Frio. Apesar de quase sempre ser quente em Recife, aquele era um dia para se tirar os casacos do armário e desligar os ar-condicionados.
Sua maior vontade naquele momento era se aquecer enrolada em uma coberta no seu sofá com um chocolate quente na mão, mas na verdade ela estava em uma das ruas próximas a Clair de Lune observando os carros passarem de um lado para o outro. A velocidade dos automóveis trazia um vento frio, que balançava os fios de seu cabelo e congelava seu rosto. Aquela era definitivamente uma espera traumatizante.
Mas, como se o destino quisesse lhe mostrar que estava no caminho certo, o sinal fechou no exato momento em que um carro estacionou do outro lado da rua. De longe, ela observou a mulher abrir a porta, usando um sobretudo bege e óculos de grau.
Bingo!
Ela atravessou a rua decidida e aproximou-se o suficiente. A mais velha, ao notar sua presença, abriu a boca para proferir algo, mas foi rapidamente interrompida:
— Não se preocupe, ela não sabe que estou aqui. — sorriu. — Só vim conversar.
— Desculpe, estou sem tempo agora. Acabei de chegar e preciso me organizar para a reunião que terei dentro de alguns minutos.
— Certo. — balançou a cabeça. — Eu tomei a liberdade de ligar para sua assistente fingindo ser uma cliente e descobri que você está livre das 8h às 10h, então... — olhou em volta. — O que acha de um café?
[ ... ]
A chuva começou a cair forte lá fora e algumas gotas desciam pelo vidro da cafeteria. A mulher rasgou um sachê de adoçante em pó e despejou no café tão preto quanto a noite.
— Eu gosto daqui. — comentou enquanto mexia o líquido com a colherzinha descartável. — Há uma franquia dessas perto de onde eu moro, mas eles fazem cappuccino colocando o leite primeiro.
— Mas tudo é misturado no mixer, a ordem não faz diferença. — Juliette uniu as sobrancelhas.
— Colocar o leite por último deixa mais cremoso. — recebeu um olhae descrente. — Não acredita?
— Oh, claro que acredito. Na verdade, faz todo sentido. — brincou.
Thais soltou uma de suas típicas risadas, contagiando a outra. Ela aproveitou para bebericar a bebida quente para aquecer a garganta.
— Você sabe o que eu estou fazendo aqui?
— Tentando me convencer de que Sarah é inocente ou algo do tipo?
— Eu não posso te convencer de algo que não vi. - deu de ombros. — Tudo o que sei é exatamente o que você sabe.
— E então?
— Eu estou aqui porque passei as últimas duas semanas organizando uma grande festa para meu amigo, mas não pude ir. — disse simplesmente. Juliette não entendeu. — Essa hora eu certamente estaria dormindo e só acordaria mais tarde com a maior ressaca da minha vida! Eu dormi às oito da noite! Sabe quando foi a última vez que eu dormi às oito? Eu tinha dez anos!
— Thais...
— Ainda dormi assistindo Titanic. Eu odeio Titanic, Jack é um estúpido! Certamente havia outra porta por perto.
— Claro. — respondeu sem entender o que ela tinha a ver com aquilo tudo.
— Mas esse é um dos filmes favoritos de Sarah e eu não poderia deixá-la sozinha ontem à noite. — Thais observou a mais velha, que agora parecia entender onde ela queria chegar.
Freire desviou o olhar e cercou a própria xícara de cappuccino por cima da mesa.
— Como ela está? — era nítido que a mulher lutava internamente para fazer aquela pergunta.
— Como você acha que ela está? — suspirou. — Juliette, eu conheço a Sarah mais tempo do que conheço a mim mesma. No meu aniversário de 5 anos, ela já estava lá, puxando a toalha da mesa do bolo e acabando com a festa. — a mais velha sorriu, mostrando um pouco dos dentes. — Conheci todos os namorados dela e Lucas foi o único que eu nunca gostei. Acho que ele não gostava de mim também, era um sentimento bem recíproco. — riu. — Ele era ganancioso, ufano e manipulador. Desmarcava compromissos e enviava chocolates para o estúdio, porque sabia que ela sempre perdoava. — brincou com o copo de café. — Mas eu assisti o sorriso dela diminuir com o passar do tempo. E então, quando descobriu a traição, foi o fim. — olhou para a decoradora. — Não sei se você já viu alguém com o coração partido, mas eu vi miha melhor amiga chorar nos meus braços até literalmente perder as forças. Para ser sincera, fui totalmente contra quando ela resolveu ir para o sul com você, porque isso significava ficar longe dos meus cuidados e eu tinha medo do que poderia acontecer. — ela acertou a coluna, encostando no apoio da cadeira. — Quando ela voltou pra cá, vi aquele sorriso voltar. Não sei explicar, mas ela irradiava aquele mesmo brilho de antes. — sorriu. — Tive minha Sarinha de volta.
Um breve silêncio se instaurou entre as duas. Mesmo encarando o copo a sua frente, sentiabos olhos de Juliette acompanhando seus movimentos.
— Só que ontem, quando entrei naquela sala, era como voltar do início.
— Thais...
— Eu me sinto culpada. Me sinto culpada por ter me atrasado, por ter me mudado... — buscou os olhos da decoradora. — Me sinto culpada.
— Não acho que você tenha culpa nisso.
— Isso não importa mais. — umideceu os lábios. — Juliette, eu não posso te convencer de algo que não vi, mas posso te garantir que conheço Sarah tempo o bastante para saber que quando ela gosta de alguém, doa tudo de si; às vezes até mais do que deveria. E eu sei que ela gosta de você.
— Eu nunca disse que...
— Se quer um conselho, ouça o que ela tem a dizer.
A mais velha soltou uma risada anasalada.
— E acha que já não fiz isso?
— Não. — balançou a cabeça. — Ouça de verdade! Sem julgamentos precipitados ou insinuações. Deixe que ela explique o que realmente aconteceu e, então, decida o que fará. — Juliette desviou o olhar para a janela e observou as gotas que desciam calmamente pelo vidro. — Sei que você também gosta dela, caso contrário não ficaria com raiva. — a morena de franjinha abriu sua carteira e buscou uma nota ali. — Se eu fosse você, não deixaria que um mal entendido arruinasse isso. — a outra encarou quando ela colocou uma nota de 50 reais na mesa. — E eu gosto de você, então não seja burra.
Thais saiu da cafeteria em passos largos, deixando uma Juliette totalmente confusa para trás. Braz não sabia se havia sido convincente o suficiente, mas deu partida em sua moto com a certeza de que havia feito sua parte.
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Me desculpem por não ter postado ontem, eu tava meio que passando mal, mas já está ai! E então, quais os palpites de vcs pro próximo capítulo? Juliette vai ir lá tentar resolver as coisas? Vai dar certo ou não? Façam suas apostas!
- xoxo, anny!
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WINE.
Fanfiction| Concluída | O que você faria se encontrasse uma mensagem destinada à outro alguém? No meio de uma desilusão amorosa, Sarah Andrade encontra uma garrafa em uma das praias de Recife com algumas cartas dentro. Sua curiosidade a leva até Juliette Frei...