CAPÍTULO 22

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 O suor escorre por meu rosto, se acumulando em meu abdômen conforme meus pés afundam na areia da praia, onde corro com Gabriel ao meu lado.

Quando ele bateu na minha porta após o almoço perguntando se poderíamos correr um pouco, nem pensei duas vezes antes de colocar um short leve e enfiar o celular no bolso.

Gabriel era o irmão do meio quieto que ficou com todo o sarcasmo da família. Sabia que ele era mais próximo da Nina e Daniel, por serem os mais próximos da sua idade, mas tínhamos uma boa relação. Sabíamos que podíamos contar um com o outro e isso é tudo que importa.

Mas ainda assim estranho seu pedido. Gabriel fazia o tipo lobo solitário, raramente sabíamos de algum problema seu, e para ele querer companhia durante um exercício, sabendo que eu iria esmagá-lo, só podia significar merda.

Agora, já estamos correndo a uma hora e ele não dá brecha. Não fala nada, mas também não para de correr. Não ligo de permanecer em silêncio, se é isso que ele precisa.

Estou tão focado nos grãos de areia que voam para longe com o peso do meu corpo, que quase sobressalto quando a voz de Gabriel quebra o silêncio.

- O que você sabe da Mariana? – ele solta, me olhando pela primeira vez desde que deixamos a mansão de Cadu. Paro de correr, surpreso por sua pergunta. Ou melhor, surpreso pela sua coragem de perguntá-la. Era óbvio que tinha alguma coisa entre os dois.

Ele para de correr também, está todo suado, na postura superior de sempre, mas seus olhos estão voláteis, incertos.

- O mesmo que você. – dou de ombros – Ela trabalha na loja de um familiar para ajudar o tio doente que mora no interior. Acho que perdeu os pais quando era criança e foi criada pelos tios. Nos conheceu através de Cadu...

- Não. Não o óbvio. – Gabriel me interrompe. – O que você realmente sabe sobre ela?

Franzo o cenho, incerto de onde ele pretende chegar com essa conversa.

- Sei o mesmo que todo mundo. – reafirmo – Por que você parece tão incomodado? – pergunto, com o máximo de cuidado que posso, o que quando se tratava de mim não significava muito.

Gabriel respira fundo, e arrasta as mãos pelo cabelo comprido que eu não fazia ideia de onde vinha a paciência para cuidar.

- Você viu as tatuagens dela? – Ele pergunta, tão exasperado quanto ele poderia ser.

- Acho que foi difícil não ver. – respondo.

- É óbvio que aquilo é uma história pessoal. Eu conheço o artista. Ele não pega qualquer trabalho e definitivamente não cobra barato. Mariana trabalhando numa loja do shopping, se mantendo no Rio e ajudando um parente distante com certeza não conseguiriam pagar. Ainda mais de uma vez. E aos dezoito anos? Tudo isso não parece estranho para você?

Gabriel diz tudo numa só lufada de ar, cada pensamento escorregando por sua boca.

- A gente não tem nada a ver com isso, Gabriel. – digo, porque é verdade. – Sim, não sabemos sobre cada detalhe da vida de Mariana, mas também não sei cada detalhe sobre sua vida, da de Daniel ou Alex ou Maria Clara. As pessoas têm direito à privacidade.

- Só estou cansado dessa merda. – Ele resmunga, chutando areia para longe.

- Cansado de quê exatamente?

- De segredos de merda, de reviravoltas, de malditos sentimentos. – Ele grunhe, cruzando os braços, olhando para longe, parecendo o mesmo garotinho de cinco anos que enchia meu saco.

REDENÇÃO - Irmãos Fiori: Livro III - COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora