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A família Freire tinha o costume de se reunir todos os domingos para um almoço em família e uma partida de dominó amigável. Dona Fátima e Seu Lourival, pais de Juliette, os recebiam toda semana como uma espécie de ritual. Entretanto, por morar algumas horas de distância, a decoradora não tinha condições de encontrá-los toda semana, mas se comprometia em viajar para Paraiba pelo menos uma vez no mês e passava o fim de semana inteiro com os familiares.

A mulher sempre foi próxima a família e nem mesmo a distância do seu trabalho era capaz de afastá-la de suas raízes. Juliette nasceu em Campina Grande, uma cidade aconchegante na região intermediária de Paraiba, e por mais que amasse o estilo praiano de Recife, aquela sempre seria sua casa.

Juliette estava sentada na mesa e rodeada de familiares. Eles compartilhavam histórias antigas e novidades com muitas risadas e a intimidade típica dos Freire. Lourival, seu pai, contava uma história divertida de quando a pequena ficou nervosa às vésperas de uma apresentação escolar e perdeu os sapatos na privada ao dar descarga, tendo como única alternativa uma bota vermelha de cowboy encontrada no acervo teatral. Juliette ria envergonhada.

— Tudo bem, acho que já entendemos — disse com um sorriso, enrolando o garfo na macarronada.

— Sempre será a chupapéda! — seu irmão a chamou pelo nome de infância, implicando.

— Não comece e eu contarei histórias suas também! — o mais velho respondeu fazendo a mesa toda rir.

A mulher balançou a cabeça divertida enquanto os outros entraram em uma nova discussão animadora. Ao final, pediu licença para levantar-se e ajudar com a sobremesa. Torta de maçã feita por sua tia, sorriu ao pensar em Camilla; ela adoraria estar desfrutando da receita que segundo ela, era sua favorita.

— Filha, semana passada teu pai finalmente resolver arrumar a garagem. Depois de anos finalmente consegui fazer ele jogar aquele piano quebrado fora. — Fátima comentou passando uma mecha do cabelo de Juliette para trás de sua orelha. Ela estava feliz por ter a filha de volta.

— O marromzinho? Uau, isso é uma vitória! — respondeu dando uma garfada em sua torta.

— E sabe mais? Encontramos algumas caixas, acho que perdemos na bagunça da garagem durante a mudança. Tem brinquedos de Eninha e algumas fotos tuas, acho que você vai gostar de ver.

Juliette abriu um sorriso radiante. Era claro que ela gostaria de relembrar coisas de sua infância, principalmente a boneca que ganhou aos 7 anos e que dividia com sua irmã, mas que nunca mais a viu. Ao levar o último pedaço de torta à boca, a decoradora seguiu sua mãe até o quarto praticamente saltitando; ela estava muito animada.

Apesar de a maioria das coisas serem de Julienne, ela achou alguns pertences; alguns boletins escolares, a medalha de ouro do concurso de talentos e um álbum inteiro de fotos. A morena observou a capa vermelha com alguns desenhos feitos por ela e recortes de palavras de revistas e jornais que formavam seu nome completo, Juliette Freire Feitosa. Ela recordava vagamente daquele álbum, mas seus olhos encheram-se de lágrimas ao ver as fotos, como se sua mente fosse invadida por flashes de memórias. Uma delas chamou sua atenção: estava sentada em uma das pernas do colo de seu avô com um babador maior que o corpo e sua irmã sentada na outra perna, enquanto o mais velho segurava uma colher cheia de sopa.

— Quantos anos tinhamos aqui? — indagou apontando para a foto em questão.

— Você três e sua irmã cinco. — Fátima respondeu.

Juliette limpou a garganta para livrar-se do nó que se formou.

— Eu mal lembrava dos rostos deles.

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