CAPÍTULO 16

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MARIA CLARA 


Doente.

Após anos sem pegar ao menos uma gripe, eu estou doente.

Cada centímetro do meu corpo dói, e estou acordada desde às quatro da manhã, quando a febre e o desconforto na garganta começaram. Levantei às cinco, fiz um chá forte de gengibre com limão e meio dente de alho e fiz uma anotação mental de comprar um anti-inflamatório porque apesar de amar medicina alternativa, eu não era alienada e dava graças a Deus pela ciência.

Meia hora depois, eu ainda me sentia uma completa merda.

Eu sabia que a febre estava alta porque o frio do meu apartamento parecia completamente insuportável e minhas bochechas estavam completamente vermelhas. Mas Salvatore estava esperando por mim para treinarmos e eu não podia deixar de aparecer. Eu precisava ficar segura, principalmente doente, quando eu ficava tão vulnerável.

Então vesti minha roupa de treinamento, resmungando a cada movimento e saí do meu apartamento, respirando fundo para que a tonteira passasse.

Quando chego na Black Dragon, percebo que ter vindo foi uma ideia de bosta. Mal estou aguentando meu próprio peso e tenho que parar quatro vezes nas escadas para me apoiar e focar nos degraus dobrados em minha frente.

Empurro a porta de vidro da sala de treinamento e percebo que Salvatore já está aqui, concentrado em seu laptop, o que é ótimo porque me dá tempo de ir até o canto da sala e virar de costas para que ele não veja cada careta que faço só para tirar meu casaco e meus tênis.

- Bom dia. – Eu digo baixinho, sentindo a queimação em minha garganta.

- Bom dia, Maria. – Ele diz, e ouço quando Salvatore fecha o laptop e se ergue do tatame caminhando em minha direção. Eu respiro fundo e começo a me alongar, sem dar tempo que ele observe meu rosto. Com sua análise esquisita, vai perceber que tem algo de errado assim que colocar os olhos em mim, como aconteceu ontem no bar. Eu já estava me sentindo mal, mas achei que era apenas algo passageiro. Agora, vendo dois de Salvatore, sei que não melhorarei tão cedo.

- Vamos treinar a última sequência que fizemos, com os rolamentos no chão e os socos triplos. – Ele declara e eu gemo internamente, porque de todos os treinos, é óbvio que ele tinha que escolher um que envolve cambalhotas e giros quando mal consigo me manter em pé num equilíbrio básico.

- Tudo bem. – Digo, esmagando meus dedos do pé no chão em busca de força para continuar erguida. Aquilo era ruim. Se a febre estivesse alta demais eu teria que ir para o hospital e aquilo não poderia acontecer de jeito nenhum.

- Dois socos, um desvio e um chute lateral. – Ele diz, andando até mim para que eu use seu corpo como saco de pancada.

- Acho que eu preciso correr. – Resmungo, dando as costas para ele, já começando a correr, ou melhor, eu tento, porque assim que o impacto do meu pé contra o chão paro no mesmo momento porque o mundo inteiro gira ao meu redor. Respiro fundo três vezes, e colocando minha máscara inabalável, viro em direção a Salvatore, que me olha com o cenho franzido.

- Vamos improvisar. – Eu digo, indo até ele, olhando para meus pés, para que ele não repare na minha cor.

- Tudo bem... – Ele diz, confuso.

Reúno cada miligrama de força que tenho em meu corpo, seguro o máximo de ar que posso, e dou um passo a frente, desferindo um soco no abdômen de Salvatore. Ele apenas tenta segurar meu braço, mas não deixo, porque minha pele está pelando. Quando me abaixo para desviar do chute alto que ele dá, não consigo segurar o gemido que escapa da minha boca, tanto pela dor muscular, quanto pela confusão mental. Não. Não. Não. Eu não podia começar a alucinar.

REDENÇÃO - Irmãos Fiori: Livro III - COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora