𝘁𝗿𝗶𝗻𝘁𝗮 𝘀𝗲𝗶𝘀

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SINA DEINERT



Quando deu meia noite, ainda segurava o relógio nas minhas mãos, havia acabado de completar um mês que eu sabia sobre o Lúpus e agora as horas pareciam estar sendo contadas.

Eu sei que não significa que irei morrer amanhã, mas me apavora o fato de um simples dia tenha que abandonar Destiny, deixá-la aqui sozinha assim como minha mãe teve que me deixar, não queria isso pra ela.

Assim que tive que encarar Noah novamente, me senti com 18 anos, estranhamente me apareceu um frio na barriga e uma vontade quase incontrolável de abraçá-lo quando ganhou aquela luta.

— Ainda acordada?

Ergui o olhar vendo Noah se apoiar na porta do quarto cruzando os braços, assenti e deixei o relógio na comoda ao lado da cama.

— Estou com insonia nos últimos tempos.

— Destiny acordou, mas acabou de voltar a dormir, pediu pra que eu viesse te dar boa noite.

— Ela sabe quando estou triste— Sorri de lado— nunca deixei Destiny ver suas lutas, mas sempre gravava o final pra ela assistir, ver todo mundo gritando seu nome e você feliz.

— Acho que ela deve achar que meu trabalho é ser ovacionado.

Acabei rindo e aos poucos ele se aproximou sentando ao meu lado, tínhamos ainda muito o que conversar e eu aceitaria toda a raiva que ele sente, fui injusta quando apenas deduzi que seria um mal pai e que nunca poderia mudar.

— Sempre imaginei como ela seria, quando me mandou aquelas fotos foi até estranho como acertei— Me encarou— se parece muito com a gente.

— Ela também é boa de briga, vai descobrir quando recusar algum doce.

Nos olhamos por um momento, acho que pensávamos a mesma coisa: as coisas poderiam ser muito diferentes agora.

— Eu te amava, Noah... Mas nunca iria arriscar ela pra ficar do seu lado.

— Não me peça pra te perdoar agora, porque não consigo, mas no fundo eu entendo você— Desviou o olhar— e é muito injusto saber que alguém importante assim está doente.

— Me promete que vai cuidar dela caso algo aconteça, seja em dois meses ou dez anos...

Noah deslizou a mão pela cama até encontrar a minha, segurou firme e voltou a me olhar nos olhos, acho que estava de frente com outra pessoa, um cara que estava sabendo controlar as suas emoções e principalmente, tentando mostrar pela primeira vez o melhor que tem.

— Eu prometo.

*

No dia seguinte estava na cozinha preparando panquecas quando Destiny apareceu na cozinha e pulou no meu colo, senti uma dor terrível nas costas, mas apenas sorri a enchendo de beijos.

— Temos que voltar pra Oxford hoje. — A avisei

— Eu quero ficar mais.

— Posso ir com vocês— Noah apareceu na cozinha— só tenho outra luta mês que vem.

Destiny se animou quase de imediato, acho que Noah a comprou com alguma boneca, Simon também apareceu na cozinha deixando um beijo na minha testa e pegando a garotinha por saber que nos últimos dias minha coluna está péssima.

— Vou sentir saudades das duas— Ele admitiu— mas Noah pode cuidar de vocês por mim.

As despedidas foram complicadas, mas logo estávamos no carro de Noah a caminho de casa, Destiny havia dormido no meu colo enquanto minha cabeça estava apoiada na janela, uma rádio de músicas antigas tocava, até que anunciaram "The Chain - fleetwood mac".

— Lembra quando comprei o disco dessa banda? — Perguntei — Você disse que era nosso, até estranhei ter deixado pra trás.

— Eu separei pra levar embora, mas achei que deveria ficar com você.

Pude ver um sorriso da parte dele pelo espelho enquanto a música ainda tocava e quando chegou o refrão não pude evitar de lembrar de nós. Eu ainda posso ouvir você dizer; Que nunca quebraria a corrente

Suas mãos apertaram o volante, acho que ele fazia a mesma coisa que eu, mas isso acabou quando parou na frente de casa.

Destiny acordou animada por saber que brincaria com o filho da vizinha, assim que correu pelo jardim pra ir até ele que escorregava no brinquedo, senti uma coceira no pescoço e logo Noah veio até mim.

— Por que está me olhando assim?

Sem sua resposta, ele apenas tirou meu cachecol e sua expressão de surpresa me deu minha resposta, as manchas voltaram.

— É normal, só preciso cuidar e caso piore vou ao hospital... Fico doente as vezes, não tem muito o que fazer.

— Parece bem machucado.

Ele tocou de leve eu senti arder, o afastei de mim e entrei dentro de casa começando a me sentir fraca, ainda me esforcei pra tomar banho e ao sair procurei por uma pomada pra passar nas machas, depois de olhar para Destiny pela janela, me esforcei pra não coçar os malditos machucados.

— Quer ajuda?

Me virei e Noah entrava no quarto, encarou um porta retrato meu com Destiny e sorriu de lado.

— Posso fazer sozinha.

— Mas não precisa.

Decidi me dar por vencida e o entreguei a pomada, sentei na cama e ele ficou frente a mim tentando não ser bruto enquanto cobria os avermelhados com o remédio, quando desceu a alça do meu vestido pra cobrir o último machucado minha mente me traiu lembrando de nós dois juntos e não havia como evitar isso quando suas íris verdes se voltaram pra mim.

— Dói muito?

— Agora não tanto, isso alivia bastante.

Noah estava tão próximo e nem fazia questão de desviar o olhar do meu, com cuidado subiu a alça do meu vestido ainda sem quebrar o contato visual e soltou uma respiração pesada.

— Não precisa se preocupar comigo, só com ela.

— Mas eu quero me preocupar com você.

— Só espero que não queira insistir no mesmo erro do passado.

— Não sei, eu adoro fazer tudo errado— Ele sorriu— você sabe disso melhor que qualquer um.

— As coisas não são como antes.

— Bem, você continua teimosa— Deu de ombros— parece que as coisas continuaram as mesmas.

Me permiti sorrir e aos poucos ele se afastou me dando um último olhar antes de sair do quarto, eu queria... mas não podia fazê-lo sofrer mais do que já fiz, não quero cogitar em mais uma pessoa sofrendo pelo meu problema.

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𝐭𝐡𝐞 𝐡𝐞𝐚𝐫𝐭 𝐰𝐚𝐧𝐭𝐬 𝐰𝐡𝐚𝐭 𝐢𝐭 𝐰𝐚𝐧𝐭𝐬 |𝐧𝐨𝐚𝐫𝐭Onde histórias criam vida. Descubra agora