— Você sabe que eu vou mimar demais essa criança, não sabe? — Sarah questionou enquanto acariciava a barriga da mulher.
Era uma agradável tarde de Abril, o outono tingia tudo de cores quentes: as árvores já estavam vermelhas, laranjas e amarelas, e com o cair das folhas, formavam caminhos igualmente vermelhos, laranjas e amarelos.
E aquela era a décima vez que a loira repetia a mesma frase. Ao ouvir aquilo novamente, a outra rolou os olhos.
— Minha bexiga não está sendo esmagada por um feto pra você simplesmente estragar meu neném com suas manias.
28 semanas, ou 7 meses. Sarah sabia que o humor instável era apenas resultado de uma onda de hormônios da gestação e que não havia outra opção, a não ser lidar com aquilo. Ela teria que lidar com aquilo.
— Onde está sua namorada? Tenha filhos com ela e dai você pode criar da sua maneira. — continuou a mulher de, após a retirada de suas trancinhas, cabelo crespo. A fotógrafa gargalhou em resposta, olhando em sua volta e procurando por Juliette no meio da pequena multidão.
De longe, pôde ver a morena sorrindo solenemente durante uma conversa com seu sogro, Evandro Andrade. A taça de clericot em sua mão pouco combinava com o vestido bordô, mas ela estava linda.
Evandro havia cedido o espaço da vinícola para a realização de um leilão beneficente, organizado pela filha. Sarah passou o verão todo ensinando fotografia para filhos de emigrantes em uma ONG e agora, no outono, colocou as fotos e quadros em uma exposição para amigos, empresários e demais componentes da classe alta do Brasil, para que os acolhidos pudessem atingir a autossuficiência por meio do trabalho próprio.
Mas além disso, as vinte e nove horas de viagem dentro do carro havia valido a pena; muitas das paisagens por onde passaram eram extremamente fotogênicas, e isso incluía a propriedade ao sul de Brasília, acompanhado de um cenário em meio a colinas, oliveiras e vinhedos. É quase mágico viajar pelos caminhos de região vinícola no outono – seja por ser época de colheita ou pelo fato da mudança habitar em todos os lugares que se olha. É nessa estação onde as folhas flutuam no chão, as vinhas exibem seus vermelhos e dourados após o verde do verão, onde os ventos aumentam, os dias ficam mais curtos e o canto dos pássaros mais difíceis de ouvir, o que é compensado pela beleza das novas penugens. No entanto, um passeio por uma vinha rodeada de cores quentes é uma experiência que restaura e estimula.
— Já escolheu o nome? — Sarah voltou a prestar atenção em Camilla.
— Gosto de Heloá e Henrique — sorriu. —, mas Matheus não tira da cabeça que prefere Maya e isso realmente está me enlouquecendo.
— Ei, eu conheci uma Maya na época da escola! — disse com entusiasmo ao lembrar da jovem. — Mas qual o problema com o nome?
— Parece nome de cachorro. — a loira precisou apertar os lábios para impedir que o champanhe, que acabará de bebericar, saltasse de sua boca. — Minha vizinha tinha uma cachorrinha chamada Maya. Ela pulava a cerca e comia todos os sapatos que eu deixava fora de casa. Não quero que minha filha seja indisciplinada igual.
— Eu posso convencer Matheus a desistir, se quiser.
De Lucas cerrou os olhos e imediatamente parou a carícia que fazia em sua própria barriga; não acreditava na bondade gratuita de Sarah.
— O que você quer?
Um sorrido megawatt logo surgiu no rosto da outra.
— Um macacão escrito "Eu amo minha titia Sarah Andrade". — a loira tomou bastante ar antes de proferir seu desejo nessa oportunidade única que recebeu.
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WINE.
Fanfiction| Concluída | O que você faria se encontrasse uma mensagem destinada à outro alguém? No meio de uma desilusão amorosa, Sarah Andrade encontra uma garrafa em uma das praias de Recife com algumas cartas dentro. Sua curiosidade a leva até Juliette Frei...