CAPÍTULO 18: EGOÍSMO

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10 de Janeiro de 2021 - 07:50

Cheguei em casa durante a noite e fui dormir, acordei bem cedo e comecei a organizar tudo que eu havia descoberto no painel negro na parede do meu quarto.

A primeira carta dizia que as mutações genéticas geram os Evoluídos, e por esse motivo os indivíduos com genes antigos como os das pessoas da África Central possuem as mutações mais severas em seu DNA, isso talvez explique a minha etnia, eu era Daniel Vicent descendente de Anaya, a Deusa do Espaço-Tempo que nasceu com a habilidade da Onsciência, essa habilidade tinha duas vertentes a Onisciência do Espaço e a onsciência do Tempo, ambas eram enlouquecedoras mas Anaya soube controlar; com o tempo passando Anaya foi vista como Deusa pelos povos antigos da África Central. O que danificou a habilidade de Anaya foi que ela não sabia que sua habilidade era passada a seus filhos. O primeiro filho receberia o poder da Onisciência do Espaço e o sexto filho o poder da Onsciência do Tempo, seria então essa a menção sobre tornar-se a sexta a peça que Seis escreveu naquele bilhete? O sexto filho é a sexta peça, então pela lógica eu, Daniel seria o descendente desse sexto filho portando o poder da Onisciência do Tempo. Mas isso não faz sentido, como Seis se intitula Seis? Ele quer meu poder pra ele?

Eu preciso continuar minha linha de raciocínio antes que tudo se confunda.

"O sexto filho seria irônico como o tempo, irônico como seis". Essa menção na carta não fez muito sentido pra mim, logo eu precisava continuar e ver quais peças se encaixavam. Logo após os filhos de Anaya, o primeiro e o sexto brigaram, e seus poderes não eram tão enlouquecedores quanto os da mãe, então eles se separaram em duas vertentes religiosas e se mantiveram assim por bastante tempo.

Eu suponho que minha mãe, é estranho falar mãe, minha progenitora, melhor assim, era portadora da habilidade da Onsciência do Tempo e eu seu filho era o portador atual dessa habilidade. Então quer dizer que meu filho vai possuir a habilidade e eu vou perdê-la? Ou será que eu vou morrer? Suposições não me levaram a nada, eu preciso voltar a organizar a linha do tempo dessa história.

Avançando no tempo e supondo que as linhas genéticas do primeiro e sexto filho se mantiveram separadas eu sou descendente do sexto filho e de Luiza Fernandes Vicent, e Seis é descendente do primeiro filho, portador da Onsciência do Espaço, isso explica as habilidades dele e a teoria mais forte que martela minha mente é que Seis quer que eu passe meu poder para ele ser forte como Anaya foi, mas não sei qual método ele utilizaria para fazer isso.

Indo para a investigação mais atual, Luiza não estava de férias com Júlio como as notícias diziam e sim estava com o Condutor, Júlio e vô Antônio foram atrás dela e nisso eu, "eu", é estranho pensar que eu sou Daniel, mas não posso ficar com essa confusão na criação da minha tese.

Daniel Vicent foi vítima de uma tentativa de sequestro, mas Luiza Fernandes Vicent usando sua habilidade "quebrou o tempo" e me salvou, nesse instante haviam duas Luiza Fernandes Vicent, uma que foi encontrada por Júlio e Antônio e outra que "quebrou o tempo".

Meses após, a Luiza Vicent que não "quebrou o tempo" permaneceu desaparecida, mas eu sei pela carta que ela escreveu que ela permaneceu sumida porque a Instituição do Condutor foi invadida e ela precisava ficar escondida de uma tal "Instituição Norte-Americana". Ela também se isolou para poder estudar seus poderes e cuidar de uma criança que era portadora da outra parte da habilidade, esse com certeza é Seis. Seis era criança nessa época, ou seja, ele tem uma idade semelhante a minha, número de suspeitos foram reduzidos ao pensar nesse detalhe.

E pensar que minha mãe preferiu cuidar de Seis do que de mim, que exemplo.

Pare de pensar com os sentimentos, isso estraga a sua tese.

Penso comigo mesmo.

Outro ponto a ressaltar é a coerência no que Seis me disse, provavelmente ele me mandou aquela mensagem sobre "não confiar nelas", em referência a Nalanda e Camila e também disse para eu ficar longe do condutor, dizendo que fez experimentos com ele.

Eu já estava calejado o suficiente pra saber que heróis e vilões não existem, todo mundo tem o misto de bem e mau dentro de si e o Condutor tentar me esclarecer as coisas não anula ele fazer experimentos com uma criança, o que não anula também que essa criança, Seis, matou a única pessoa que eu tinha um vínculo familiar. Ambos provavelmente tinham suas motivações e fariam o necessário para cumpri-las.

Eu penso nisso enquanto estou fazendo a minha tese de maneira fria e racional, mas emocionalmente quero que Seis e o Condutor se fodam.

No dia 6 de Janeiro de 1999 o outro incidente conhecido como "Dia do Acerto" fez com que Júlio Vicentino, meu pai, falecesse num acidente de carro, que provavelmente foi forjado, a carta diz que ele serviu de sacrifício, para que Luiza Vicent que "quebrou o tempo" pegasse Daniel Vicent e o levasse a um orfanato. Enquanto isso, Luiza Vicent que não "quebrou o tempo" estava com o Condutor cuidando de Seis e estudando seu poder da Onisciência do Tempo, ou melhor nosso poder, ao mesmo tempo que estava se escondendo da "Instituição Norte-Americana".

Aí eu fiquei no orfanato até ser adotado como Victor, Seis fugiu do Condutor quebrando todos os dados sobre ele e agora eu estou aqui, chorando.

As lágrimas desceram tão discretamente sob meu rosto que eu só percebi quando elas escorreram até minha bochecha. Eu estava no meio de um furacão, quando eu pensava que poderia resolver isso e ter meu filho com Luiza, Luiza, agora paro pra pensar e noto que coincidentemente a mãe do meu filho tem o mesmo nome da minha mãe, um riso me escapa em meio às lágrimas e eu largo as anotações grudadas no painel.

Seis disse: "uma pausa para as pinturas", isso provavelmente significa que ele não vai cometer os mesmos crimes de novo tão repentinamente, e como os crimes estavam em par,

Máquina de Tetris no assassinato de vô Antônio liga-se ao Cinema Drive-In onde o jovem casal foi assassinado, no Cinema Drive-In tinham os diversos "-2" que indicavam seis meses menos dois dias para o assassinato de Saulo Ford, esse crime possuía referências a derrota nazista que se ligava ao Dia D e o assassinato do meu professor Fausto.

A única coisa que tinha no assassinato de Fausto era essa "pausa para as pinturas", mas eu sinceramente não queria ir atrás disso, estava cansado, e como algo dentro de mim dizia que essa pausa seria de seis meses, como foi a anterior, eu só queria descansar e por um fim ao meu sofrimento. Aproveitar o resto das férias da faculdade, trabalhar em outros casos para me sustentar e ir atrás de Luiza para ser feliz com ela.

O que me impedia de ser egoísta assim, deixar as mortes de lado e seguir minha própria vida?

A Sexta PeçaOnde histórias criam vida. Descubra agora