Devaneios e Vida Real

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Voltei a dormir minutos após, porém, sendo acordada violentamente. Desta vez, pelo barulho infernal do despertador. Resmunguei algumas coisas enquanto me levantava a contragosto, lançando o despertador na gaveta. Minha vida nunca mais tinha sido a mesma depois daquele 15 de Julho. Eu nunca mais tinha tido um bom descanso, tão pouco uma boa alimentação ou alegrias que ao que parece, todo ser humano é programado para ter. Minha vida é algo monótono, se é que podemos chamar isso de vida.

Espantei de minha mente os meus devaneios por entre lembranças arrastadas e antigas. E logo estava de pé, arrumando o quarto bagunçado e prestes a fazer minha higiene matinal.
Eu morava sozinha, em um apartamento consideravelmente grande, me sustentava desde os meus dezesseis anos de idade. Sabe aquela frase “nada é tão ruim que não possa piorar”? então, essa é a frase ímã da minha vida.

— Filha? Está tudo bem? — Dizia Giuseppe me encarando com o cardápio na mão.

— Ah sim, sim. Está tudo bem sim, me perdoe! — Disse eu apressadamente, soltando um sorriso sem graça.

Giuseppe era o dono da G&J — Cafeteria, junto com a sua esposa, Jane. Na verdade, ele era um grande amigo, um verdadeiro pai. Já que ele fez questão de assumir esse papel desde a morte dos meus pais. Eu frequentava essa cafeteria desde meus doze anos de idade, e bom, agora eu tenho vinte e nove. Muita coisa mudou desde lá. O que era aconchegante e mágico, tornou-se ainda mais. Após algumas reformas, é claro.

Minha forma de agradecer ao amor e acolhimento do Gil e da Jane era simplesmente ajudá-los a manter o café. Certamente eles tinham uma boa clientela e quase sempre, negavam minhas investidas de dinheiro, mas mesmo assim, eu os convencia. Parece fácil, não é? Mas não quando se trata de um velho orgulhoso.

— Está distante hoje. Mais um sonho nesta manhã? — Perguntou-me sentando na cadeira à frente.
— Sim. — Respondi-lhe cabisbaixa.
— Já faz cinco anos, minha pequena! Por que não tenta seguir em frente? — Sorriu ternamente.

Enlacei minhas mãos nas suas, meus olhos marejavam uma outra vez, ainda sorrindo e com o coração apertado, eu o respondi entre palavras cortadas.

— Bem Gil... V-você sabe! Ainda dói como a primeira vez, sempre como a primeira vez. — Deixei uma lágrima cair.

— Permita-se, filha. Permita-se novamente. — Disse ele, enxugando as outras lágrimas que insistiram em cair — Você não teve culpa. Mas bem, mudando de assunto, antes de tomar o seu café e ir trabalhar, você não quer ir comigo na floricultura e me ajudar escolher algumas flores para Jane?

— Alguma data especial, Sr. Romântico? — Gargalhei.

— Bem, se for... Eu não lembro! — Soltou uma risada gostosa de se ouvir — Mas sei que minha esposa merece ser conquistada todos os dias. Ela é incrível! Você vem?

— Claro, mas só se depois você fizer aquelas panquecas que é a sua especialidade.
— Interesseira, né?! — Riu, levantando-se da cadeira.

Atravessamos a rua, enquanto eu segurava o braço de Giuseppe, estávamos inertes em uma conversa sobre a sua relação com Jane. Ele era um velho apaixonado, toda a rua sabia disso. Fazia o possível e impossível por Jane! Uma vez, quando a mesma estava grávida do James, quis comer beterraba com maionese e sorvete. Era exatamente três horas da madrugada, onde diabos encontraríamos beterraba, maionese e sorvete? Ele chegou na minha casa nesse mesmo horário, batendo desesperadamente e adivinhem? Implorou a todos do condomínio que dessem a beterraba a ele, enquanto eu pedia maionese e comprava sorvete na esquina. Entre risadas e lembranças, adentramos na aconchegante floricultura. Eu confesso que não entendia um dedo sobre flores ou algo do tipo, mas ao passar disso, ele explicava calmamente sobre cada uma. A Floricultura Una Rosa era um estabelecimento muito elegante, logo na entrada podemos vislumbrar o acabamento azul pérola nas paredes, com algumas mesas e cadeiras de madeira fora do mesmo. Ah! Não podemos esquecer dos belos arranjos e suas lamparinas penduradas ao lado.

O Recomeço | SarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora