CAPÍTULO 12: RETORNO

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10 de Janeiro de 2021 - 00:51

A viagem havia sido tranquila, eu cheguei em Goiânia por volta da meia noite, aluguei o primeiro Celta cinza mais barato que apareceu e estou agora quase chegando a Poente do Sul. A estrada era assustadora durante a noite, sinto que estou entrando num túnel sem a vista de seu fim, o farol ilumina as laterais da pista e eu consigo ver as árvores retorcidas ao lado da pista que fazem o ambiente ficar ainda mais assustador.

Logo após passar por uma estação da polícia rodoviária (aparentemente abandonada, como todas as outras por aqui) eu consigo ver no horizonte as luzes da pequena cidade, uma incrível nostalgia percorre todas as minhas memórias e eu sinto como se fosse criança de novo, quando eu e vô Antônio viajámos e eu via essa mesma paisagem do banco do carona.

- Lembranças claras como o dia - Digo a mim mesmo.

A rodovia corta Poente do Sul ao meio e a chácara do meu avô fica logo após a entrada da cidade. Eu passei pela rotatória e entrei na segunda saída na direção da entrada da chácara. A cidade está diferente, a rodovia foi duplicada, há casas novas à minha esquerda, porém felizmente a chácara vista de longe está do mesmo jeito.

Eu entro na direção da porteira que fecha o primeiro mata-burro, desço do carro, abro a porteira e já consigo sentir o familiar cheiro da chácara. Quando havia animais aqui o ar puro e gelado era estragado pelo cheiro de merda de vaca, mas agora não mais.

Mesmo que o farol do carro estivesse iluminando a porteira foi difícil abri-la, com certeza vô Antônio mandaria eu comer mais feijão, como sempre fazia quando eu demonstrava fraqueza. A porteira de madeira se abre após meu esforço, eu volto na direção do carro coloco-o para dentro passando por cima do mata-burro, volto, fecho a porteira e sigo com o carro na pequena estrada de terra que há na direção da chácara.

A estradinha de terra corta o antigo pasto ao meio até haver outro mata-burro, após passa-lo há uma descidinha que foi difícil de conduzir. Eu entro com o carro na área aberta logo após a pequena descida, mais a frente há uma grande mesa de madeira com diversas cadeiras. Eu desço do carro, pego minhas coisas, sigo a área fazendo uma curva para a esquerda onde no final há um tanque onde eu vou para deixar minhas roupas sujas, volto para onde as cadeiras e a mesa estão e vou na direção da porta que leva para dentro da casa.

A área é totalmente aberta, dá pra ver o pasto, várias árvores, o limoeiro com os melhores limões do mundo, olhando mais para o fundo do terreno é possível notar onde ficava o chiqueiro.

Eu respiro fundo novamente, destranco e abro a porta de ferro que range com um carro velho, essa porta dá na cozinha, que também está limpa e conservada como tudo do lado de fora.

Mesmo que eu não viesse aqui há bastante tempo e vô Antônio tivesse morrido, eu pagava um amigo que tinha uma pequena empresa de faxina para manter tudo limpo. Bruno era alguém de confiança que me ajudava quando eu apanhava na escola, um dos poucos amigos que me restou, foi ele quem me deu o relógio que uso atualmente.

Eu estava só de samba canção e fui na direção da área de novo para pegar minha mala, assim que voltei para a cozinha fechei a porta. Indo na direção esquerda da cozinha havia a sala com uma velha TV de tubo em cima de um raque ainda mais velho e dois sofás que eu havia dado de presente avô Antônio.

Do lado direito havia um quarto de hóspedes e logo após a porta do meu quarto, mais a frente ainda à direita havia uma outra sala de estar e no fim do corredor ficava o quarto de vô Antônio, ao lado da porta do banheiro que fica à esquerda.

Antes de fazer qualquer coisa eu abro a porta do quarto de vô Antônio e vejo que está bem arrumado contendo apenas uma cama de casal e um guarda roupa como sempre foi, simples. Eu abro o guarda roupa e dou uma olhada nas coisas, o cheiro dele ainda permanece e uma saudade vem me martelando aos poucos. Ao abrir a primeira porta do guarda roupa onde ficam os utensílios do meu avô como perfumes, pentes, cremes há um amontoado de cartas presos por liguinhas de borracha, eu pego o monte e vejo que a primeira carta possui um selo com o número seis, automaticamente eu a jogo de volta e fecho a porta, se tem algo que eu desenvolvi nos últimos dias foi fobia ao número seis, e essa coincidência eu não suportaria, passei a vida toda sendo seguido por essa porra de número desgraçado.

Eu vou na direção do banheiro, tomo um banho quente e relaxante e logo após sigo até o meu antigo quarto, abro a porta e ele está exatamente igual. Um guarda roupa à direita, uma cama de casal e a janela de metal branca na parede oposta à porta.

Eu nunca fui de ter muitas coisas, gostava do simples assim como meu avô, a ideia de possuir coisas de mais gera bagunça e meu Q.I. é limitado. Após analisar meu quarto, deixei minha mala no canto, pendurei a toalha na porta e me deitei na minha confortável cama dura. Parece um paradoxo e realmente é, eu adorava aquela cama que parecia feita de pedra, vô Antônio dizia que fazia bem pra coluna e como eu cresci sem dor alguma suponho que ele estava certo.

Eu me deito colocando o travesseiro embaixo da cabeça e quando a hora de nanar estava quase me chamando, meu celular vibra em meu bolso, eu o pego e uma mensagem do meu antigo professor Fausto que me chamou até aqui diz: "A operação do último planeta será realizada hoje!".

Eu mandei uma sequência de interrogações, aguardei alguns segundos e sem resposta o sono me consome.

A Sexta PeçaOnde histórias criam vida. Descubra agora