"Eu tenho buscado esse sentimento, buscado a minha vida toda." — Holiday.
Sentada na areia de uma das gélidas praias de Santa Catarina, Juliette pensava na história que acabou de descobrir por Celia Botaccio e se perguntava se deveria ou não contar para sua mãe. Fátima era mente aberta e nunca teve problema algum em aceitar a sexualidade de sua filha, mas a morena pensava ser uma história muito mais delicada para se contar.
O vento que movia a água do mar trouxe o perfume doce, e Juliette não precisou virar o rosto para saber quem estava ali. Sarah trazia consigo um churros em cada mão e um sorriso satisfeito no rosto, foi impossível não retribuir.
Por mais que estivesse adorando o lado sul do país, onde passou as últimas quatro semanas, Sarah tinha um compromisso inadiável no dia seguinte e por isso decidiram voltar para Pernambuco no mesmo dia.
Segundas-feiras são agitadas para fotógrafos.
— No que está pensando?
— Como é? — livrou-se de seus próprios pensamentos.
— Você está séria demais para alguém prestes a devorar um churros coberto por recheio de chocolate e granulados coloridos. É o seu favorito!
— Acha que devo contar para minha mãe? — a morena perguntou encarando o doce.
— Ela iria querer saber?
Juliette uniu as sobrancelhas, deixando os ombros caírem logo em seguida. Ela iria, sim, querer saber.
Ela e Fátima eram como melhores amigas. Não foi tão difícil contar sobre o seu primeiro affair ou apresentar sua primeira namorada. Juliette cresceu ouvindo histórias da infância de sua mãe no lugar de contos de fadas antes de dormir; eram muito mais interessantes.
Ela sabia que, mesmo parecendo algo bobo, Fátima faria questão de saber mais uma história sobre sua família. Mas, apesar de ser bobo, Juliette não tinha ideia de como contaria que sua vó era, na verdade, apaixonada por outra mulher e que havia casado com seu avô por mera obrigação e não por amor, como sempre havia lhe contado. Agora entendia Célia; ela não queria destruir a memória que sua mãe tinha do próprio pai.
— Sei que é um assunto íntimo demais, mas caso você se sentir insegura em fazer isso sozinha, saiba que estou aqui para te acompanhar. — ao concluir, Sarah mordiscou um pedaço do churros em sua mão, como se não soubesse o impacto que aquela frase havia tido na mente da decoradora.
A loira desfrutava de seu doce com a mesma serenidade que apreciava a vista em sua frente.
Em tão pouco tempo, a presença da mulher havia se tornado algo tão rotineiro em sua vida, que sabia que sentiria falta. Era inegável que, a essa altura, já nutria algo especial pela fotógrafa e nem ao menos fazia questão de esconder. Mas a morena sabia que Sarah tinha uma vida fora dali; fora do mundo particular que construíram naquelas quatro semanas. Do outro lado do muro, outra realidade esperava pela loira e as coisas obviamente não seriam mais as mesmas.
Ela observou a mulher contemplar a incrível vista da praia da Ilhota, acompanhada do lindo céu azul daquele dia. A fraca brisa guiava os longos fios dourados pelo ar e deixava a imagem da mulher ainda mais angelical. De repente, seu coração apertou um pouquinho dentro do peito, com receio do depois. Ela queria perguntar o que viria a seguir, afinal, continuariam com seja lá o que estava acontecendo entre elas, ou seguiriam suas vidas de onde haviam parado?
— Sarará. — chamou. A mulher, que se dividia entre saborear seu churros e puxar a coleira de Ralph para perto, virou-se lentamente para prestar a devida atenção à decoradora. Mas então, toda sua coragem de segundos atrás se dissipou ao cruzar os olhos com o tom oliva que estavam o verde da outra naquela tarde. Não queria, de maneira alguma, estragar aquele momento. — Você tem doce de leite no seu rosto. — aproximou para limpar e se recompôs logo em seguida.
— Eita, é verdade. — passou a mão no mesmo lugar em um hábito bobo. — Achei que fosse apenas uma desculpa para me beijar.
— Eu não quero te beijar. — foi rápida em dizer, recebendo um olhar espantoso. — Sua boca está com gosto de doce de leite e eu não gosto.
— Como assim você não gosta de doce de leite!? — a loira tomou ar com a boca, uma feição chocada em seu rosto. — Está vendo isso, Ralph? — encarou o cachorro que agora latia aparentemente sem motivo algum. — Os gostos dessa mulher são totalmente duvidosos.
— A opinião de alguém que come pizza de brócolis e palmito, mas pede pra tirar a azeitona, também deve ser colocada em dúvida...
— Eu sabia que você iria fazer isso — semi-cerrou os olhos. —, usar a azeitona contra mim! — Juliette riu. — A azeitona afeta o gosto da pizza. — explicou.
— Peste! Tem certeza que o chifre não está afetando o seu paladar?
— Juliette! — repreendeu com a mão em seu próprio peito, vendo a morena rir. — Certo, você não sabe o que diz. A primeira coisa que farei quando chegar em Pernambuco, será te levar na Forneria 1121.
— Que isso?
— Um restaurante a três quadras da minha casa. Eu vou te provar que não precisamos da azeitona pra pizza ser gostosa. — piscou.
Tudo bem, talvez aquilo pudesse ter despertado uma certa luz dentro da morena, uma pequena esperança. Ela não conseguiu esconder um sorriso em seu rosto.
E nem controlar sua mão, já que colocou uma mecha loira atrás da orelha da mulher e fez uma pequena carícia na curva de sua bochecha.
— Pode ser, mas precisamos ir agora. — murmurou.
— Não, Ju. — respondeu no mesmo tom, porém mais manhoso. Ela ainda tinha os olhos fechados por conta da carícia. — Não precisamos.
— Teremos que pagar uma multa alta pelo atraso do carro.
— Eu pago.
— E comprar outras passagens para Recife, já que o nosso vôo é daqui a uma hora e você tem um compromisso importante amanhã.
— Eu freto um jatinho particular se isso significar continuar aqui, exatamente como estamos, por só mais um tempinho. — Juliette balançou a cabeça. Ela sabia que Sarah poderia fazer isso, se quisesse. — Sabe... Existe um conceito na fotografia que você deveria aprender, se chama "ponto de vista".
— Sarah...
— Você acha que essa vista é a mais linda de todas, mas alguém que está em alguma varanda desses vários prédios, em um andar alto, tem uma visão completa da praia. A vista pode ser ainda mais interessante, se observada daquele ponto.
— E o que você quer dizer, é...?
— Que você deveria olhar de outro ponto de vista agora mesmo. — afastou os cabelos castanhos do pescoço da mulher, deixando um beijo molhado em seu ponto de pulso. Ao ouvir um suspiro tímido, subiu os lábios até a orelha e continuou. — Em vez de pensar em multas e passagens, apenas aproveite a bela vista da praia da Ilhota enquanto eu te dou beijos no pescoço.
— Hm. — Juliette sorriu, totalmente encantada. — A vista parece ser mais interessante, se observada por esse ponto.
— Então fique só aqui e esqueça todo o resto. — Sarah devolveu o sorriso, agora encarando os imensos olhos cor avelã.
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Surpresa!
Como estamos? Já deu tempo de processar todas as informações do capítulo passado? Enfim, vejo vocês na terça (ou quarta). Obrigada por tudo, pessoas incríveis!! <3- xoxo, anny!
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WINE.
Fanfiction| Concluída | O que você faria se encontrasse uma mensagem destinada à outro alguém? No meio de uma desilusão amorosa, Sarah Andrade encontra uma garrafa em uma das praias de Recife com algumas cartas dentro. Sua curiosidade a leva até Juliette Frei...