CAPÍTULO 28

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SALVATORE


Três semanas.

Esse era o tempo que separavam onde eu estava agora, da cena caótica que aconteceu no quintal de Mama.

Três semanas desde que Maria havia se declarado em alto e bom som, na frente de toda a nossa família.

Me apaixonei por você porque você vale a pena, seu grande imbecil!

Foi isso que ela disse.

Que estava apaixonada.

E que eu valia a pena.

E era um grande imbecil.

Eu concordava com a última frase mais do que qualquer outra. Eu era um puta de um imbecil.

Eu não sabia o que havia acontecido.

Antes que eu pudesse compreender, as palavras já estavam sando pela minha boca e sua expressão dolorida e decepcionada cravaram suas garras no meu coração.

Eu era a merda de um covarde.

Eu gostaria de poder agarrá-la e dizer que sinto o mesmo, que cada grama do meu corpo parecia querer se jogar aos seus pés. Mas não fiz nada disso.

Maria chegava perto demais do meu coração.

Era perigoso demais.

Ela me fazia querer perder o controle, e o controle era tudo que eu tinha. E disciplina. E foco.

Eu não saberia como fazê-la feliz, não saberia como fazer tudo funcionar.

Maria merecia melhor. E eu precisava dela na minha vida. Machucá-la estava fora de cogitação.

Ela era especial demais. Já havia sido machucada demais.

Francesca estava certa.

Eu não tinha nada para oferecer.

Nada.

- Pode desfazer essa expressão amarga, seu maldito. Só uma pessoa tem direito de estar de mau humor nesse complexo e é Maria. - Uma Natália resmunga ao meu lado, me trazendo de volta para a realidade.

Para a minha alegria profissional e tristeza pessoal, Natália estava de volta depois de terminar o mestrado em Portugal. Ela havia amado a ideia de trabalhar com Maria, mas assim que saiu para almoçar com meus irmãos e soube de todo o caos que havia se desenrolado entre Maria e eu, Natália estava determinada a me fazer pagar, resmungando a cada segundo que Maria saia de perto.

- Quem me dera. - suspiro, me jogando na minha cadeira de couro confortável. Quem dera Maria estivesse de mau humor, irritada, brava. Demonstrando alguma reação ao que havia acontecido.

Eu preferiria qualquer uma dessas coisas ao que eu estava recebendo dela nas últimas semanas: silencio estoico. Uma resignação irritante. Completa indiferença. Maria estava me enlouquecendo com aquela distância.

Nenhuma palavra trocada que não fosse profissional.

E eu nem mesmo podia reclamar. Ela não estava sendo mal-educada, não estava sequer me ignorando. Só estava me tratando como tratava cada João, Pedro e Márcio que encontrava em cada esquina. Estava me tratando como tratava qualquer outra pessoa.

E fui eu quem pedi por isso. Cada grama do que ela me entregava, ou melhor, deixava de me entregar. Eu a rejeitei. Tinha sorte de ainda poder respirar o mesmo ar que ela. De poder tomar seu café fresco, sentir o rastro de seu perfume no ar.

REDENÇÃO - Irmãos Fiori: Livro III - COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora