A Floresta

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Dois em um.
É sobre isso.
E tá tudo bem? Eu acho que não.
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Antes de sair do meu apartamento, guardei novamente o corpo de Carol no subsolo e fechei qualquer porta que estivesse aberta pelo meu caminho. O plano escrito estava em uma lousa e sequer fiz questão de retirá-lo de lá. Nada mais importa.

Eu arrumava com pressa minha mochila preta, colocando algumas peças de roupas, comida e algumas coisas a mais. Foi quando me virei e vi a caixa branca, enfeitada com o laço vermelho, em cima da cômoda. Me aproximei e abri a mesma, podendo analisar a pulseira de berloques, o pote com a caixa de veludo que tinha nossas alianças, fotografias. A dor novamente invadiu o meu peito e eu chorei.

Chorei como uma criança sem o regaço materno no meio de um desespero. 

Havia um papel de carta e um envelope guardados na gaveta, eu não costumava guardar nenhum tipo de coisas como essas. Pelo menos, não mais. Mas Giuseppe me deu algumas para que se um dia eu precisasse, na hora certa, eu as teria. E bem, infelizmente a hora certa foi a hora mais dolorosa da minha vida.

Me despedir de Juliette.

Assim, com uma caneta em mãos, comecei a escrever e passar tudo o que eu sentia para o papel. Eu não tinha intenção de magoá-la, mesmo ela tendo me deixado estilhaçada por dentro. Eu nunca tive intenção de fazê-la se sentir triste, nem de enganá-la, nem nada disso. Eu queria mesmo era envolvê-la inteiramente em todo o amor que eu tinha conseguido reunir em mim de novo.

Mas pra que? 

Pra que? Eu me perguntava nesse exato momento. Para ela, eu era como um monstro. Mas eu me sentia tão fraca e vulnerável que aos poucos, aceitava essa ideia de ser realmente alguém ruim. 

Coloquei a carta na caixa e guardei tudo na mochila. Eu desci pelo elevador calmamente e me despedi do porteiro. Eu sentiria sua falta. Ele era magnífico, humilde e gente como a gente.

Ao sair nas ruas da cidade de Hoffen, vi uma pulseira caída no chão. Abaixei-me para pegá-la e bingo, era da Juliette. Ela tinha deixado cair, deve ter saído com tanta fúria que acabou tropeçando e não viu quando caiu. Eu não sabia se teria alguma oportunidade ainda de entregar essa pulseira em suas mãos, mas mesmo assim, guardei no bolso da calça. Depois, eu pediria para o Gil entregar pessoalmente.

Adentrei direto em meu carro, o temporal havia diminuído significativamente até então. Eu iria para a IPC, na ânsia de descobrir quem era o nosso homem que bancava o esperto durante todo esse tempo. No meu sangue, adrenalina. Em meus olhos, dor. E algumas vezes, a dor é o nosso único gás para cumprir uma missão.

— Sarah, estávamos esperando você.

— Direto ao ponto. — Falei secamente enquanto me sentava.

— Edivaldo Freire Feitosa, esse é o nome.

Eu e o Higor olhamos para Gilberto surpresos e incapazes de dizer algo.

— Freire? —  Perguntei confusa. — Tem certeza?

— Absoluta. — Falou com as mãos afundadas no rosto.

— Ele tem alguma ligação com a Juliette? — Higor questionou.

— É o pai dela. — Levantei-me a procura do livro que eu tinha deixado na sala.

— Porra. Por que? — Gilberto indagou me olhando —  O que tem a ver? O que ele quer?

—  Não creio que vocês sejam tão burros assim. —  Falei ásperamente. — O caso, porra. Não lembra? O diário, o caso que eu citei. 

O Recomeço | SarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora