CAPÍTULO 3

2.4K 258 64
                                    



Salvatore

Eu odiava bêbados com todas as minhas forças.
Eu sabia que nem todo mundo que ingeria álcool se tornava um psicopata fodido, mas o álcool sempre levava a merda e a falta de controle - uma combinação que eu repudio com cada fibra do meu corpo.

Ver Maria Clara colocando o merda do bêbado no chão e vê-la esmagando-o com seu salto, jorrou uma onda perigosa de orgulho e admiração em minhas veias, apenas para serem substituídos por irritação e preocupação. Ela era boa, mas era falha. E sortuda. Muito sortuda, porque com seu tamanho não seria díficil para qualquer maldito sobrepô-la, o filho da puta estava bêbado, então mal conseguiu perceber o que aconteceu e antes que eu pudesse correr até ela.

Eu observei o homem comendo-a com os olhos a maior parte da noite, a expressão faminta ficando cada vez mais intensa conforme as rodadas de whiskey na sua mesa chegavam. Minha irritação só ficou mais crescente. Eu odiava bêbados. E Maria Clara estava tão gostosa do vestido vermelho justo e a boca parecendo uma maçã suculenta, que me obriguei a ficar ainda mais distante, evitando qualquer assunto. Tudo sobre ela ela perigoso. Intenso demais. Selvagem.

Eu vi o exato momento em que o homem a seguiu para fora do bar, mal aguentando as próprias pernas. O tempo que demorei para levantar da mesa e me desvencilhar das pessoas apertadas naquele lugar infernal foi lento o suficiente para que o bêbado chegasse até ela e ousasse tocá-la. Mas ela tinha dado o troco.

E o pior de tudo: ela apagava.

Eu já tinha visto aquilo poucas vezes antes, e foram vezes muito destrutivas. Atletas que viviam na beira do abismo e bastava uma palavra errada para que eles estalassem e perdessem a consciência - perdessem o controle. Dois metros de altura e 95kg de puro músculo perdendo o controle pode ser completamente assustador, e para minha total surpresa, Maria Clara e seu um metro e meio pareciam tão mortais quanto. Capazes de tanta devastação quanto qualquer outro atleta do meu tamanho.

Seus olhos estavam vazios quando ela socou meu rosto, completamente cega para o mundo ao seu redor. Completamente descontrolada, focada apenas na destruição. Sem vida nenhuma. Odiei aquilo. Odiei ver seus olhos apagados. Odiei ver o medo e tanto ódio ali. E odiei ver a emoção que eu mais conhecia, que já tinha embrulhado meu estômago por dias após uma derrota: a vergonha. A raiva por ter baixado a guarda e deixado aquilo acontecer em primeiro lugar. Aquela mulher levava o termo "caixinha de surpresas" para outro nível. Um mar sereno na superfície e uma tsunami nas profundezas.

Não pensei duas vezes antes de me oferecer para ensiná-la. Ela estava machucada, puta e provavelmente me irritaria mais do que o normal com sua língua afiada, mas tinha algo sobre ela... Algo parecido com identificação que me fazia querer que ela melhorasse. Que pudesse se defender. Que nunca mais precisasse sentir medo. Que ela pudesse se sentir protegida. E eu podia oferecer isso à ela. Controle, disciplina e foco. E proteção. As mulheres já eram vulneráveis demais à covardes e se eu pudesse ajudar Maria Clara a poder lutar contra isso, eu faria.

Agora, era esperar sua resposta. Já fazia uma semana que eu havia a deixado em casa após torcer o pé e ela não havia entrado em contato. Talvez ela me desprezasse e não estivesse interessada em nada que viesse de mim. E eu também precisaria de um tempo para me preparar psicologicamente para lidar com seu atrevimento. Sua língua provavelmente a colocaria em mais problemas do que seu descontrole. Principalmente no meu tatame.

Afasto os pensamentos para longe quando estaciono na frente da casa de Nina, me segurando para não passar com minha caminhonete alta por cima da moto brilhante de Gabriel, meu irmão caçula. O pirralho era tão apaixonado pelas máquinas que havia dedicado toda a sua vida a elas, e eu não perdia nenhuma chance de deixar um pequeno arranhadinho em sua lataria, apenas para vê-lo tentar me socar. Era sempre bom. E é claro, muito engraçado. Eu havia treinado todos os meus irmãos, os pestinhas eram lutadores quase decentes mas tinham egos de super-atletas - a combinação mais burra do planeta. Principalmente quando você tenta enfrentar alguém que de fato é um super-atleta. Um dia eles aprenderiam, eu sabia que sim.

REDENÇÃO - Irmãos Fiori: Livro III - COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora