CAPÍTULO 7

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SALVATORE



Esse é nosso quarto dia de treinamento e eu estou perdendo minha cabeça.

Maria Clara é uma das alunas mais focadas que já tive – e é também o maior pé no saco que já conheci. Nos últimos quatro dias, ela vinha agarrando cada oportunidade de me tirar do sério com seus comentários espertos e irônicos, mas era tão dedicada que quase recompensava. Ela tinha resistência e uma motivação interna que eu ainda não conhecia. Levava as aulas a sério, era pontual, resiliente.

E linda. A maldita era linda. E atraente. E gostosa. E inteligente.

Como eu disse, estou perdendo a porra do juízo.

Tenho dobrado meus treinos e evitado a todo custo pensar demais na pequena encrenqueira. Com as reuniões intermináveis e minha agenda explodindo de compromissos, mal tenho tempo para qualquer coisa além de comer e dormir quando chego em casa.

Além dos jantares semanais na casa dos meus pais, meu contato com humanos que não fossem profissionais ou familiares era praticamente nulo. Eu precisava sair com alguns amigos, relaxar de verdade. E precisava acima de qualquer coisa, de uma companhia melhor do que a da minha mão direita.

Talvez esse fosse o problema com Maria Clara. Ela era deliciosa. Eu estava praticamente celibatário – algo que me deixava com o humor quase tão ruim quanto o dela nesse momento em que abre a porta de vidro e aparece na sala em que eu a espero.

O relógio apita, indicando que já são cinco horas, mas nem olho para a máquina lustrosa na parede. Só tenho olhos para a mulher curvilínea que parece ter batido o dedinho do pé na quina de um móvel quinze vezes, e que caminha em minha direção vestindo sua roupa apertada de sempre.

Seu rosto limpo, completamente a mostra com os cachos presos para trás, é simplesmente lindo. Seus traços são serenos, mas há uma selvageria em seus olhos que conflitam com a suavidade de sua aparência. Tudo nela esquenta e esfria ao mesmo tempo. Macia como veludo, afiada feito uma faca de caça.

E eu, claramente, estava virando um maricas.

Me obrigo a parar de prestar atenção em sua aparência e foco em suas mãos ocupadas.

- Agora teremos piqueniques também? – cruzo meus braços, olhando para a garrafa térmica e o pote que ela carrega. Não lhe dou bom dia. Só serve para tirar uma resposta afiada dela, que me causa mais irritação do que qualquer outra coisa.

Ela se limita a dar de ombros e tirar seus tênis, chutando-os para longe. Seus pés minúsculos, cobertos por uma meia estampada quase me fazem sorrir.

Só quase. Ainda não tinha surtado de vez para ficar sorrindo para pés e meias de bolinhas.

- Você já me obriga a acordar de madrugada, não pode esperar também que eu passe fome. – Ela resmunga, franzindo o nariz para mim.

- Espero que a comida cure seu mau humor.

Ela abre a garrafa térmica e derrama café na tampa, o cheiro delicioso e profundo enchendo meus pulmões.

- Se ver a sua cara bonita não cura, a única salvação é café fresco e bolo de fubá. – Ela diz, no tom ácido de sempre que merece meu meio sorriso. Ela toma um gole caprichado e enche a tampa novamente, estendendo-a para mim.

- E porque você merece café fresco por aguentar meu mau humor.

Não seguro meu sorriso dessa vez. Vejo seus olhos passearem por minha boca, no brilho admirado que se tornou comum na última semana, mas ela não diz nada.

REDENÇÃO - Irmãos Fiori: Livro III - COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora