CAPÍTULO 24

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SALVATORE


Ela era perfeita.

É isso que penso a cada segundo do dia, desde que minha boca tomou a sua num beijo que parece ter acabado com qualquer mísera grama de sanidade que possuo.

Maria Clara era perfeita. Irritantemente perfeita.

Desbocada, sensível, inteligente, furiosa...

Perfetta.

E eu queria tudo dela.

Cada detalhe. Cada centímetro de pele sedosa. Ela inteira.

E esse sentimento era tão aterrorizante, que fiz a única coisa lógica a se fazer: coloquei um pé no freio e disse que deveríamos ir com calma.

A química estava lá, o carinho também. Mas isso não apagava todos os motivos aos quais me agarrei durante os últimos anos disciplinados da minha vida. E Maria Clara tinha horror a disciplina, parecendo tentada a acabar com a minha.

A verdade é que começar algo entre nós, algo sério, que era o que ela merecia, não estava nos meus planos. Sossegar, ter alguém que me controle, alguém que me sufoque, alguém que me prive da vida que construí parece risório para mim.

Não tão risório quanto colocar Maria numa posição tão taxativa.

Era óbvio que ela não faria nada disso.

E eu estava sendo arrogante ao supor que ela sequer queria qualquer coisa séria comigo, já que ela saiu com toda a sua graça do meu carro sem sequer rebater quando disse que deveríamos ir com calma.

Apenas apareceu no dia seguinte como a funcionária impecável que era. Responsável, irônica além do aceitável e irritantemente organizada. Mal parecia afetada por mim, enquanto eu tive que arranjar trabalho em duas de minhas filiais para impedir que minhas mãos fizessem o que tinham vontade. Me afundar em sua carne macia. Adorá-la como ela merecia.

Mas não podia fazer isso. Cruzar essa linha seria burrice para caralho. E a verdade triste de toda essa situação deliciosamente perigosa, era que eu gostava dela. Não adiantava negar.

Ver Maria Clara feliz havia se tornado rapidamente minha nova atividade favorita. E é por isso que eu sei, simplesmente sei, que vou machucá-la. Talvez não agora, mas um dia. Entre meu ego desmedido, minha racionalidade arrogante e minhas palavras que eram tudo, menos delicadas, eu iria machucá-la.

Maria Clara era forte. Mas era também muito sensível. Talvez os outros não percebessem, mas estava lá, brilhando feito um letreiro nenhum em cada um de seus gestos. Ela era uma flor delicada. Talvez não como uma hortênsia, que demanda aparos e cuidados, mas como uma rosa selvagem. Que corta para se defender, mas que abriga beleza e perfume, resistindo ao tempo, ao solo.

E eu morreria antes de vê-la murchar por minha causa.

Era melhor assim.

É isso que repito para mim mesmo, enquanto esfrego a toalha branca felpuda que Maria Clara mantém na suíte do meu escritório em minha cabeça para tirar o excesso de água gelada que pinga por meu corpo.

Depois de treinar por duas horas, o que era um milagre durante a semana, me sinto infinitamente melhor, apesar da situação em suspenso com Maria Clara. O trabalho estava fluindo perfeitamente bem com nosso ritmo bem instaurado e entre as aulas, reuniões e encontros com a família, não sobrava tempo para pensar em mais nada.

Só em olhos de uma deusa.

E seios feitos para serem chupados.

E cabelos perfeitos para serem puxados.

REDENÇÃO - Irmãos Fiori: Livro III - COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora