CAPÍTULO 13

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SALVATORE 


Paz.

Completa paz.

Meu escritório está organizado, meus compromissos em dia, e o cheiro do café fresco de Maria Clara está vindo do segundo andar e enche os meus pulmões. Contratá-la foi a melhor ideia que tive nos últimos anos. Ela é ágil como Natália e três vezes mais organizada do que qualquer pessoa que já conheci, perdendo apenas talvez, para Daniel.

Nossos treinos aconteciam em qualquer brecha durante o dia, e agora, passamos quase vinte e quatro horas juntos, sete dias por semana, considerando que aos finais de semana, ir para a casa de Mama era a tradição. Isso significava ter que lidar com os comentários sarcásticos, olhares dourados e cheiro de floresta ao meu redor, em minhas roupas, o dia inteiro. Como acontece exatamente nesse momento em que ela entra pela porta olhando seu celular, equilibrando a garrafa de café em seu braço e uma pilha de papéis no outro. Ela está com o cabelo molhado porque treinamos há uma hora e agora seu cheiro parece dez vezes mais intenso.

- Sua reunião com o pessoal dos equipamentos eletrônicos passou para três horas e a Priscila perguntou se você consegue adiantar o treino dela para às 13h porque ela tem uma consulta com o fisioterapeuta. – Ela solta feito um trator, dando a volta pela minha mesa e colocando os papéis que precisam da minha atenção em minha frente. Ela se inclina para alcançar minha caneca de café e seu cabelo desliza suavemente por meu pescoço, me arrepiando.

- Aninha ligou e perguntou se você pode passar no apartamento para ajudar Danilo a instalar um móvel novo. – Ela continua, enchendo minha caneca do liquido escuro dos deuses. – Eu disse que sim, e que se você não pudesse eu mesma iria e ensinaria umas lições sobre como ler um manual para Danilo. – Ela solta, irônica, e nem tento segurar o riso estúpido que brota em minha boca.

- Como foi a reunião com o pessoal de Miami? – Ela pergunta, tomando um gole da minha xícara antes de colocá-la na minha mão. Eu poderia reclamar, mas apenas me contento a beber o café delicioso.

- Fechamos. – Digo, com um meio sorriso.

- E só agora você fala? – Ela grita, dando um tapa leve em meu braço. – Natália vai ficar tão feliz!

Eu concordo com a cabeça porque é verdade, Natália tinha dado tão duro quanto eu para conseguirmos o contrato de distribuição da fábrica de Miami.

- O que você comprou para Mama para o Dia das Mães? – Ela pergunta, já passando as páginas da minha agenda e anotando mais compromissos.

- Nada ainda. – Solto, com um resmungo. Sempre acabava deixando para última hora.

- Ela está precisando de uma batedeira nova, estava reclamando sobre isso semana passada. – Maria Clara diz, me olhando sob seu ombro. – Eu deveria contar para Nina essa informação.

Eu olho para ela completamente ofendido o que a faz soltar uma risadinha.

- Nina nem chega perto de me irritar como você. – Ela revira os olhos.

- Sua lealdade deveria estar comigo considerando a quantidade de abdominais que eu poderia te colocar para fazer.

- Claro, Mestre. Sim, Mestre. – Maria fala, num tom de voz ridículo de tão complacente.

- Merdinha. – digo, cutucando suas costelas, no ponto que sei que ela mais sente cócegas. Ela pula para longe de mim rindo, mas leva a garrafa de café junto de si.

- E o que você vai fazer no domingo? Vai passar com a sua mãe? – Pergunto, porque Maria nunca comenta sobre sua família e não tenho a menor ideia se são vivos ou não. Me arrependo de ter perguntado qualquer coisa no segundo seguinte, porque toda a leveza e humor que estavam estampados em seu rosto somem e são substituídos por uma taciturnidade assustadora.

- Nada, vou ficar em casa. – Ela diz, tirando os olhos dos meus. Há tanta tensão em toda a sua expressão corporal que franzo meu cenho.

- Você ainda tem mãe? – Pergunto com cuidado porque a ultima coisa que quero é ser indelicado.

- Sim, mas não sou próxima da minha família.

- Entendo. – Digo, ainda observando cada centímetro de seu rosto, tentando encontrar alguma pista do porquê esse assunto a deixa tão desconfortável, mas é óbvio que ela já treinou a expressão sóbria um milhão de vezes antes porque ela não me entrega nada. Só um silencio gritante e completamente desconfortável.

- Você deveria vir passar conosco. Tenho certeza que Mama adoraria sua companhia. – Falo, suavemente, querendo que ela se tranquilize e volte ao seu estado relaxado de sempre.

- Obrigada. – Ela diz, com um pequeno sorriso. – Talvez eu vá sim.

- Me avise se precisar de uma carona, posso passar para te buscar.

- Valeu, chefe. Não esqueça da batedeira. – Ela diz, já andando em direção a porta.

- Maria? – Chamo, antes que ela alcance a maçaneta.

- Sim?

- Venha no domingo. Não quero que você fique sozinha. – Peço. Maria sorri fraco e abre a porta, os olhos finalmente nos meus.

- Estou acostumada, não precisa se preocupar. – Ela diz, antes de fechar a porta atrás de si e me deixar sozinho no silêncio do meu escritório.

Mas eu me preocupo!

É o que eu tenho vontade de gritar.

Porra, eu me preocupo. 

REDENÇÃO - Irmãos Fiori: Livro III - COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora