Quintas-feiras são maravilhosas. Não tão boas quanto sextas-feiras, mas são um indício de que a semana está chegando ao fim. E especialmente aquela quinta-feira chegava a ser mágica.
Ser chefe de um dos departamentos mais importantes da empresa podia ser exaustivo e estressante, mas tinha seus privilégios. Um dia inteiro de folga significava um mundo inteiro de possibilidades para aproveitar seu tempo. Então, sem pensar duas vezes, dirigiu rumo ao oeste do centro de Recife para convidar a fotógrafa para um jantar. Dessa vez, em seu restaurante favorito.
A grande e luxuosa fachada de vidro do estúdio era algo que chamava a atenção.
Certo, aquilo era compatível com a condição financeira de Sarah, assim como o Audi A3 Sedan preto em sua garagem. Apesar da loira não ser uma representação de São Francisco de Assis – que renunciou sua riqueza em busca de um bem maior –, não costumava esbanjar ou vangloriar-se do dinheiro que possuía. Ela não negava pertencer à uma família influente, mas definitivamente não se importava.
Com as duas portas abertas, Juliette foi recebida por uma jovem na recepção.
— Bom dia! — lançou-lhe um belo sorriso.
— Bom dia! A Sarah está?
— Você tem hora marcada?
— Oh, não, não sou cliente. — sorriu. — Vim apenas fazer uma visita.
— Claro. — assentiu. — A senhorita Andrade está ocupada no momento, mas você pode aguardar em nossa sala de espera.
Juliette consultou o relógio em seu pulso, considerando voltar em outra hora. Mas já que estava ali, decidiu esperar. Afinal, sua quinta-feira estava livre e ela agradeceu por isso.
Ao sentar em uma das poltronas, viu quando uma mulher adentrou o local com certa pressa. Ela se apoiou no balcão da recepção, jogando sua bolsa no chão.
— Cheguei! — seu tom era alto e ofegante. — Viu só? Eu disse que chevava em meia-hora. — Ela sorriu orgulhosa de si mesma. Seu sorriso era encantador e unico, assim como sua beleza.
— Ela vai te matar, espero que saiba disso. — a recepcionista alertou.
— E por que? O estúdio está vazio... — notou a presença de Juliette e se aproximou. — Ah, nem vem! Você está adiantada, a culpa não é minha.
— Acho que não sou a pessoa que você pensa que sou. — riu do desespero da mulher. — Estou apenas esperando por Sarah.
— Ai, graças a Deus! — colocou a mão no próprio peito, aliviada. — Estou duas horas atrasada e a general Carolline deve estar querendo a minha cabeça.
— E por que? O estúdio está vazio. — piscou. A outra mulher abriu um sorriso alegre em resposta. — Você deve ser a Thais, né? Ela fala muito de você. — estendeu a mão. — Sou Juliette Freire.
— Espera, você é A Juliette? — uniu as sobrancelhas; a decoradora assentiu. — Uau, bem que ela disse que você era linda.
— Obrigada. — respondeu envergonhada.
— E o que está fazendo aqui embaixo? Ela não tem cliente pelos próximos dez minutos.
— Thata, a Sarah está...
— Shhh, Becca! — exclamou para a recepcionista. — Se eu chegar com a Juliette, ela vai até esquecer que estou atrasada.
Braz olhou para a decoradora como se fosse um trunfo, uma carta na manga. E, com duas horas de atraso, a maquiadora não tinha vergonha de admitir que usaria a morena como escudo.
Após ter sua mão puxada pela mulher, Juliette fez seu caminho pelos degraus perfeitamente confeccionados em mármore branco piguês, sentindo um pequeno frio na barriga.
Era ridículo o modo em que a loira a deixava; o modo que fazia suas pernas tremerem e seu estômago revirar de nervosismo só de olhar o par de esmeraldas que eram seus olhos.
Ela não se dizia apaixonada, mas não se recordava a última vez em que se sentiu assim. Não procurava algo minimamente concreto com alguém desde a última tentativa com sua ex-namorada. Apesar de não ter nada sério com Sarah, não era como as noites que tinha com desconhecidos; diferentes deles, ela não ia embora no dia seguinte.
— Assim que eu abrir a porta, você corre para os braços dela. Não espere um segundo sequer, ou ouvirá palavras nada agradáveis saindo daquela boca.
Mas não foi preciso que Thais abrisse a porta para Juliette colocar os olhos em Sarah. Ao subir o último degrau, teve uma vista privilegiada da sala, através da imensa estrutura de vidro. Ela não estava sozinha. Não. Estava perfeitamente acompanhada de um homem um pouco mais alto que ela, sua cintura envolvida pelas firmes mãos e seus lábios, selados.
A partir daí, tudo parecia acontecer em câmera lenta. As pernas da morena pareciam vacilar e, durante o milésimo de segundo que durou a cena, ela sentiu o impacto avassalador da surpresa, incredulidade, decepção e tristeza. Quando os rostos se afastaram, a loira notou sua presença. E então, o chão sob seus pés parecia se abrir: olhar para seus olhos, naquele momento, era como ser atingida por um projétil.
Através da porta de vidro, a decoradora viu Sarah se desvencilhar dos braços do rapaz e correr em sua direção.
— Juliette... — tentou se aproximar, mas a morena deu um passo para trás.
— Desculpa — sua voz vacilou. —, eu já estou de saída.
Ela saiu tão depressa, que nem ao menos permitiu que a loira a segurasse. Se antes suas pernas pareciam vacilar a qualquer momento, agora tornaram-se reféns da imensa onda de adrenalina que invadiu seu corpo, descendo os degraus como um furacão. Ela ainda pôde ouvir as súplicas de Sarah para que a escutasse, mas estava determinada a não olhar para trás.
Nunca mais.
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Confessar pra vcs que escrevi esse capítulo com o coração apertado e chorando, mas nunca é tarde pra um drama, né? Volto na terça amores!
(Espaço exclusivo para ameaças e xingamentos, pq sei que depois vocês vão querer me abraçar!)
- xoxo, anny!
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WINE.
Fanfiction| Concluída | O que você faria se encontrasse uma mensagem destinada à outro alguém? No meio de uma desilusão amorosa, Sarah Andrade encontra uma garrafa em uma das praias de Recife com algumas cartas dentro. Sua curiosidade a leva até Juliette Frei...