— Saia de perto de mim, Andrade! Você é uma falsa! – a frase era dita aos berros.
Sarah rapidamente limpou a lágrima que rolou por sua bochecha, enquanto apoiava a mão na barriga procurando pelo ar que lhe faltava naquele momento.
A loira tentou proferir algo em sua defesa, mas seu fôlego já havia desaparecido. Thais tentava acalmar o cenário totalmente caótico em que a sala havia se tornado; Gilberto deslizava o dedo freneticamente pela tela do iPad para provar seu ponto, enquanto Sarah dizia algo inaudível.
O homem procurava a foto de uma semana de moda em Salvador, onde havia feito um penteado na loira com uma argola e apliques da mesma cor do cabelo.
— Aquilo é horrível, Gil! Nem pense em chegar perto de alguma modelo minha com essa ideia. — a fotógrafa disse após recuperar o fôlego.
— Tu tinha gostado na época!
— Isso já tem quatro anos! — riu ainda mais quando Thais se rendeu as gargalhadas.
— Vocês não conseguem contemplar uma arte diferente, fashion...
— E horrível. — a morena completou, preenchendo o local com novas risadas das mulheres.
O som do telefone ecoou pela sala em meio às gargalhadas e Sarah fez um esforço a mais para atender a ligação.
— Alô?
— Se Roberta tiver que chamar os dois mais uma vez, não quero estar na pele de vocês. — avisou Becca.
Sarah rolou os olhos e afastou o aparelho do rosto.
— Gil, acho melhor você olhar seu celular.
Ela viu o homem sacar o aparelho do bolso e se espantar com a quantidade de ligações perdidas. Roberta poderia ser uma ótima sócia, mas odiava esperar.
Sem pensar duas vezes, o cabeleireiro tomou a maquiadora pelas mãos e saíram como foguetes pela sala, deixando a fotógrafa sozinha.
O contraste entre as risadas anteriores e o silêncio atual da sala era amedrontador. Sarah odiava silêncios – apesar de serem necessários às vezes. Sua mãe sempre dizia que o silêncio deveria ser usado com moderação, ou passaria de aliado para inimigo.
Entretanto, sua mente parecia deletar todos os ensinamentos de Dona Abadia. Com o mousepad do notebook, vasculhou algumas pastas de documentos, abrindo a que abrigava as fotos do casamento de Ronan e Viviane.
Ela havia feito um belo trabalho, modéstia à parte. Obviamente suas fotos faziam parte de um conjunto grandioso, que envolvia a decoração, a escolha do ambiente e a facilidade dos noivos em serem fotografados. Mas ela admitia seu talento, afinal.
Ronan, Pocah, Jam e até mesmo o Trovejani apareciam por entre as fotos. Em uma delas, o bestman lançava Ronan no ar com a ajuda de outros padrinhos; em outra, Viviane posava com Jam no paredão de árvores do jardim; na seguinte, Juliette fazia uma pose cômica com um dos guardanapos.
Sarah sorriu com aquela. Obviamente não fazia parte do álbum de fotos, era apenas uma fotografia feita por impulso durante um momento descontraído.
A loira rapidamente abaixou a tela do notebook, afastado a poltrona e tomando impulso para se levantar. Ela suspirou fundo ao cravar as unhas nos fios dourados – era nítida a saudade que sentia da mulher. Sua mente era um mar de indecisões; apesar de sentir falta da decoradora, sabia que deveria respeitar o espaço dela, mas, ao mesmo tempo, temia aparentar desinteresse.
Ao andar pelo cômodo, ouviu o som da porta se abrindo e rapidamente se recompôs. Era fato que odiava transparecer fragilidade para qualquer pessoa que fosse, principalmente para Becca, que aproveitava o vidro da porta para entrar em sua sala sem bater.
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WINE.
Fanfiction| Concluída | O que você faria se encontrasse uma mensagem destinada à outro alguém? No meio de uma desilusão amorosa, Sarah Andrade encontra uma garrafa em uma das praias de Recife com algumas cartas dentro. Sua curiosidade a leva até Juliette Frei...