— Quatro goles pelo seu pensamento. — a loira ergueu a garrafa de cerveja em sua mão.
Duas semanas havia se passado desde o dia em que Sarah convidou a morena para almoçar. Dai em diante, elas se tornaram tão íntimas dentro daquela casa que toda noite se encontravam em seus quartos para conversar – e às vezes beber – até o sono chegar. Esse foi o jeito que encontraram de não se sentirem sozinbas durante aquelas quatro semanas.
As duas estavam, agora, sentadas no chão ao pé da cama de Sarah. Sempre se encontravam no quarto que tivesse o frigobar mais abastecido, e naquele dia a loira se certificou de oferecer 50 reais para uma das madrinhas em troca das bebidas do frigobar. Abastecimento duplo, perfeito!
— Estou bêbada, não deveria se interessar pelos meus pensamentos. — a mais velha jogou a cabeça para trás, apoiando-a na cama. Sarah balançou a cabeça. — Tudo bem — Juliette se virou de frente para a mais nova. — Estou pensando que... Teus olhos estão bem verdinhos hoje, Sarah.
— Eles são bem verdinhos. — repetiu fitando os marrons da outra.
— E bem lindos.
— Justo. — piscou antes de levar o gargalo até a boca.
— Sarah... — Juliette sorriu e se aproximou.
— Sim?
— Você ainda acha que pode se apaixonar de novo?
— Eu não sei. — sua voz saiu falhada. — E você?
— Não sou eu quem perdeu a fé no amor. — bufou voltando para a mesma posição de antes.
— Enchemos o frigobar de cervejas, você não estaria aqui de não estivesse no mesmo nível que eu.
— Ótimo, uma sessão de terapia. Vá em frente, conclua de alguma forma que tenho propensão ao alcoolismo por traumas em relacionamentos passados.
— Me chame de Dra. Andrade. — respondeu próximo ao ouvido de Juliette.
Sarah viu o arrepio provocado na pele da outra e gostou da sensação. Sem pensar direito, refez a aproximação até a mulher e sentiu sua respiração descontrolada. De repente, provocar coisas em Juliette era sua nova brincadeira favorita.
Ela levou uma das mãos até o queixo da outra, delicadamente virando o rosto para si. Os olhos inebriantes da mulher alcançaram os seus e Sarah rapidamente provou do próprio veneno; um arrepio percorreu sua espinha fazendo-a engolir seco. Os rostos já estavam perigosamente próximos e Sarah já podia sentir o cheiro do hálito de Juliette, uma mistura gostosa entre o amargo da cerveja com o sabor suavemente ácido e salgado dos cubos de queijos assaltados da cozinha.
Elas não disseram uma palavra sequer, o silêncio parecia a melhor opção. Era como se qualquer palavra ou o menor dos movimentos pudesse arruinar aquele momento. Não entendiam o porquê, mas por alguns instantes aquela intensa troca de olhares era tudo o que importava.
Três batidas na porta foram o suficente para Juliette cair em si e desvencilhar o rosto, fazendo com que Sarah se afastasse.
— Está aberta. — gritou ainda observando a mulher.
— Imaginei que estariam aqui quando Carlinha me contou que você ofereceu dinheiro pela bebida do frigobar. — Pocah fechou a porta atrás de si. — Ronan está jogando aquele PlayStation idiota e isso aqui parece uma reunião de mulheres.
— Por que homens são tão obcecados por um video-game? — Sarah se manifestou depois de respirar fundo e fingir que os segundos anteriores não haviam acontecido. — Às vezes Lucas deixava de transar pra jogar num desses. No fim dei graças a Deus por ter me traído com uma mulher e não com um joystick.
As outras mulheres riram.
— Então... Do que estavam falando?
— Nada que vá te ajudar a ter coragem de subir naquele altar semana que vem. — Juliette respondeu.
— Qualquer coisa é melhor do que assistir um jogo de futebol.
— Pocah, se tu quiser desistir, nós estamos aqui. Não é, Sarará?
— Claro, eu consigo um carro. Você pode ficar na casa da Juliette, Ronan não sabe onde é.
As duas brindaram suas garrafas concordando.
— Não, não. Estou bem, só preciso de sexo e um pouco de álcool.
— Bem-vinda ao clube. — Juliette riu erguendo a mão.
— Mas vocês podem transar. — abriu o frigobar sob os olhos curiosos das outras duas. — Meu deus, não! Não digo de vocês transarem juntas. Quer dizer, vocês podem transar se quiserem, não quero me meter na vida íntima de ninguém. — Sarah não pôde segurar a risada, o álcool já fazia efeito. — Quis dizer que vocês têm uma casa inteira com quem podem transar, não precisam esperar o cara largar um jogo idiota.
Juliette virou mais um gole e Viviane caminhou até a porta.
— Onde você vai? — a mais velha indagou.
— Vou fazer meu noivo largar o jogo idiota. — ergueu a bebida em sua mão.
— Achei que fosse ficar.
— Hm... Tenho outros planos. — riu abrindo a porta. — Cuida dela, aí com certeza tem mais garrafas do que ela geralmente aguenta.
Sarah virou o rosto lentamente e sorriu para a mulher ao seu lado. O verde de seus olhos já eram facilmente substituídos pelos grandes cílios pretos e perfeitamente alinhados; Pocah tinha razão.
Juliette sorriu de volta e gentilmente tomou a garrafa de sua mão.
— Eu sempre cuido.
• • •
Oii, como estamos?
Obrigada pelas 800 estrelinhas, isso é muito, muito, importante pra mim. Fiquem bem até terça, vcs são incríveis! <3- xoxo, anny!
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WINE.
Fanfiction| Concluída | O que você faria se encontrasse uma mensagem destinada à outro alguém? No meio de uma desilusão amorosa, Sarah Andrade encontra uma garrafa em uma das praias de Recife com algumas cartas dentro. Sua curiosidade a leva até Juliette Frei...