CAPÍTULO 20

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Maria Clara fazia tudo ao meu redor parecer certo.

Ela fazendo meu café todas as manhãs e enchendo minha cabeça com sua voz doce e ácida na medida perfeita, me fazendo rir a cada segundo do dia, sendo minha parceira em todos os sentidos, menos no que o meu pau gostaria.

Levá-la até a fazenda Helena havia parecido simplesmente natural. Contá-la sobre a coisa mais grandiosa da minha vida, era simplesmente certo. 

Eu havia começado o projeto assim que cheguei ao Brasil após minha faculdade. Conheci Cori e seu marido, Clarice e Victor num abrigo próximo a sede de onde se tornaria a sede da Black Dragon. Eles precisavam de um lar, eu tinha um para dar. Eram eles que faziam a Fazenda rodar. Aos poucos montamos mais quartos, mais trabalho foi surgindo e ajudar pessoas que precisavam de um propósito foi o que nos levou em frente.

Poucas vezes minha família havia ido a Fazenda, mas sabiam que era um segredo. Muitas pessoas que moravam lá fugiam de algo. Um passado triste, uma família abusiva, um relacionamento tóxico, abuso de drogas. Aquele era um lar. E também um segredo. Precisava ser. E vendo o deslumbramento nos olhos de Maria, a admiração e o carinho, eu sabia que havia feito a escolha certa.

Ela era simplesmente extraordinária.

Tão compreensiva, tão companheira.

Era tudo muito novo para mim. Inclusive a preocupação cega que enchia seus olhos dourados quando me viu após meu sumiço. A verdade é que assim que Vega entrou em trabalho de parto, não consegui nem mesmo encostar no celular. Eu imaginava que alguém da minha família a avisaria do meu possível paradeiro, mas os bobões que eram leais demais nos piores momentos, também não fizeram isso.

E então lá estava ela, correndo em minha direção, buscando algum ferimento pelo meu corpo. Eu estava tão acostumado a proteger que havia esquecido completamente de como era a sensação de ser protegido por alguém. Era isso que Maria vinha fazendo desde que pisou em minha vida, me protegendo, cuidando de mim.

Por isso não resisti a puxá-la contra o meu peito e afundar minha mão em seu cabelo sedoso, sentindo sua respiração contra minha pele, seus seios moldando o meu corpo. Seu cheiro de floresta depois da chuva chega até meu nariz como um soco na cara. Ela era uma tentação deliciosa demais. Intrigante demais. Misteriosa demais.

E eu queria beijá-la.

Desde que ela esteve no meu apartamento e parecia comestível em seu vestidinho, de joelhos na minha frente, eu não conseguia tirar isso da minha cabeça.

Eu quero beijá-la.

E muito mais do que isso.

Que grande, grandíssima merda.

Saio da cozinha num rompante, assim que ouço a campainha tocar. Já sabia quem era.

Hoje era quinta e estamos todos indo para Búzios, para comemorar o aniversário de Cadu em sua mansão na praia. O ponto de encontro era a casa de Mama, mas meus irmãos se encontrariam em meu apartamento para irmos todos juntos.

Minhas sobrinhas ficariam com Victoria e Carlos, então Nina, Alex, Gabriel e Ana com Danilo já estavam esparramados no meu sofá, esperando Daniel chegar, assim como Mariana, Cadu e Maria.

E falando na diabazinha que atormenta meus pensamentos, lá está ela, de pé em minha soleira, parecendo deliciosamente irritada com sua mala de rodinhas ao seu lado. Atrás dela Cadu e Mari estão segurando suas malas também. Cadu, é claro, tem a maior delas.

- Bom dia, gato. – Cadu diz ao passar por mim, dando um tapinha de leve no meu ombro.

- Bom dia, querido. – Mari diz, sua cabeleira ruiva realçando ainda mais os olhos verdes tão claros que quase não há cor, além do anel escuro em sua volta.

REDENÇÃO - Irmãos Fiori: Livro III - COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora