𝗰𝗶𝗻𝗰𝗼

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NOAH URREA


Ainda sentado no sofá decidi ter a péssima decisão de ligar a TV, não demorou pra que meu rosto estivesse estampado no programa genérico sobre famosos. 

"O boxeador Noah Urrea se envolveu numa confusão com paparazzis, pelas nossas informações ele bateu em um deles e o xingou de nomes não permitidos ao horário, acompanhe imagens..." 

E mais uma vez minha vida estava exposta de forma distorcida no noticiário. 

— Parece que a noite foi boa ontem. 

Pro meu dia piorar minha "hóspede" que tem tornado minha vida infernal a uma semana aparece. 

— Não acredita nessas merdas não é? 

— Bem, pelo pouco que te conheço, não duvido que tenha feito isso. 

Ela me deu as costas indo a cozinha e eu a segui a vendo colocar a mesa. 

— Ele começou falando sobre mim, só retribui. — Expliquei 

— Infelizmente ele não é um boxeador famoso, então todos vão falar apenas sobre você, esperto. 

— Odeio sua ironia, Sina. 

— É sempre um prazer melhorar seu dia, Urrea. — Ela riu — não deveria ligar pra essas notícias. 

— Eu não ligo, que falem, mas que seja verdade pelo menos. 

— Verdades não dão audiência. 

— Bem... Vou pra academia, será que consegue continuar viva até eu voltar? 

— Não sei porque está preocupado, seria um favor eu não estar. 

— Qual a dificuldade de apenas concordar com o que eu falo? 

— Não é uma das minhas virtudes, daddy 

Ela adorava me chamar assim apenas pra ver minha reação, não sabia que poderia haver tantas coisas que me tirassem do sério em uma garota só, Sina tinha capacidade de brincar com as palavras de uma forma tão impressionante que estava mais fácil lutar do que ficar em paz dentro do meu próprio apartamento. 

Decidi não continuar ali e fui até a academia, cumprimentei outros que treinavam e não demorou pra que eu recebesse o olhar de reprovação do meu treinador. 

— Não começa com isso, Simon, me atrasei no máximo dez minutos. 

— Não estou bravo por isso — Ele cruzou os braços — pra sua falta de sorte eu sei ligar a TV e vi o noticiário. 

— Você sabe como eles são... 

— Urrea, não é bom pra você essas confusões. 

— Os patrocinadores adoram quando apareço na TV, por bem ou por mal. 

— Mas eu não... Me preocupo com você, não quero que fique manchado por ser o garoto problema, e seus remédios? 

— Eles perdem um pouco de efeito com a bebida, mas isso tudo é idiota — Comecei a colocar as luvas — não sei porque preciso daquilo. 

— Bipolaridade é sério, machuca as pessoas a sua volta, talvez só quando perder alguém por isso vai aprender 

Simon era sério e eu sentia sua preocupação verdadeira comigo, então engoli meu orgulho concordando com o que ele dizia.

Nunca me preocupei que as pessoas ficassem e não seria agora que isso começaria, então viver com a bipolaridade nunca foi doloroso. 

O treino seguiu intenso, estava próximo de uma luta importante e sentia que estava próximo de ter um ataque a cada momento que me imagino perdendo. 


De volta ao meu apartamento encontrei Sina andando de um lado pro outro falando no celular, nem havia notado minha presença, apenas quando desligou desviou o olhar na minha direção. 

— Estava falando com a Sabina — Explicou animada — a cirurgia do seu pai foi um sucesso. 

— Ótimo. 

— Deveria ligar pra ela, conversar sobre isso. 

— Não lembro de pedir conselhos. 

Ela soltou um suspiro e me encarou séria, pela primeira vez parecia pensar ao invés de apenas começar a retrucar. 

— Deveria falar com seus pais, Noah... Já conheci os dois, são ótimos. 

— Então você não conhece os dois de verdade. 

— Estou tentando te ajudar, no dia que eles não estiverem mais aqui vai sentir falta.

Antes que eu formulasse uma resposta, ela me largou sozinho subindo as escadas de forma rígida e agora eu não podia culpa-la pela sua reação nervosa, porque logo me dei conta, Sina deveria odiar saber que tenho meus pais enquanto ela não tem mais nada. 

Soltei um suspiro olhando pro meu celular e acabei me dando por vencido ligando pra Sabina, assim que chamou comecei a me arrepender e logo escutava a voz sonolenta da minha irmã do outro lado. 

— Sabina? Sou eu, Noah. 

— Não esperava que você fosse ligar... Aconteceu alguma coisa? 

— Não, eu... Eu só quero saber como ele está. 

— A cirurgia foi ótima, inclusive ele está acordado, vou passar o celular. 

— Não, Sab... 

— Noah? — Escutei a voz do meu pai — quanto tempo não escuto sua voz.

— Pai... Tudo bem? 

— Não é a melhor hora pra fazer essa pergunta — Riu — estou melhorando e você? Se metendo em alguma confusão? 

— Acho que nem preciso responder... 

Então meu pai falava com uma voz calma pela primeira vez comigo, aquele que me criou com tanta rigidez parecia bem frágil agora e acabei gostando de ver esse lado. 

Quando desliguei soltei um suspiro aliviado e subi as escadas vendo a porta de Sina entreaberta, entrei e vi ela sentada na cama apenas pensativa. 

— Eu liguei pra Sabi... Falei até com meu pai. 

— E se sente melhor? 

Seus olhos azuis tinha uma esperança diferente, era algo bonito de se admirar quando ela demonstrava, acabei sorrindo de lado e assenti, não demorou pra que esboçasse um sorriso parecendo esquecer completamente nossa última discussão. 

Eu não iria agradecer, mas sentia que no fundo ela sabia que havia mudado minha noite, então decidi lhe dar uma breve trégua. 

— Boa noite, Sina. 

— Boa noite, Noah.

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𝐭𝐡𝐞 𝐡𝐞𝐚𝐫𝐭 𝐰𝐚𝐧𝐭𝐬 𝐰𝐡𝐚𝐭 𝐢𝐭 𝐰𝐚𝐧𝐭𝐬 |𝐧𝐨𝐚𝐫𝐭Onde histórias criam vida. Descubra agora