➼ through the wine.

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Ainda sinto saudades do que não vivemos e todas as coisas parecem lembrar-te. Estou na adega de um navio, o garçom me trouxe uma taça de vinho tinto. Uma safra especial de 1919 em 1942, o vinho parece que não envelhece. Peço-lhe gentilmente outra taça até que acabe a garrafa.
Subo para meu quarto cambaleando um pouco entre os degraus da escada, eu as preferi pois o caminho é mais longo. O álcool já invade minha mente e toma conta dos meus movimentos, sinto que é a última carta que escrevo para você. Alcanço uma caneta e ponho-me a escrever apesar das demasiadas lágrimas que caem sobre o papel.

Através do vinho as palavras saem como sopro ao vento, é tão fácil dizer coisas do coração para quem sente! Botaccio aconselhou-me a livrar-me de todas, mas não sinto fiapos de coragem em meu ser, embora saiba que é o melhor a se fazer. Ainda trago a garrafa do líquido que esvaía-se pela minha garganta um tempo atrás e quando desenho o último ponto final, carimbo-o simbolicamente com minha lágrima.

Ela não tem selo, o destino é incerto. Ela há de ser encontrada por alguém daqui alguns dias ou meses. Eu deixo esta à sorte do desconhecido, talvez nossa história tenha morrido para entrar para a história de outras pessoas. Ou não. Talvez seu destino esteja fadado a boiar toda a sua eternidade e nossa história seja vivida apenas por nós.

Entregarei a carta para o mar na esperança que você leia, na esperança de que seja enviada; na esperança de que na união do mar com o céu, você esteja lá pra mim. Para nós.

Esse é meu último ponto final, mas não é minha última lágrima. Através do vinho eu escrevo, através do vinho eu envio.

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Essa foi a última carta, volto depois de amanhã.

- xoxo, anny!

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