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Todos, em algum momento, temem a morte. As vezes esse medo se manifesta com o medo do escuro, de lugares altos, de contato. Mas todos esses medos, todos os receios e bloqueios que alguém cria com isso, vem com o medo da morte. Medo do que tem no escuro possa te matar, ou que possa cair do alto, possa ser assassinado por alguém.

E o mais incrível, é que ninguém entende a morte, existe diversas explicações religiosas, sobre espírito, pós vida, céu e inferno, mas nem uma destas te faz entender a morte.

É um fim? Um meio? Tem um motivo para que nossos corpos tenham sido feitos para serem tão frágeis? Tem algum motivo para nascermos já morrendo?

Ou a morte era apenas uma consequência?

As pessoas merecem morrer?

Aurora agora estava deitada, já não sentia mais o frio, já não sentia mais a dor, sua visão se tornava turva, mas conseguia distinguir os cabelos dele a sua frente, seus olhos verde musgo, saberia quem era não importava onde estivesse.

— Aurora, fique comigo — Sua voz não era mais que um sussurro borrado, como se tentasse falar dentro d'água — Não vá. Aguente mais um pouco, minha querida.

Tentou levantar a mão, mas essa parecia tão pesada, toneladas a prendia ao chão. Quando sua mão foi tão pesada?

Se sentia tonta, agradeceu pelo chão abaixo de seu corpo. Sua cabeça já não entendia tudo o que passava por ela.

Tantas memórias, mágoas e desejos. Explodindo de pensamentos turbulentos e impetuosos, cada um tentando se colocar acima do outro. Um guerra se movia na sua cabeça.

— Precisamos ir — A voz de Madson parece tão distante, mas de um jeito que faz Aurora rir, parece doce e preocupada.

Quando Madson foi uma pessoa doce?

Sua risada foi fraca, engolida por uma pontada na barriga.

Então lembrou do tiro. Da sensação que a queimava de dentro para fora.

Queria poder dizer que estava bem, que tudo estava bem, que não sentia mais dor, que a bala não devia tê-la acertado.

— Aurora — A voz dele em seu ouvido — Por favor — Um súplica, tão desesperada e verdadeira. Sentia suas palavras, o peso delas, o quanto ele realmente queria — Por favor.

Aguentou suas forças, concentrando todo seu controle para levantar o braço, deixando que ele caísse duro no pescoço do príncipe.

— Eu... te amo Samuel — E sorriu. Não entendia por que dizia aquelas palavras, por que entre tudo o que podia falar disse isso. Mas de algum jeito, parecia certo.

— Não faça isso comigo. Por favor.

— Desde aquele momento... — Era difícil falar. Pensar — Em que você apareceu na minha frente.

Com Serena. No dia que ele surgiu brigando com Serena. Como sentia sua falta, como pensou nela nessas últimas horas.

E agora sabia que ela estava ali, eu algum lugar. Aquela garota doce e destemida, sua melhor amiga, a melhor pessoa que conhecia no mundo e da qual mais magoou.

— Serena — Chamou. Percebeu que as bochechas da garota estavam vermelhas, como seus olhos. E se perguntou se estava chorando também.

— Me perdoe Aurora — Disse a menina, seu rosto tão próximo, seus olhos cinzentos abertos, seus cabelos pálidos caindo pelo ombro — Me perdoe pelo que eu disse, pelo que eu fiz e como te tratei. Eu sinto a sua falta, desde aquele momento, quando eu fui embora, eu sentia a sua falta — Sua voz falha, engasgada — Eu nem tive tempo de agradecer, quando você foi até meu quarto, tentando se desculpar, tentando concertar... — Ela gaguejava — Ninguém nunca fez isso para mim, ninguém nunca se importou comigo o bastante para ir atrás de mim para se desculpar. Obrigada Aurora. Obrigada por ter sido essa pessoa.

Eu serei a Rainha | ✅Onde histórias criam vida. Descubra agora