Origem | parte II

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No capítulo anterior

"Connor subiu em seu cavalo e com um último e rápido olhar cavalgou para longe, seu grande corpo sumindo entre as árvores da floresta poucos minutos depois. Minhas pernas estão moles e com isso eu caio, amparando-me com minhas mãos que agora estão sujas de lama. Não escuto nada ao redor, nem pássaros ou o sussurrar do vento, somente o som do meu coração rachado.

Um toque suave em meu ombro foi capaz de me puxar de volta, rompendo a bolha. Ao encontrar o rosto da bruxa, a vejo sorrindo, um sorriso passivo, como se ela soubesse exatamente o que estava acontecendo comigo."

Melth, Irlanda, Novembro de 1847

O vento frio fez com que as cortinas rasgadas e manchadas da choupana soprassem ao redor como uma dança sombria, as árvores balançavam de um lado para o outro com ruídos de galhos chocando-se. O meu corpo estava quente, mas as minhas mãos geladas.

— Esta queimando de febre, não poderá retornar ao seu tempo desta forma, pode não aguentar. — A velha enxuga o suor da minha testa com o pano molhado de água fria.

— Me deixe. — Peço a velha mulher com um lamurio baixo, minha garganta seca demais para pronunciar qualquer som. Meu corpo fraco e débil estava pronto para sucumbir finalmente a, talvez, minha morte.

— Não pense nisso. — Ela diz, parecendo saber exatamente o que se passa em minha cabeça. — Você retornará ao seu tempo, Sophie. Connor não compreende tudo o que você fez, mas um dia ele irá!

Somente a menção do seu nome fez o meu corpo tremer. Lágrimas quentes deslizaram pelo meu rosto e os meus olhos arderam na mesma hora. Tudo o que eu mais desejei foi estar nos braços de Connor e fingir que tudo o que aconteceu nos últimos meses não passou de um pesadelo.

— Me deixe partir, por favor. — Suplico, mesmo sabendo que ela não me deixaria ir, não sem antes lutar.

— Jamais! — Brandou. — Eu a trouxe até o passado para consertar as coisas e transformar o futuro de uma vez por todas, não posso simplesmente deixar que se vá! Você comprometerá a existência de diversas pessoas, inclusive a minha!

Eu a olho de lado tentando compreender o que ela diz.

— C-como? — Minha voz fraca gagueja.

A bruxa bufou, jogando o pano molhado de suor em uma bacia de ferro.

— Existe certas coisas que você não precisa saber, Sophie. Somente tem que se agarrar a esperança de continuar viva e no seu verdadeiro tempo. O seu coração partido irá se curar, pode ficar tranquila quanto isso. — Ela se levanta, caminha em direção a uma mesa feita de rochas com o que parecia ser um punhal em sua mão. — Vou manda-lá de volta para o seu tempo, querida. Sua missão já terminou!

— Não! — Eu praticamente grito, sabendo que provavelmente não veria Connor nunca mais. Ao mudar o passado e impedir que Emma conseguisse fazer todas as atrocidades que já tinha feito, eu também alterei o meu presente e consequentemente o meu futuro, e neles Connor não existe.

A bruxa não me respondeu, recitando palavras que não compreendo de olhos fechados, ela levanta o punhal acima da sua cabeça segurado-o com as duas mãos, ao redor todas as velas se apagam com uma forte rajada de vento. Os cabelos da bruxa dançaram ao redor do seu rosto assim como seu vestido, a cada palavra proferida, mais forte o vento ficava.

Mesmo sem forças, sou capaz de empurrar meu corpo para fora da cama na triste esperança de conseguir fugir dali. Eu precisava encontrar Connor, precisava fazer ele acreditar em mim e principalmente que me amasse de novo.

Mas eu não fui muito longe. Uma queimação me pegou desprevenida, uma dor já conhecida começou a se formar em meu peito e a ardência foi se espalhando por todo o meu corpo. Um grito agudo foi ouvido por todos os lados no mesmo momento em que a bruxa enterrou o punhal em seu peito. Uma luz vibrante azulada preencheu todo o lugar, assim como o vendaval assustador. A dor massacrava o meu corpo, eu estava cedendo, sabendo que não conseguiria fugir dali.

Mãos firmes apertaram os meus braços e me arrastaram no chão para longe da bruxa. Meus olhos estavam grudados na sua imagem ensanguentada, que caiu no chão de joelhos no meio do que parecia um redemoinho azul. Ela balbuciou alguma coisa que não fui capaz de escutar e então, seu corpo se desfez com centenas de borboletas azuis batendo asas e sumindo pela floresta. A dor, que outrora estava me levando ao delírio, foi sumindo gradativamente, aos poucos, como se tivesse chegado ao fim o meu tormento.

— Você está bem? — Eu me viro rápido para o dono da voz em questão, sentindo o meu coração pular dentro do peito.

Connor está aqui, ele voltou para mim. Seu rosto tem um tom rosado nas maçãs e seu olhar está mais tranquilo. Seus cabelos desgrenhados e um leve arranhão em sua bochecha me deu a dica de que ele possivelmente tenha corrido até aqui.

— C-Connor? — Minha voz é vacilante. Ele olha em volta avaliando todo o estrago. As roupas da bruxa estão ensanguentadas no chão e algumas borboletas caídas em volta.

— Detesto bruxaria! — Murmura com raiva. — O que ela estava fazendo?

— Eu acho que ela queria me enviar de volta para o meu tempo. — Conto, me segurando nele com afinco. Eu não posso e não quero me separar dele. Não mais.

Olhando para Connor me passa um filme na cabeça de todos os momentos que já estivemos juntos, de todas as falas bonitas e doces que ele me disse, de como ele me fez sentir mesmo depois de eu ter jurado nunca mais me deixar envolver por ninguém como eu tinha estado envolvida com Febrick. O seu amor e a sua perseverança de que pudéssemos ficar juntos me motivou a percorrer o longo caminho que me trouxe até os seus braços. Embora para alguns seja como uma insanidade, a nossa história foi forjada na linha do tempo e tudo o que aconteceu tinha de ser. Estávamos destinados a ficarmos juntos.

— Venha. — Ele me ajuda a ficar de pé. — Vamos para casa. — Sussurra contra a minha cabeça, me apertando junto ao seu corpo.

Meu coração salta dentro do peito no mesmo passo que algo se rasteja em meu estômago. Seria esse o verdadeiro significado de felicidade?

— Você não está mais com raiva de mim? — Ele nos leva para fora da choupana, vejo o seu cavalo se aproximando de nós com as rédeas soltas, as patas enlameadas e relinchando ao encontrar com Connor. Ele olha para o meu rosto por alguns instantes antes de assobiar para o cavalo que o correspondeu rápido vindo ao seu encontro.

— Eu fui um tolo, é aceitável que você me odeie, sinto muitíssimo pelas palavras rudes que proferi, minha jovem dama. — Segurou as rédeas me levantando e pondo o meu corpo fraco em cima do cavalo. — Vamos para casa, vou cuidar de você.

— Eu não odeio você. — Connor tem um sorriso triste conforme seguimos pela trilha de terra. Meu corpo esta cansado e meus olhos praticamente se fechando sozinhos. — Jamais poderia...

— Vamos, durma um pouco... — Sinto sua mão acariciando os meus cabelos conforme andávamos. Ele guia o cavalo acompanhando o passo do animal. — Vou cuidar de você, Sophie...

Nota autora:
Ei galera, não me odeiem. Finalmente eu apareci nesse livro, não poderia fechar 2021 sem atualizar vocês da história.
Sou uma autora terrível, eu sei.
Passando aqui também para lembrar que vou atualizar Laoch com frequência agora. Com o final do ano ficou mais tranquilo de escrever e a inspiração para esse livrinho voltou com tudo. Quais são as apostas para esse capítulo?

Bjs e amo vocês.

Laoch, Amor além do tempoOnde histórias criam vida. Descubra agora