrimas e deixou um beijo em minha testa. A Ju sabia que não precisava das palavras dela naquele momento, apenas sua presença. E é verdade, o que eu menos queria agora era a ausência de quem eu amo.
Nós adentramos novamente na sala em que seríamos interrogados e eu me sentei no meu lugar, observando as interações humanas que me rondavam, enquanto eu permanecia quieta. Imediatamente a Srta. Magalhães e os demais voltaram, assumindo suas cadeiras presenciais.
— Todos sentem-se organizadamente, por favor. Para darmos continuidade ao nosso interrogatório sobre o caso do Sr. Evandro Andrade. — O Sr. Augusto proferiu em um ar solene. — Peço que a Sra. Maria Andrade e a Srta. Carla Andrade se retirem, para que voltem aos seus respectivos hotéis que foram encaminhadas.
As duas saíram, despedindo-se da minha pessoa, mesmo de longe. Eu apenas assenti com a cabeça e recebi do Sr. André uma caneta e um bloco de notas. Estava chegando a hora de demonstrar o meu plano diante a todos.
— Srta. Juliette Freire, conte-nos o que aconteceu um dia antes da Srta. Sarah Andrade desaparecer. — A Srta. Magalhães tomou a fala.
— Antes da Srta. Sarah Andrade desaparecer, fui eu quem desapareci. — Ela soltou um sorriso sem humor — O meu pai me sequestrou, me deixando em uma espécie de buraco cavado profundamente na floresta de Hoffen.
— E por que o seu pai sequestraria você?
Juliette parecia pensar em que resposta daria, isso com certeza, remetia ao seu passado que nem ela teve a oportunidade de nos contar.
— Quando eu tinha dez anos de idade, ocorreu um acidente. Eu era muito próxima a minha mãe e quando foi numa quarta feira, sem querer eu esbarrei nela e a mesma caiu de modo violento no chão e fraturou o crânio, vindo a óbito. — Ela respirou fundo, para poder continuar — Meu pai chegou e eu tentei explicar o que aconteceu e ele não quis acreditar, dizendo que a culpa era totalmente minha. Nisto, começaram as ameaças e os maus tratos. Eu fugi com treze anos para a cidade de João Pessoa, na Paraíba, onde eu fui cuidada por uma senhora que me colocou em uma escola, me deu um lar e um trabalho. Depois, eu percebi que alguém estava me seguindo diariamente e era justamente ele. Em uma noite, saí discretamente, peguei um avião e vim morar em Hoffen.
A sala caiu em um profundo silêncio, tanto pelas lágrimas contínuas de Juliette, quanto pelo êxtase que a sua história causou em nós.
— Ele queria acabar com a minha vida, imitando um caso antigo que a própria Srta. Sarah descobriu.
— Como e por quê a Senhorita Sarah Andrade descobriu? — Thiago interviu.
— Porque algumas semanas atrás ficamos encarregadas de um caso, em que denominamos como O Horripilante Caso da Fábrica de Doces. Onde um homem estava pendurado e havia duas crianças no local, rodeadas de doces, em uma fábrica de doces. — Ela riu ironicamente — Depois, outro caso da mesma índole. Os pais mortos e duas crianças em uma cisterna. A Srta. Sarah Andrade me comunicou logo quando se lembrou que o tinha lido em algum lugar e realmente estava certa. Depois, houve uma pausa de uma semana, nada tinha acontecido.
— E você já tinha noção de que se tratava do seu próprio pai? — A Srta. Magalhães fitou Juliette.
— Sim, eu tinha noção de que poderia ser ele. Mas ao mesmo tempo não, porque como trabalhamos nessa área, nem sempre podemos interligar os casos com nossas vidas pessoais.
— Hum. E como foi o dia do seu desaparecimento?
— Eu tinha acabado de chegar em casa e o vi, bem a minha frente, ele com certeza me deu uma pancada e eu desmaiei. Acordei no lugar onde descrevi anteriormente, na floresta, sozinha.
— Sr. Gilberto Nogueira, você poderia dizer se teve participação direta ou indireta com a Senhorita Sarah Andrade nas buscas em relação a Senhorita Juliette Freire? — Sr. André proferiu calmamente.
— É, bom, então. — Ele gesticulava nervoso. — É que assim...
— Uma água para o Sr. Gilberto, por gentileza. — A Srta. Magalhães pediu ao segurança ao lado.
Soltei uma risada nasal e com um movimento suave nos lábios, pedi que ele ficasse calmo e falasse somente a verdade.
— Bem, Sra. Magalhães, ou Srta. Me perdoe. — Ele gaguejava — Eu tive participação direta, mas assim, muito direta, direta mesmo.
Ninguém se segurou na sala e caímos na risada. Tinha como odiar o Gil? Não tinha.
— Conte-nos como.
— Eu quem estava responsável pelas análises laboratoriais naquele dia e foi justamente eu que descobriu a identidade do nosso serial killer. Imediatamente chamei a bicha, ou quero dizer, a Srta. Sarah Andrade e o Sr. Higor para contar.
— Prossiga. — A Srta. Magalhães tinha um sorriso divertido nos lábios.
— Bem, a Srta. Sarah já tinha ligado os fatos da cachorrada toda e nós fomos atrás da Juliette no apartamento dela, a mesma não se encontrava lá. Um temporal devastador caía naquele dia e nós estávamos no carro da Sarah, tentando pensar em algo que nos levasse a Juliette. Foi quando a mesma pisou fundo, igual a saga de Velozes e Furiosos, conhece?
— Eu conheço. — O Sr. André falou animado — Inclusive, sempre quis tentar imitar o Vin Diesel.
Meu Deus, o que é que essa sala virou?! Era isso que eu me perguntava cada minuto que Gilberto abria a boca.
— Pois é bicha, é por ai que a história vai. Nisto, ela se recordou do incidente da Floresta anos atrás. E fomos vasculhar tudo embaixo de um temporal, a noite. Até que a encontramos amordaçada e desmaiada. No início, eu constatei a morte da Juliette. Mas após a Sarah tentar de todas as formas, ela voltou a vida.
— Uma experiência da "quase morte", não é mesmo? — A Srta. Magalhães falou, fitando Juliette, que estava com o rosto corado de vergonha.
— E depois o que ocorreu?
— Depois que deixamos a Juliette na ambulância, fomos procurar a Sarah e ela havia sumido.
E agora sim, entraríamos no meu mais precioso plano já criado.
Enquanto eles esclareciam detalhes passados, eu anotava e desenhava tudo o que eu precisava para esclarecer a mente de todos ao meu redor. Eu não precisava fazer isso, não queria ter que expor meus métodos, mas eles queriam se degustar da minha mente brilhante.E algumas vezes, eu me dou o certo prazer de aumentar o meu ego.
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O Recomeço | Sariette
FanfictionSarah entrou na corporação como Investigadora Criminal Forense, com apenas 21 anos. Em seu passado, há um segredo que nunca foi contado para ninguém, além do seu grande amigo Giuseppe. Juliette Freire é uma desconhecida até então, que se encontra po...