Laoch, Amor além do tempo

Origem

No capítulo anterior

"No passo em que ele nos deu as costas, notei a mão limpa da bruxa tomar a minha mão. Olhei para o seu rosto, buscando entender o que seria feito de mim a partir de agora.

— Nos resta apenas destruir Emma, querida. — Ela disse, indicando com sua cabeça a mesa velha ao lado de uma lareira feita de pedras, que estranhamente estava acesa. Eu não havia sentido o calor do fogo irradiando pelo lugar durante todo o tempo em que estive aqui.

— Eu... — Minha voz sai incerta, meus olhos alternando entre a bruxa e os passos deixados para trás de Connor. — Eu...

Ela tem um leve rubor em suas bochechas ao soltar minha mão, indicando-me a saída.

— Não demore, — Pediu. — Temos algo que precisa ser feito e não podemos deixar tardar.

Balanço minha cabeça confirmando, sabendo que não levaria mais do que alguns minutos para retornar. Eu precisava olhar no fundo dos olhos de Connor bem de perto para saber se ele algum dia poderia me enxergar de verdade."

Melth, Irlanda, Novembro de 1847

Eu o avistei de longe segurando as rédeas do seu cavalo sinuoso. Os raios alaranjados que atravessam a copa das árvores deixam os seus cabelos acobreados ainda mais brilhantes. Eu sinto, no exato momento em que os nossos olhos se encontram, que ele é o único homem que irei amar por toda a minha vida, seja lá quanto tempo isso durará. Mesmo que este Connor não esteja nem um pouco interessado em mim, mesmo que o Connor que me encontrou na faculdade me ame sabendo exatamente quem eu sou, mesmo que tudo isso tenha um fim ruim, ainda assim eu o amo. Muito mais do que sou capaz de conseguir descrever.

Ele não fez qualquer movimento no momento em que percebeu que eu estava me aproximando. O seu cavalo permanece no mesmo lugar, Archie já não estava mais por lá. Eu sinto a necessidade de correr e agarrar-me a ele como se fosse a minha tábua de salvação, sinto a necessidade desesperada de ter os seus lábios nos meus, sentir o gosto do seu beijo molhado e saber, definitivamente, que compartilhávamos do mesmo sentimento. Porém eu sei que desejar não era a mesma coisa que poder.

— Você ficará com a bruxa? — Me surpreendo com a sua pergunta, imaginei que ele não iria me querer mais por perto uma vez que sabe que não sou Emma McDonald e sim uma versão bizarra da sua alma que veio do futuro impedir que ela fizesse mais estragos. — Digo, você não voltará para o seu mundo?

Meu mundo?

— Eu não faço ideia do que acontecerá de agora em diante. — Confesso, tomando meu tempo para olhar todos os traços do seu bonito rosto. — Eu gostaria de ter todas as respostas e principalmente que você não fosse tão atingido por tudo isso.

Ele inclina uma sobrancelha como se o fato deu estar pensando no seu bem estar fosse algo seriamente estranho. Claro, talvez Emma nunca tenha se preocupado com isso, talvez ele não estivesse acostumado com demonstração de sentimentos. Neste momento da história as pessoas são tão ou mais frias do que de onde vim.

— Não tens nenhum dever comigo, jovem Sophie. — Ele diz impassível. — Emma já fez todos os estragos possíveis, porém, não tens que sentir pena de minha pessoa.

Aquelas palavras ditas por ele, de maneira certeira, foram direto para o meu coração. Connor parece desolado, vejo tristeza e desapontamento em seus olhos. Ele não tem culpa de ter se apaixonado por Emma, a mulher mais cruel que já conheci em minha vida, e infelizmente tenho um pedaço da sua alma. Me pergunto o que será de mim daqui pra frente.

— Eu-eu só pensei que... — Ele me corta com um breve aceno de mão, seus olhos fechados e uma respiração tranquila. Connor tem uma face cansada, como se toda essa história tivesse levado tudo dele, o melhor e o pior.

— Você é muito bonita, tens o rosto e o corpo daquela desalmada, porém, seu coração é puro e sua bondade me acalenta. Não posso deixar que sua pureza seja destruída por um homem como eu. — Ele diz impassível. — Vá, retorne ao seu tempo, volte para a vida que tinha antes de entrar nesse mundo de magia e loucuras. Emma arruinou muitas coisas, o meu coração também foi com ela em seu caminho para a glória, mas não deixe que ela seja capaz de te arruinar também.

Não faço ideia sobre o que ele quer dizer com isso. Connor acredita que eu seja pura e que ele seja alguém que me corromperá, isso por si só já é um grande absurdo. Eu quero me jogar nos seus braços e degustar dos seus lábios, quero me afogar no seu perfume e enrolar os seus cachos acobreados com os meus dedos. Quero dar a ele amor e afeto, quero que ele seja meu de todas as formas.

— Não torne a me procurar, jovem Sophie. — Suas palavras são duras e cortam o meu coração. — Tens uma vida e eu não faço parte dela. — Corta de dentro para fora, sinto a dor e ela me envolve em uma grande bolha.

Parece que as palavras ficaram entaladas em minha garganta, meu coração que outrora batia descompensado, agora parece não existir mais. Ou pelo menos não o sinto bater na mesma frequência. Consigo ouvir o ruir dele, lentamente, como um disco sendo arranhado. Sera aquela a sensação de ter um coração partido?

Connor subiu em seu cavalo e com um último e rápido olhar cavalgou para longe, seu grande corpo sumindo entre as árvores da floresta poucos minutos depois. Minhas pernas estão moles e com isso eu caio, amparando-me com minhas mãos que agora estão sujas de lama. Não escuto nada ao redor, nem pássaros ou o sussurrar do vento, somente o som do meu coração rachado.

Um toque suave em meu ombro foi capaz de me puxar de volta, rompendo a bolha. Ao encontrar o rosto da bruxa, a vejo sorrindo, um sorriso passivo, como se ela soubesse exatamente o que estava acontecendo comigo.