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Serena olhou para o sangue que saia do furo na testa de Gustavo, a poça chegava aos seus pés, vermelho escarlate e quente. Não correu, não gritou ou bateu no homem, apenas ficou ali, travada, cada parte de seu copo, seus músculos e veias. Todos travados.

Se sentiu uma criança, perdida. Não conseguia deixar de olhar, quando mais queria desviar, mais olhava. Olhava e olhava. Como se fosse a única coisa que soubesse fazer.

Não ouviu as sirenes da policia, não ouviu o arrancar do carro quando ele foi embora, apenas olhou para o corpo a sua frente, como se ainda pudesse memorizar seu rosto, como se conseguisse descobrir que era tudo mentira, mas não era.

Então começou a dor, não era sobre seus joelhos ralados, mas seu peito, o corpo inteira, era como se o sangue se recusasse a circular, o ar se recusasse a encher seus pulmões.

Se sentiu vazia, esvaziada, como uma bolsa revirada, com o fundo rasado. Inútil.

Fraca.

Quando a policia apontou uma arma em seu rosto, não se importou, seu corpo apenas começou a revidar quando mãos pesadas tentaram a arrastar. Tentou se afastar, tentou chegar perto do corpo, cuidar, deixar que ele dormisse em seus braços. Era isso que Gustavo estava fazendo, estava dormindo, tendo sonhos em que os dois fugiam juntos e formavam uma família. Uma que seria feliz.

Estavam a puxando, estavam puxando ele, como se ele fosse apenas um saco de farinha, queria gritar "Não toquem nele!" mas sua garganta engolia as palavras, tentou falar, tentou gritar.

— Você o matou? — Perguntou o policial da arma.

Então vomitou, suas pernas amoleceram a fazendo cair direto no chão duro, seus joelhos sangram, não liga. Não liga para porra nem uma que aconteça com sua vida. Só queria Gustavo de volta, só queria poder ver ele sorrir ou ver como seu cabelo balança no vento. Só precisava sentir suas mãos quentes mais uma vez.

Tentou ir até ele, mas mãos a prendiam como cordas. Então sentiu uma picada no ombro e tudo se aliviou, tudo se tornou escuridão.

Talvez ela fosse assim por dentro.

Verão tentou abafar o choro com o travesseiro, mas sabia que João escutava, ele sempre escutava, mesmo que não fosse frequente

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Verão tentou abafar o choro com o travesseiro, mas sabia que João escutava, ele sempre escutava, mesmo que não fosse frequente. Ele a conhecia, ela o conhecia também, foi assim que ele cresceu, com a presença dela e ela com a dele, inseparáveis, e agora...

— É por você — As palavras mal saíram da sua boca, as lagrimas a cobrindo. Disse mais para si mesma do que para ele.

Tu sabe que eu faço tudo por você.

Quando finalmente adormeceu os sol faltava pouco para nascer.

A manhã veio agressiva, a persiana mal cobria o sol que batia direto em seu rosto, mas não foi isso que lhe acordou, quando deslizou para fora da coberta era a campainha que a chamava. Correu sem se importar do pijama que usava. Estava quente em Enderlyn Ville, onde vivia, uma cidade costeira do Sul.

Eu serei a Rainha | ✅Onde histórias criam vida. Descubra agora