CAPÍTULO 24: ILUSÃO

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- Luiza? - Digo com a voz trêmula.

- Agora você entende meu amor? - Ouço agora a voz de Luiza - Meu nome não é Luiza é Isabel, o poder não é passado a mim, o poder de nós dois será do nosso filho.

Eu dou um riso baixo, e após alguns segundos começo a gargalhar e minha risada ecoa por todo o apartamento do meu amigo morto.

- Está rindo do que? - Diz ela enquanto se aproxima me olhando de cima - Nós ainda podemos ficar juntos e trazer nossa mãe de volta.

- É irônico pensar - Eu falo enquanto as gargalhadas saem involuntariamente pela minha garganta - Que a única coisa que eu tinha era você, e até isso foi uma ilusão.

- Não é uma ilusão meu amor - Ela se ajoelha com dificuldade e passa a mão que não segura a arma pelos meus cabelos - Eu ainda te amo do fundo do meu coração, nós podemos ser felizes e trazer ela de volta.

- Foda-se ela! - Mais gargalhadas minhas ecoam pelo ambiente - Eu não me importo mais.

Eu sabia o que ia acontecer, minha habilidade permitia, eu ia avançar para tomar a arma da mão dela, mas ela atiraria no meu braço, se eu fosse tentar imobilizá-la o processo de parto começaria e eu cederia em ajudá-la. Eu imagino todas as possibilidades e sei o que fazer, a habilidade me permite.

Eu pulo em cima do pescoço dela e ela sem tempo de reação deixa a arma cair longe, eu fico em cima dela enquanto sufoco seu pescoço, vejo ela agonizando tentando pegar a arma eu a chuto para longe.

O rosto dela ainda era o rosto que eu me lembrava, o rosto de quem eu podia amar e ter um futuro, mas a única coisa que tinha me restado também era uma ilusão. Sinto ela se debatendo mais e mais e as imagens de vô Antônio, Jorge, Fausto e Fred vem em minha mente, o ódio é incessante, até eu entender o que ela tem a dizer em meio aos engasgos:

- No...no...no...sso - Eu folgo minhas mãos de seu pescoço - Nosso filho, está na hora.

Eu olho para trás e vejo uma poça de água escorrendo do meio das pernas dela. A bolsa havia se rompido. Eu num solavanco coloco as mãos na cabeça olhando para os lados tentando processar o que fazer.

Até me lembrar que eu sei o que eu devo fazer, eu já vi isso.

Vejo Luiza agonizando e fazendo o trabalho de parto, eu levanto e rasgo suas roupas num instinto veloz e vejo a cabeça do bebê saindo devagar. Enquanto ela se esforça eu fico imóvel esperando a criança sair, minhas mãos estão geladas e cheias de sangue até que sinto a cabeça quente do meu filho encostar nelas.

Ela se esforça mais e mais e o bebê começa a sair por completo enquanto eu o puxo devagar, ela parece ter desmaiado e eu seguro o pequeno menino nos braços enquanto estou ajoelhado. Seu choro irrompe o apartamento e junto a isso ouço o som de viaturas se aproximando.

Mais um crime sem solução na cidade de Aurora.

Eu coloco o bebê no chão da cozinha, afastado dos corpos de Fred e Luiza e faço uma escritura no chão acima dele com o sangue de Luiza.

Deixo ele lá chorando e agonizando enquanto escuto sons de pessoas se aproximando pelos corredores do prédio e mais viaturas chegando do lado de fora da janela.

Eu vou na direção da arma, a pego e percebo que Luiza fala:

- Nã...nã...não faz isso - Ela estica o braço em minha direção - Ele é especial, o nosso fi...

Eu atiro na cabeça dela antes dela terminar de falar uma palavra sequer.

Eu não me importo mais, eu sabia o que ia acontecer, comigo com Luiza e com a criança, minha habilidade estava desperta.

Eu ponho a arma em minha boca e penso novamente:

A única coisa que eu tinha era ela e até isso foi uma ilusão

E num estouro do gatilho tudo fica preto e o som do mundo inteiro se apaga.

A Sexta PeçaOnde histórias criam vida. Descubra agora