CAPÍTULO 5: EVOLUÍDOS

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7 de Janeiro de 2021 - 20:04

Eu havia mandado o velho Opala SS 1974 que meu avô havia me dado para o conserto, ficou deveras caro mas se vô Antônio estivesse vivo e visse o estrago que Seis fez nele com certeza o mataria com a força do ódio. Eu dirigia tecnicamente bem, já que fui ensinado a conduzir em carros horrivelmente velhos e travados, mas eu os adorava mesmo assim, foram bons professores.

Eu passava pelo centro de Aurora em direção ao bairro de gente rica que Jorge morava, ele me pediu pra ir lá para conversarmos mais detalhadamente sobre tudo que pedi a ele, também aproveitando que sua família estava fora e não iria atrapalhar nosso papo.

Mesmo eu morando em Aurora há alguns anos a cidade parece mudar tanto que nunca abdico de usar o GPS, eu já me perdi indo pra casa uma vez, então eu evitava passar essa vergonha.

Ao passar do centro da cidade e me aproximar da casa de Jorge o ambiente muda quase que instantaneamente, as casas se tornam bem projetadas e limpas, estrada bem asfaltada, grama aparada nos jardins, parecia um condomínio que fui uma vez onde morava meu colega de faculdade Vinícius, pena que ele se mudou de lá. Dirijo mais alguns metros e vejo a direita, onde o GPS indica ser a casa do Subtenente. Estaciono enquanto admiro a grande casa que ocupa quase o quarteirão inteiro, quatro pilastras interligadas por vidraças inox com um pilar que se estende de ponto a ponta na parte de cima as ligando, simetricamente no meio há um portão branco gradeado com detalhes em espirais no centro e o interfone fica logo ao lado dele. Eu desço do carro apreciando novamente a vista e vejo casa à dentro uma espécie de varanda numa sala do segundo andar, ela se estende um pouco pra perto de onde estou, a proteção envolta da varanda também é feita em vidro, fazendo com que seja possível eu ver Jorge sentado e uma fumaça saindo de perto dele, fumar não era algo que eu esperava do Subtenente, eu nem toco o interfone, grito igual uma criança pedindo para a mãe abrir o portão:

- Ei Jorge - Eu aceno notando que ele me viu - Abre aí.

Eu aguardo um pouco até que desço do carro.

Espera, como assim?

Eu havia acabado de sair do carro e pedido a Jorge para abrir o portão. Sacudo a cabeça dando soquinhos de leve nela enquanto fecho a porta do carro. Ao "novamente" me aproximar notei que Jorge está exatamente igual, ouço minha mente dizer: "Tá vendo o que essas merdas que você toma tão fazendo comigo?".

Sacudo a cabeça de novo e "repito" minha ação, pude ver que Jorge usava uma espécie de sobretudo azul escuro indo casa a dentro para abrir o portão. Ouço um estalo e vejo que o portão se mexeu, vou na direção dele, entro e fecho.

Há um caminho de pedras ladrilhadas indo até a porta da frente; à esquerda e direita há grama e nos cantos da casa há arbustos grandes da altura do muro. Vejo o Subtenente abrindo a porta de entrada agora notando detalhadamente vejo que ele usa pantufas também azuis, blusa branca e samba canção por debaixo do que mais parece um roupão agora de perto, ele segura um enorme charuto entre os dedos da mão esquerda.

- Boa noite Victor - Ele estende a mão direita em minha direção.

- Boa noite Subtenente - Eu sorrio e aperto sua mão.

- Bom ver você.

- Igualmente.

Ele passava uma vibe estranhamente alegre, além de tudo que havia feito por mim eu sentia nele um afeto de parentesco, como se ele fosse um tio ou padrinho meu.

- Entre - Diz ele largando minha mão, se virando e indo casa adentro - Não se esqueça de fechar a porta.

Eu executo o que ele diz e o sigo.

A Sexta PeçaOnde histórias criam vida. Descubra agora