CAPITULO 29

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MARIA CLARA


Uma semana.

Uma semana desde que os pesadelos haviam começado novamente.

Uma semana desde que o grito dolorido de Salvatore havia chegado até meus ouvidos, arrepiando minha espinha num sussurro perverso.

Eu vinha tentando ser profissional após toda a cena no quintal de Mama, e eu estava particularmente muito orgulhosa de mim mesma. Chorei apenas duas vezes no banheiro. Uma após Natália tentar defender Salvatore, e outra quando Salvatore deixou uma torta de limão na minha porta após um de nossos treinos matadores. Eu estava uma bagunça total.

E estava completamente apaixonada.

Talvez por isso, por cada batida estúpida do meu coração que pareciam sussurrar seu nome, eu estivesse me odiando tanto agora.

Salvatore sempre foi claro sobre seus objetivos. Sobre seus limites. E de alguma forma, estávamos nessa situação completamente desconcertante. Eu era um mártir. A porra de uma princesinha de coração partido. Humilhada. Rejeitada. Eu havia permitido que isso acontecesse comigo.

E o seu joelho...

Aquilo só piorava tudo.

Eu nunca havia visto Salvatore tão assustado, tão vulnerável.

Ele parecia completamente assombrado. E estava mesmo.

Seu joelho foi o motivo de sua aposentadoria precoce.

Foi o que destruiu grande parte dos seus sonhos.

E se eu estivesse certa, ele só estava descontando tanto no saco de pancadas porque ele estava uma bagunça tão grande quanto eu. E foi por isso que ele perdeu o controle. Porque desequilibrei seus sentimentos tão bem medidos, seus passos sempre tão perfeitamente calculados.

Mas a vida não era uma calculadora. Não era um cálculo perfeito.

Era bagunçada e assustadora.

E era exatamente assim que nos sentíamos.

Quando Salvatore me empurrou para longe, os olhos tão cheios de dor e mágoa, e um medo profundo que me era desconhecido, senti que um pedaço do meu coração se desfez um pouco também.

E ali estavam as palavras ácidas, tão carregadas de aflição.

Não somos amigos.

Não somos nada.

Patética.

Como ele ousava?

Tentei segurar as lágrimas de culpa, mágoa, surpresa, tudo misturado numa coisa só, e não consegui. Ele podia me mandar embora. Mas eu nunca o abandonaria.

Eu sabia que Salvatore não tinha como ter ideia do peso que suas palavras possuíam, mas sua ordem direta me enxotando para longe havia me trazido memórias amargas, me relembrado de cicatrizes profundas. Eu sabia como era não ser querida. Eu sabia como era me sentir abandonada.

Mas eu o conhecia melhor do que isso. Eu o conhecia mais do que a neblina de dor. Mais do que o medo. Mais do que o pavor. Eu conhecia ele inteiro. E por isso, por tudo que nós havíamos construído nos ultimos meses, por quem Salvatore havia provado ser dia após dia, quando os médicos nos asseguram na sala de espera que Salvatore estava bem e se recuperaria completamente após algumas semanas de fisioterapia, eu seguro a vontade de chorar mais uma vez, ignoro as tentativas de Danilo e Daniel de falarem comigo e vou direto para a minha casa.

Mal vejo o tráfego das ruas ou as pessoas caminhando por suas vidas intocadas, só quero minha cama. E doze horas de sono. E um bom chá de hortelã e camomila. E talvez um banho de sal grosso.

REDENÇÃO - Irmãos Fiori: Livro III - COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora