O relógio ainda marcava 6h quando Juliette ouviu um barulho que dispersou seu sono. Ao abrir os olhos, encontrou nada mais do que o silêncio comum que se esperava para um quarto naquele horário. Ela bufou. Estava tendo um sonho realmente bom, onde Anitta lhe entregava uma taça de vinho com um olhar convidativo.
Ela tinha que acordar antes de um possível beijo?
Ao virar-se novamente para tentar terminar o que havia começado, ouviu outro barulho. Dessa vez, mais claro por estar acordada, e era como batidas na porta.
Batidas na porta?
A decoradora afastou os cobertores e levantou-se contra sua própria vontade até a porta de madeira ao fundo do quarto. Ao abri-la, se deparou com uma loira incrivelmente disposta, fazendo um contraste perfeito com o seu cabelo moreno desgrenhado e rosto inchado.
— Bom dia, Srta. Freire! — o sorriso de Sarah aumentou assim que seu olhar encontrou o de Juliette.
— Bom dia. — respondeu com a voz rouca de sono. — O que faz aqui às seis da manhã?
— Eita, desculpa ter te acordado. — fez uma careta. — Na verdade, estou aqui pra te fazer um convite.
— Às seis da manhã?
— Sim! Você lembra do lago que vimos no mapa que Ronan me deu? — a outra confirmou com a cabeça. — Quero ir ver ele e também queria que você fosse comigo.
— Às seis da manhã? — repetiu encostando no batente da porta. Sarah entendeu que era uma pergunta retórica e apenas sorriu. — Certo. — Juliette suspirou e olhou ao redor. — Espera só eu colocar uma roupa.
Depois de fazer o necessário para iniciar o dia, Juliette colocou roupas leves e desceu até a cozinha pra desfrutar de um café da manhã reforçado. Sarah logo a puxou pelas mãos e juntas saíram da casa.
— Ei, Ronan disse que o lago fica à uns 6km daqui, acho que podemos ir andando, né? — antes mesmo que Juliette pudesse responder algo, ou melhor dizendo, protestar, Sarah soltou uma gargalhada. — Eu estou brincando! Você deveria ter visto sua cara.
— Quantos comprimidos de anfetamina você tomou essa manhã? — Juliette perguntou com os olhos semi-cerrados.
A loira riu ainda mais, confirmando a suspeita de Juliette: Sarah claramemte estava sob efeito de drogas ilícitas ou era louca. A morena apostaria na segunda opção, mas também não descartaria a primeira. Afinal, quem consegue ser feliz plena seis horas da manhã?
Ela balançou a cabeça seguindo os passos da nova amiga e assim caminharam por cerca de vinte minutos até o lago. O sono de Juliette parecia ter desaparecido ao passo que sua conversa com a fotógrafa se estendia, bastou alguns minutos em contato com a natureza para que sua disposição se igualasse à de Sarah.
A vista era realmente linda, como previu a loira. O lago não parecia ser muito grande e sua extensão se perdia nos conjunto de árvores logo atrás no horizonte. Já o pequeno cais de madeira começava a beira da água e cortava uma parte do lago com suas grossas estacas conectadas por cordas de sisal. Amarrados às primeiras estacas se encontravam dois simples barcos virados e uma placa ao lado pedia para que os devolvessem após o uso.
Elas empurraram um dos barcos pelo solo arenoso com pedras e galhos até a água, onde sentaram-se nas extremidades.
— Desde quando você fotografa? — Juliette indagou tirando da mochila uma embalagem de mini-oreo sabor morango que roubaram da cozinha. Ela amava aqueles biscoitinhos.
Sarah olhou ao redor e pareceu pensar.
— Gosto de dizer que desde os sete anos, quando pegava a Polaroid do meu pai escondido para tirar fotos. Ele me deu uma câmera digital compacta na época, mas mesmo assim eu continuava usando a dele escondida, simplesmente não gostava da ideia de ter que esperar para ter as fotos em mãos. — Sarah pôs os olhos nas árvores que acompanhavam a volta do lago. Elas já estavam em uma distância considerável da margem e decidiram parar de remar. — Minha mãe era muito ocupada com o trabalho, então eu passava muito tempo com meu pai antes e depois do divórcio. — continuou. — Ele tem uma vinícola ao norte de Brasília, daí todo final de semana eu estava lá tirando fotos das plantações de uva e da incrível vista do rancho.
Sarah pescou sua câmera na bolsa e pôde sentir a diferença entre a que estava em sua cabeça e a que segurava.
— Eu pesquisei seu nome no Google. — Juliette confessou envergonhada, fitando as próprias mãos. — Vi algumas de suas fotos e, uau, você realmente nasceu para isso.
Sarah sorriu. Um sorriso confuso, porém verdadeiro. Ela não sabia exatamente como lidar com o fato de uma desconhecida ter se interessado sobre sua vida ao ponto de jogar seu nome na maior plataforma de pesquisa da Internet. Mas, de alguma forma, ela gostou disso.
Juliette ainda esboçava um sorriso desconcertado no rosto quando a loira ergueu um dos dedos.
— Não se mexa! — a mais nova pediu.
— Sarah, o que...
O sol atrás da decoradora aflorava os sentidos da loira. Ela posicionou sua câmera, focando na mulher em sua frente. Fotometrou e se deslocou levemente pro lado para que o sol aparecesse. Os raios solares formavam um efeito perfeito e Juliette poderia ser uma ótima modelo.
— E você? — perguntou analisando a foto e posicionando a câmera novamente.
— Eu não sei ao certo. Meus pais sempre me deixaram livre para decidir meu destino, mas acho que nunca soube usar isso ao meu favor. Eu fui aceita numa faculdade federal para cursar direito, mas percebi que aquilo não era pra mim. Na verdade, eu cai de paraquedas nesse ramo, apenas me encaixei.
— Eu acho que você soube usar isso ao seu favor, sim. — mais um clique na câmera. — Não procurei pelo seu nome no Google, mas pelo pouco que vi do portfólio de decoração da Clair de Lune, eu contrataria sem dúvidas.
— Essa não é uma bela maneira de conhecer meu trabalho, Srta. Andrade. — sorriu antes de levar outro biscoito até a boca. — Ultimamente estou mais na parte administrativa.
— Uau, que chato. — Sarah encostou o braço na borda do barco.
— Um pouco, existem dias mais movimentados. Porém talvez você possa conhecer esse meu lado aqui. — piscou.
— Anh, e o que está achando da vista? É um bom lugar? — a loira mudou de assunto.
— Parece perfeito! As fotos aqui podem ficar lindas na mão da pessoa certa.
— E da modelo certa. — Sarah sorriu enquanto passava as fotos na câmera. Ela parecia tão concentrada, tão satisfeita e apaixonada pela sua profissão. Era nítido que não eram apenas fotos para a loira, parecia ser maior que aquilo. É raro um profissional ser tão apaixonado pelo que faz ao ponto de passar a sensação adiante; Juliette nunca havia tocado em uma câmera profissional antes, mas observar Sarah também entregue despertou em si, mesmo que por uma fração de segundos, a vontade de ser fotógrafa.
Sem jeito diante do sutil elogio, a morena espelhou o sorriso da nova amiga. Ela se repreendeu mentalmente por chamá-la de louca e obcecada semanas antes, afinal, Sarah se mostrava uma ótima pessoa e naquele momento a teoria da fotógrafa tinha grandes chances de estarem corretas, caso contrário não estariam dividindo um pequeno marco no sul do país.
— Gosto da sua companhia. — admtiu.
Pela primeira vez em semanas, a fotógrafa sorriu genuinamente. Era um sorriso diferente, sem qualquer peso em relação ao seu trabalho ou o ex-noivo. Pela primeira vez em semanas, Sarah estava se sentindo leve o suficiente para aproveitar a companhia de outra pessoa sem se sentir sufocada, e saber que era recíproco lhe deixou ainda mais feliz.
Aquela manhã passou rápido, assim como a tarde que mal viram chegar e já ir embora. Só perceberam o quão tarde estava quando precisaram ligar a laterna do celular.
E elas não se importaram.
• • •
Nada pra pôr aqui, mas como foi o dia de vcs?
- xoxo, anny.
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WINE.
Fanfiction| Concluída | O que você faria se encontrasse uma mensagem destinada à outro alguém? No meio de uma desilusão amorosa, Sarah Andrade encontra uma garrafa em uma das praias de Recife com algumas cartas dentro. Sua curiosidade a leva até Juliette Frei...