CAPÍTULO 2

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Maria Clara


Desempregada.

Essa era a palavra do mês. Eu estava desempregada. Não que eu fosse apaixonada pelo que eu fazia na agência de fotografia de Woo - marketing não era nem de perto o que eu havia sonhado para mim, mas era tudo que eu precisava para me manter. E pagar minhas contas. E sobreviver.

Minha sorte é que eu sempre mantive uma reserva de emergência, então conseguiria aguentar pelos próximos meses até encontrar um outro emprego. Mesmo assim, aquilo era um pesadelo. Eu gostava da minha rotina, gostava do meu ambiente de trabalho. A ideia de perder tudo era levemente nauseante.

Eu morava num pequeno apartamento pitoresco que cheirava a eucaliptos e manjericão fresco num bairro boêmio no mesmo prédio que Cadu e Mariana. Ele tinha sido um achado e tanto e graças aos meus amigos, eu tinha conseguido fechar o aluguel pelo mesmo preço exorbitante do meu apartamento anterior – que definitivamente não cheirava a eucaliptos e manjericão fresco e não era nem de perto tão bem localizado. Daqui, eu podia ir andando para o trabalho todos os dias e economizar ainda mais dinheiro. Não que eu precisasse me preocupar com isso agora, já que eu não tinha lugar nenhum para ir. E nem dinheiro para entrar.

Que grande bosta.

Duas batidas firmes na minha porta me despertam do meu transe autodepreciativo, e me arrasto do sofá, vestindo nada mais do que meu pequeno short de dormir e minha regata branca de alças fininhas que não apertavam meus peitos generosos. Minhas meninas podiam ser inconvenientes, mas eram bonitas de se olhar e não mereciam ficar enclausuradas num sutiã de ferro o dia inteiro. Principalmente na manhã de uma sexta-feira – mais conhecido como o melhor dia da semana. Quando se tem um trabalho. E dinheiro. E um lugar para ir. E companhia.

Merda. Até minha sexta estava depressiva.

Ajeito meus cachos compridos por sobre meus ombros para cobrir meus mamilos alegres pelo vento fresco que entra pela janela, e me certifico que a porta está trancada antes de me inclinar para o olho mágico e ver quem estava batendo. Segurança nunca era demais. No entanto, tudo que encontro é o rosto sorridente do meu vizinho de cima, segurando uma sacola que conheço muito bem nas mãos.

- Bom dia, Bela Merida. – Cadu diz, assim que abro a porta. Ele está vestido com um conjunto de terno vermelho e sapatos de grife, cheirando a perfume caro. Poderia ser modelo se quisesse, mas trabalhava como assistente da Aninha numa multinacional fodona. Ele era um gênio da tecnologia e da moda. Quase uma fada madrinha cibernética.

- Esse nome não faz o menor sentido. – É o que me limito a dizer, lhe dando passagem para dentro do apartamento.

- Você é a mistura perfeita de Bela e Merida.

- Por que eu sou uma antissocial que fala com objetos e curte zoofilia e uma aristocrata arrogante com problemas de atitude? – pergunto, indo até a geladeira para tomar um copo gelado de água.

Cadu me olha horrorizado com seus olhos esverdeados. Eu tenho que segurar a vontade de rir. Era bom demais deixar as pessoas com essa expressão chocada.

- Eu ia dizer uma beleza delicada mas ao mesmo tempo selvagem com tendências a se apaixonar por homens ferozes. – Ele me corrige, irritado. – Mas podemos deixar a parte do antissocial e os problemas de atitude. – Ele diz, balançando a cabeça, o que me faz sorrir um pouco.

- Espero que você não tenha comprado nada feio para mim. – Eu digo, apontando a sacola. E ele abraça o grande embrulho, como se protegesse um filho.

REDENÇÃO - Irmãos Fiori: Livro III - COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora