CAPÍTULO 6

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Maria Clara





Dolorida.

Dolorida em cada centímetro do meu corpo. A primeira aula com Salvatore tinha sido cruel, mas eu já esperava por isso. Havia passado tempo demais negligenciando meu corpo, e agora eu estava pagando o preço, sentindo cada músculo se repuxar em cada membro.

Apesar disso - e de ter acordado em plena madrugada - eu tinha adorado. A aula havia sido ótima e seria mentira se eu dissesse que minha parte favorita havia sido qualquer outra além de tirar Salvatore do sério. Mas é claro que ele não se afetava. O autocontrole dele seria algo que eu admiraria pelo resto dos meus dias. Ele era completamente inabalável.

Eu já sabia que ele era um lutador exímio, não deveria ser a toa que Mama tinha todos aqueles troféus e medalhas espalhados pela casa, ou que ele tenha construído todo aquele império sendo tão novo. Mas ele era bom num nível completamente novo. Não só bom, era... bem, usando as próprias palavras dele, ele era foda.

Eu já havia treinado com muitos homens, bons lutadores, mas a técnica limpa de Salvatore, a expressão completamente relaxada, os olhos de gavião analisando cada simples reflexo do meu corpo... Era completamente desconcertante. Eu me sentia vulnerável de uma forma completamente nova.

Eu gostava de passar despercebida, alguém que você não olharia mais de uma vez na rua, um rosto comum, agradável, superficial. Salvatore não via nada disso. Muito pelo contrário, ele parecia enxergar muito mais do que eu gostaria que ele visse e isso fazia uma sensação nova se espalhar por meu estômago. Uma sensação perigosamente dúbia – querer me esconder, e querer me revelar.

Eu era uma imbecil. Tudo isso era uma merda desnecessária. Ele era um gostoso que fazia cada fibra do meu corpo tremer de desejo mas era inalcançável, protegido, maciço. Assim como eu. Não poderíamos ser piores um para o outro.

Isso tudo era culpa dos Fiori! Como sempre!

Bufando, termino de preencher os pequenos sachés de papel com a mistura de ervas que Seu Heitor me pediu para ajudar com suas dores nas costas. Acho que até eu precisava de um desses hoje.

Eu amava o cheiro rico de flores secas, ervas frescas e natureza que enchiam minha cozinha. Não havia nada mais familiar do que isso. A natureza era poderosa e nos fornecia aliados e curas incríveis, bem na frente dos nossos olhos, bastava que nós enxergássemos.

Quando minha vida mudou há tantos anos atrás e os pesadelos e ansiedade começaram a me assombrar, me dedicar ao herbalismo, me voltar para a natureza, a essência básica de todos nós, foi o que me salvou. Eu tinha algo a me dedicar e muito a aprender. As plantas, flores, sais, nossa terra, continham muito mais do que pensávamos e de forma completamente natural.

Era uma arte linda e ancestral, e amava saber que apesar das zombarias dos meus amigos, eles estavam sempre abertos a escutar. A respeitar.

Junto tudo numa caixinha de papel, pego na geladeira a torta de limão que fiz mais cedo para me distrair, alcanço minha bolsa e minhas chaves e saio do meu apartamento. 

Hoje era segunda, o que significava jantar na casa dos Fiori. Estou adiantada, mas marquei de encontrar com Nina mais cedo na casa de seus pais para eu organizar sua agenda.

Eu era ótima com organização. Talvez por isso Woo tenha me contratado mesmo sem nenhuma experiência. Eu sabia provar o meu valor. Nina era uma profissional incrível, com um olhar fotográfico sensível que era raro de se ver – mas era uma completa negação para organizar sua agenda. Seus dias eram sempre uma loucura, e quando trabalhávamos juntas, era a mim que ela recorria para organizar tudo, mesmo não sendo minha alçada.

REDENÇÃO - Irmãos Fiori: Livro III - COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora