crystal beach.

4.8K 319 97
                                    

"Desculpe coração, me desculpe coração, mas vamos ter que começar novamente" - Towers.

Sarah Andrade sentou na areia sem se importar com a roupa ou o cabelo voando em sincronia com o vento frio; abraçou seus joelhos olhando fixamente para o mar enquanto pensava nas duras palavras que havia trocado com Lucas. Ela sentiu-se vazia, afinal parte de sua história havia ganhado um ponto final. Há duas semanas planejavam detalhes do casamento, e horas atrás havia jogado a aliança de noivado em alguma parte da água enquanto andava pela praia estranhamente vazia.

Lucas Viana era um cara de poucas palavras, sutil e sofisticado. Tão diferente da loira, muitos diriam que os opostos haviam se atraído, e apesar de se sentir presa à uma realidade que não pertencia, aprendeu a se adaptar em nome do seu amor. Viana era filho do diretor executivo da Jairo Rocha e tinha grandes chances de no futuro ocupar a cadeira mais importante da maior empresa no ramo imobiliário de Pernambuco. Durante os seis anos que ficaram juntos, Sarah frequentemente o acompanhava em jantares de negócios e festas estupidamente sofisticada.

Terminar com Lucas foi sem dúvidas uma das coisas mais difíceis que já sujeitou seu coração. Apesar de odiar suas meias sujas pela casa, amava o jeito que a beijava quando ia embora. Sarah jogou a cabeça para trás - havia se livrado das brigas que cada vez se tornavam mais constantes, mas também havia se livrado do cappuccino de todas as manhãs ou das vezes em que o homem aparecia no estúdio com chocolates só para que a mulher não ficasse brava por desmarcar algum compromisso em cima da hora. Havia se livrado sem ter escolhido se livrar.

Nenhuma lágrima descia, a loira apenas olhava fixamente para o mar em sua frente pensando em nada, como se estivesse anestesiada. Em sua mente rondavam centenas de perguntas que não sabia e não tinha condições de responder; não sabia explicar porquê Lucas havia sido tão baixo, mas agora pouco fazia importar. Sua parte racional finalmente estabeleceu contato com a parte sentimental e, naquele momento, houvera um consenso entre ambas de que amar era um risco, e que talvez o amor poderia não valer tanto a pena assim.

Ela se levantou em direção à onda que quebrava quase instantaneamente depois de sua formação. Caminhou devagar até que sua canela ficasse completamente submersa e sentisse a água finalmente se chocar contra seus pés e voltasse logo em seguida, causando uma sensação de leveza. Continuou assim por um bom tempo até que sentiu, além da água, um objeto duro que a machucou com a força da correnteza.

Antes que o mar puxasse de volta, inclinou-se e pegou o objeto com as mãos: uma garrafa de vidro. Balançou a cabeça em reprovação já se preparando para descartar de uma forma mais correta, mas o estado do objeto chamou sua atenção, e ao analisar o recipiente, percebeu que não estava vazio. Algo preenchia quase que completamente o bojo da garrafa, mas não conseguia identificar o que era. Sarah saiu da água e tentou abri-la, mas além da rolha, o gargalo estava vedado com uma espécie de corda de sisal fina, então olhou para os lados e não viu outra saída a não ser quebrar o vidro.

A loira caminhou em direção de onde seu carro estava estacionado, temendo encontrar com Viana outra vez, visto que o estacionamento ficava perto do quiosque onde horas atrás terminaram o noivado. Centenas de pessoas felizes e animadas passavam causando um enorme contraste em comparação com seu humor, deixando-a ainda mais frustrada. Sua mente a alertava a cada segundo que deveria fugir o mais rápido possível daquele ambiente estupidamente praiano ou entraria em colapso.

Encontrou, para a sua felicidade, um conjunto de lixeiras seletivas e usou o ferro da estrutura para quebrar a garrafa. Descartou o vidro devidamente, e para a sua não tão surpresa, o conteúdo revelou-se ser papel. A real surpresa foi, na verdade, não ser apenas uma folha, e sim, várias. Assim que a garrafa se quebrou, os papéis espalharam pelo chão, até porque não estavam lindamente amarradas como se vê nos cinemas ou contando em histórias românticas.

- Só pode der brincadeira. - a loira bufou olhando em sua volta e procurando as câmeras de uma possível pegadinha.

Ao juntar todas as folhas, percebeu que estavam úmidas apesar do conteúdo parecer um tanto preservado. As palavras desenhadas à mão formavam vários textos que temeu lê-los ali, afinal a pequena umidade poderia desmanchá-los.

Agachada no chão, a mulher jogou a cabeça para trás e deu risada olhando novamente para os lados. Ela havia encontrado uma garrafa com uma mensagem dentro.

• • •

Eii, tudo bem?
Obrigada livs pela capa maravilhosa, vc arrasa! <3

- xoxo, anny!

WINE.Onde histórias criam vida. Descubra agora